Histórico do Acampamento João Batista
Em fevereiro, cerca de 30 camponeses tomaram um burareiro no município de Cujubim – RO e montaram o Acampamento João Batista. A área estava abandonada, inclusive os camponeses já tinham pedido vistoria para o INCRA desde 2008, mas como não tiveram resposta, tomaram por conta própria.
O juiz Danilo Augusto Kanthack Paccini convocou uma audiência para ouvir as duas partes do conflito, mas nem se deu ao trabalho de tentar disfarçar seu posicionamento totalmente favorável à fazendeira Maria da Penha. Aos gritos, histérico, disse que no Acampamento não havia sem-terras, apenas bandidos. O acampamento está na região de Cujubim que desde 2008 vem sofrendo com a Operação Arco de Fogo do Ibama, Polícia Federal e Força Nacional que fechou várias madeireiras, jogando a própria sorte centenas de trabalhadores e acabando com pequenos e médios comércios das cidades. O depoimento de um dos acampados ilustra bem esta situação: “Eu morava em Cujubim e trabalhava numa serraria. Depois que a Força Nacional e Polícia Federal fecharam várias madeireiras eu fui demitido. Conheci uma pessoa que me informou sobre o novo Acampamento e disse que lá eu poderia conseguir um pedaço de terra para trabalhar. Como eu não tinha saída, fui para o acampamento.”
No dia 4 de março a PM e a Polícia Ambiental acompanharam 8 pistoleiros ao Acampamento. Eles não tinham nenhum mandado, apenas a ata da audiência com o Juiz de Ariquemes. Revistaram bolsas, barracos e objetos pessoais. Apreenderam 10 foguetes, fotografaram as placas de motos, pegaram documentos de todos e ainda ameaçaram voltar a qualquer momento e queimar todos os barracos com os pertences pessoais dentro. Após a saída dos policiais os pistoleiros começaram a atirar contra o acampamento, comandados pelo filho da fazendeira Maria da Penha.
Na mesma noite, o filho da fazendeira e seus pistoleiros retomaram a sede da fazenda. Eles portavam armas ostensivamente, inclusive um adolescente de cerca de 15 anos, paravam todos que passavam pela estrada e ameaçavam.
Dias depois os camponeses do acampamento foram despejados por policiais do GOE e PM de Ariquemes e Cujubim e por pistoleiros. Os camponeses acamparam fora da fazenda e continuaram sendo atacados pelos pistoleiros.
No dia 12, a fazendeira Maria da Penha, seus dois filhos, sua nora e mais 4 pistoleiros fortemente armados atacaram um grupo de camponeses que tomavam banho no rio. Todos conseguiram fugir, menos um jovem que foi pego e levado para a sede da fazenda. Lá ele foi torturado, levou vários chutes no rosto e por todo o corpo e um golpe com o cano de uma espingarda que lhe deixou um vergão no peito e pescoço. Queriam que ele informasse quem era o líder do acampamento, mas ele respondeu que não sabia, que todos os camponeses estavam acampados com o mesmo objetivo.
Depois que ele foi liberado, um camponês foi até Cujubim e denunciou o fato para a PM.
Às 10 horas da noite, o camponês Pelé e duas camponesas representantes do Acampamento João Batista chegaram de táxi no local onde os camponeses estavam acampados. Eles tinham ido denunciar a situação do acampamento na sede da LCP, em Jaru, para a representante da Ouvidoria Agrária Nacional, Sra. Márcia, do Incra de Rondônia e para o presidente Luiz Inácio que esteve em Porto Velho , no dia 12. Quando o táxi parou para deixar as duas representantes do acampamento, a fazendeira Maria da Penha, seus parentes e pistoleiros apontaram armas para os ocupantes do carro, reconheceram o Pelé e obrigaram-no a deitar no chão. Os camponeses se juntaram revoltados e num momento de distração dos pistoleiros, Pelé conseguiu fugir para a mata. O filho da fazendeira deu 5 tiros de pistola 9mm e dois atingiram a perna do camponês que conseguiu escapar. A fazendeira e os pistoleiros deram vários tiros na direção do Pelé e ameaçaram acha-lo aonde ele estiver e mata-lo.
Pouco depois, o camponês que tinha ido denunciar em Cujubim chegou acompanhado de policiais da PM, Polícia Federal e da Força Nacional. Eles ouviram as denúncias dos camponeses e viram as cascas das munições disparadas pela fazendeira e pistoleiros, mas como sempre, nada fizeram.
Os camponeses foram todos para o Acampamento vizinho Terra Boa, aonde Pelé foi chegar arrastando, no dia seguinte, às 3 horas da tarde. Ele não é líder do Acampamento João Batista, estava apenas apoiando a luta pelo sagrado direito à terra, como sempre fez. Pelé é uma liderança camponesa antiga de Rondônia e disputou a última eleição para vereador por Cujubim. Ele é odiado por latifundiários da região, já foi preso e processado diversas vezes e escapou de vários atentados.
Latifundiários e madeireiros de Cujubim se juntam para reprimir camponeses
Outros latifundiários e madeireiros da região de Cujubim estão se unindo, montando grupos de pistoleiros e atacando camponeses. Em abril de 2008 os camponeses do Acampamento Terra Boa e da Área Lamarquinha foram atacados por pistoleiros que chegaram fortemente armados, ameaçando mulheres e crianças. Dois camponeses foram levados para a sede da fazenda e torturados. Até hoje ninguém foi punido.
Esta tem sido a dura realidade enfrentada pelos camponeses de Rondônia e várias partes do país que lutam pelo direito à terra. Exigimos punição para a fazendeira Maria da Penha Della Libera e todos outros latifundiários envolvidos em crimes de pistolagem na região. Exigimos a liberação imediata das terras dos Acampamentos João Batista e Terra Boa. O camponês Pelé está correndo risco de morte, avisamos que qualquer coisa que aconteça a ele ou a qualquer camponês será de inteira responsabilidade do Incra e todo o governo Lula que tem os meios para resolver este conflito e não faz nada!
Conclamamos a todos camponeses, trabalhadores da cidade, estudantes, democratas e lideranças populares a denunciarem estes crimes do latifúndio, da justiça e polícia de Rondônia e apoiar a luta dos camponeses do Acampamento João Batista.
Tomar todas as terras do latifúndio!
Viva a Revolução Agrária!
LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia