Mais de 300 camponeses e ativistas democráticos e revolucionários participaram do histórico e vigoroso encontro camponês em Pau D'Arco, no Pará, entre os dias 28 e 29 de outubro, que reafirmou a consigna Contra a crise, tomar todas as terras do latifúndio! e a justeza da luta pelo sagrado direito à terra.
Ellan Lustosa/AND
Camponeses reafirmaram caminho da Revolução Agrária
O encontro, que ocorreu cinco meses após a chacina e em meio ao terror e as ameaças do latifúndio e seus bandos de pistoleiros, aprovou a Carta de Pau D'Arco, documento de denúncia que reafirma a disposição da luta camponesa pela terra e que será distribuída em todo país, além de uma série de lutas imediatas:
"Declaramos nossa irrenunciável decisão de seguir lutando pela conquista da terra e pelo fim do latifúndio, custe o que custar, para libertar nosso povo camponês da secular exploração e opressão que o submete a classe dos senhores de terra, latifundiários e seus aliados grandes burgueses, através do seu velho e genocida Estado, bem como para libertar a Nação brasileira da subjugação e saqueio de nossas riquezas naturais, que o imperialismo, principalmente o norte-americano, sucessor do colonialismo português e inglês, tem perpetrado de modo continuado."
"(...) A Chacina de Pau D'Arco clama: destruir o latifúndio já, e tudo o que ele engendra de atraso na economia, na política, na cultura de nosso país.
Unir camponeses, indígenas e quilombolas! Com o apoio dos operários e demais trabalhadores da cidade! Varrer todo esse lixo de corrupção, miséria, injustiça, exploração, opressão e genocídio, para conquistar a Nova Democracia e o Brasil Novo.
Que o sangue dos companheiros tombados lutando pela Fazenda Santa Lúcia não seja em vão!"
Foi realizada a exibição do filme Terra e Sangue - Bastidores da chacina de Pau D'Arco e uma solene homenagem aos camponeses tombados na chacina, ecoando em maior decisão das famílias por defender a terra tomada.
Dois grandes cartazes da Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo (FRDDP) ornamentavam o ambiente educando politicamente os camponeses. Os cartazes saudavam o centenário da Grande Revolução Socialista de Outubro na Rússia, e o cinquentenário do Levante Camponês de Naxalbari na Índia, onde iniciou-se a Guerra Popular que até hoje prossegue naquele país.
A Liga dos Camponeses Pobres (LCP) do Sul do Pará e Tocantins, a Associação Nova Vitória (Acampamento Jane Júlia), o Comitê de Defesa das Vítimas de Pau D'Arco (Codevipa), o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia e a Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Gabriel Pimenta foram algumas das organizações que participaram do encontro. Lideranças indígenas (como a do povo Terena) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) também marcaram presença.
DIRIGENTE CAMPONÊS EMBOSCADO
O dirigente camponês Denizart Souza, 54 anos, foi baleado por dois pistoleiros em uma emboscada em Xinguara na manhã de 23/10, sendo atingido por dois disparos de arma de fogo nas costas. O camponês, dirigente da LCP do Sul do Pará e Tocantins, foi encaminhado ao Hospital Municipal de Eldorado dos Carajás. O quadro de saúde do dirigente camponês é estável e ele não corre risco de morte.
No mesmo dia, cerca de 150 camponeses interditaram a BR-155, em local próximo a Área Revolucionária Osmir Venuto, organizada pela LCP, entre o distrito Rio Vermelho e o município de Eldorado dos Carajás.