QUERIA SER UMA MOSQUINHA, MADDIE

 Maddie. Se estás vivas, que algo providencie para que apareças, sejas libertada, revelada. Se estás morta e tens acesso ao que se passa entre nós, ajuda os bons a estabelecerem a verdade. O mais rápido possível. Apelo a ti, que suponho, viva ou morta esteja em um mundo que não é o nosso, o dos espíritos e das crianças. Pois custa tanto crer, que toda a invasão de toda a privacidade, de todos quantos são alvo de interesse, que toda a curiosidade não sirva para se chegar a algo tão simples, tão universal, tão antigo, a verdade. A verdade ainda existe? Ou também é relativa como tudo? Bendita fosse curiosidade mórbida do paparazzi que invadisse a privacidade do criminoso e nos revelasse a verdade. Sei que todos os factos possuem a sua aparência, sua “verdade” ficcional, interpretada, autónoma, a sua superfície. Um facto contado nunca será o facto ocorrido. Mas a verdade, no caso do teu desaparecimento, Maddie, é uma só, a que perseguimos, a que esperamos, a que queremos conhecer, a que não conseguimos atingir, apesar de tantos ensaios de verdade que fazemos todos os dias quando ligamos no telejornal.

Em torno do teu episódio nesta vida, e da tua procura, acontecem disputas, questões de afirmação, problemas de sobrevivência humana extremos, descompasso entre os poderes. Há quem conheça a verdade e esteja sob a mordaça da lei, há quem não saiba e a queira desvendar, há disparidades entre interpretações de quem tenta juntar informações e arrumar um puzzle. Quem pensa, formula. Quanto menos se sabe mais se especula, mais se erra e se influencia erradamente as opiniões. Quanto menos se sabe, mais a verdade está protegida. Com quem está a verdade? Dependendo da resposta, pode não ser justo proteger a verdade. Não nos poupe, Maddie. Como sonho que a viragem dos últimos dias, neste início de Setembro, que aponta tudo contra os teus pais, Maddie, seja uma manobra conjunta entre as polícias inglesa e portuguesa, para distrair o raptor, para que ele se descuide e apareça, seguro de que o mundo segue a pista errada. Até o Vaticano retirou o caso do site, após o papa ter recebido os teus pais em ocasião especial, num esforço extraordinário das relações exteriores do governo inglês! Os teus pais são assassinos ou protegem alguém? A pista do rapto foi abandonada e o raptor relaxa. Seria tão bom, Maddie! Especular também é buscar a verdade e sonhar com a melhor das verdades. Maddie, você viva, sendo resgatada, como num final feliz de sequestro no Rio de Janeiro ou em São Paulo… provando que a humanidade ainda é algo mais do que um conceito.

Perguntas, que é o que nos resta. Como é possível que a probabilidade de rapto tenha sido quase totalmente abandonada? Aos olhos e ouvidos do público, foram. Mas na verdade não foram. Para isso seria preciso haver certezas, pontos fixos de certeza a serem ligados. E se existem queremos saber. E se essas certezas parciais chegam de maneira torta até ao conhecimento dos que se perguntam diariamente onde está a menina, é porque foram sonegados, ainda que com a melhor das intenções, a de preservar as investigações. Interessante que a Comunicação Social seja tão questionada, contraditoriamente, depois de ter sido usada por todos os actores do caso, e bem usada. Os pais constataram o desaparecimento da criança deram o alarme, a Praia da Luz soube, Portugal e a Inglaterra souberam, o mundo soube. A imprensa foi utilizada para isso. E agora as perguntas que todas as pessoas do mundo fazem – que têm de longe volume bem maior do que as da imprensa, debaixo da censura da lei, mas obrigada a especular em nome do compromisso com o público – são minimizadas como disparates ditos por figurantes no set de gravação de um filme de suspense. Parece haver uma defasagem nas leis quanto a uma verdade inquestionável: vivemos a era da comunicação instantânea, da informação dinâmica, das avaliações rápidas, das formulações precipitadas e exigentes, da interactividade. E a imprensa, mediador da informação liberada e da verdade confirmada, altar da imparcialidade, encontra-se sob o risco de ser ultrapassada pelas pessoas, como público, cidadão, ou outra classificação qualquer. A confusão parece estar em que o público reage mais rápido, questiona mais rápido, quer respostas eficazes, e exige da imprensa que esta seja mais ágil na busca da verdade e exija mais velocidade da justiça. Aí parece estar o problema: a justiça subestima a interactividade. No caso do desaparecimento de Maddie, como em outros, a justiça não ganha novos motores. A cautela justifica os atrasos, o mau funcionamento, a ineficiência e a lerdeza, inclusive em informar? Na falta de respostas, mais perguntas se produzem e se confundem. Estamos em um vácuo informativo, onde a imprensa parece se encontrar no mesmo nível do público em questionamento, quando deveria estar alguns níveis acima. Reduzida a fingir que é espectadora da justiça a imprensa interpreta e informa verdades pontuais, que se cruzam com as questões do grande público. É por isso que a imprensa dita sensacionalista continua a contar a história das sociedades, nas suas entrelinhas. “Não sabemos tudo… sabemos mais do que podemos dizer… “ são impressões trocadas entre jornalistas e fontes especializadas. A imprensa me está a esconder alguma coisa, parece saber mais do que diz e ainda afirma isso. Refém da justiça, cúmplice involuntária do culpado e causadora da nossa ansiedade em nome dos segredos de justiça. A verdade provada é necessária, devemos ser pacientes, mas há limites. Qualquer dia crio um jornal pessoal e vou investigar os segredos de imprensa. Era o que faltava…

A justiça é cautelosa ou é mesmo lenta na disponibilização da verdade? Posso perguntar o que quiser. Não acompanha o nível do interesse do público (cidadão) de hoje? Sim, pois vamos lembrar de que as pessoas quando são exigentes, questionadoras e até invasivas, são classificadas como público. Quando são ponderadas e confiantes na justiça, são caracterizadas como cidadãos. E a imprensa?! Se anda rápido demais, especula e divulga informação não liberada é irresponsável, manipuladora. Se demora a satisfazer a curiosidade do público, é conciliadora e sonegadora da verdade. Vai entender a imparcialidade. Alguém ainda consegue lembrar quem inventou esta balela semântica? Queremos a verdade, ou muitas verdades por dia até chegarmos a final. Que a imprensa nos represente nesta busca incessante e diária, que pulse connosco em todos os questionamentos que fazemos em casa, nas esquinas e nos cafés, que leve até a justiça a nossa sede de saber. Será, Maddie, que só mesmo tu sabes onde estás? Impossível. Nós, o público, somos culpados pela nossa famigerada curiosidade, a imprensa é culpada por tentar satisfazê-la, errando ou exagerando muitas vezes. Os teus pais, arguidos por uma justiça que não nos explica os porquês, comos e porondes. A polícia, a justiça e as leis são culpadas por serem lentas demais, perto da nossa velocidade. E o verdadeiro culpado? O que te raptou ou te matou? Queria ser um paparazzi virtual, interactivo, uma mosquinha, para invadir os espaços interditos onde estão escondidas as verdades. E te resgatar.


Ana Lúcia Araújo
A media no público

 

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