Histórias que só o Rebate conhece dos anos 30 a 70 so século passado:
AS FARMÁCIAS MACAENSES...
O SENAI DE SEUS INSTRUTORES...
O EXÉRCITO ONDE MAGRO NAO ENTRAVA...
O RÁDIO RABO QUENTE...
As farmácias de Maninho, Siqueira, Hipolito e Edmundo davam suporte artesanal as poucas doenças e, as curas eram todas , na base das manipulação e ervas caseiras.
No interior do municipio “seu” Lauro em Glicério e seu Aguiar na Bicuda seguravam as barras das doenças por lá mesmo em suas farmácias belamente saudáveis e aconchegantes...
Enquanto isso em Quissamã o doutor Germano. nos lombos de cavalos ou em garupa de triciclo ia diagnosticando, fazendo partos e sarando uma população que dificilmente vinha ate Macaé para atendimento.
Antes da chegada das farmácias computadorizada, onde dificilmente o contato entre as pessoas existe, Macaé teve seu mundo vivido por gente que habitava estes locais procurados pelos habitantes e que recebiam o tratamento educado e cortêz que o tempo se encarregou de cimentar.
Alguns nomes de farmacêuticos e gente de farmácia ficaram imortalizados nas memórias macaenses e num simples toque, como num clicar de um computador dentro de nossas consciências vem à tela de nossa visão. As paredes das memórias fazem chegar até os dedos toda a essencia destas vidas vividas...
Hildebrando Barbosa, Almério Marques, Virgílio, Mauro, o Bahiano, Hipólito, pai de Palito, Dodosinho e Alexandre, Edmundo Caetano, Jadyr, José Cláudio Alvarenga em Carapebus, Seu Lauro em Glicério. Seu Aguiar na Bicuda, Seu Siqueira na Praça, Everaldo, José Augusto na Aroeira, Adelermo Marques, o nosso seu Adelermo, Paulo Miranda , Julinho e Hélio Bocão.
Enfim nomes que faziam as histórias serem forjadas, como foram forjadas milhares de histórias em centenas de cidades iguais a Macaé por este mundo afora. Vivências que são idênticas em praças, padarias, barbearias de toda cidadezinha de interior que grava na mente das pessoas. Recordações que às vezes chegam com o próprio cheiro das histórias. Cheiro que se pode sentir o quando bem recordados.
Uma memória transformada em delícias reais faz com que sintamos o perfume dos algodões de sofridas injeções e, ainda o odor do esquentamento das agulhas no fogareiro a álcool tão tristemente olhado por milhares de crianças em todo o mundo.
Quem não tinha medo do acendimento deste fogareiro e não sente o seu cheiro quando lembrado hoje? E olhe que era um fogareiro de tamanho bem pequenino que acesso fervia algumas agulhas e seringas de dois outros tamanhos de acordo com o cumprimento da injeção.
No período eterno entre a fervura do diabólico e saudoso instrumento, havia todo ritual da psicologia que envolvia o farmacêutico, a mãe ou o pai da criança e algum freqüentador assíduo. Toda farmácia tinha algum morador sempre papeando com o Farmacêutico e fazia sempre parte destas conversas que nada mais era que uma forma de “engambelo” para que a criança só chorasse quando tivesse sido fisgado pela agulha rombuda e que nos trás doloridas saudades...
Ainda vejo a cor meio azul do álcool queimando no fogareiro que esquentava as seringas. Sinto ainda o cheio do álcool puro que o algodão levava até minha bunda . Alguém que já levou injecção nas nádegas, que a gente falava que era na bunda, esquece o cheiro do Álcool? afirmo que não.
NO SENAI DA LEOPOLDINA
Denildo, Tonito, Wanderley e Quincas, davam aulas e Seu Higino era o chefe da oficina. Seu Amaral e Rubens Bom Cabelo na Caldeiraria, Mozart Leão. Elétrica, João Gordo, ferraria, Waldyr, carpintaria, seu Orlando, torneiro, Wilson Santos e seu Antônio Garfante na ajustagem , eram os instrutores, todos ferroviários requisitados para nos ensinar as profissões.
Sempre gostei da Ferraria por causa de um 3º anista de nome Mauro. Gente muito doida que fazia com o malho uns sons de batuque que eram proibidos pela rede. Ele deixava a peça ficar em brasa, punha a tenaz em sua volta e, com o malho fazia as estrelinhas salpicarem. Pareciam um lindo céu no entardecer nas frias tardes de Agosto dos anos 53, 54 e 55...
A ferraria, que ficava num canto afastado e era nosso local de estripulias.
Mauro, um grandalhão da ferraria, nos ensinou a dar uma porrada na peça que espalhava fogos por todos os lados e duas na bigorna onde fazíamos o som.
De outra forja eram respondidos os Batuques. Enquanto nós batíamos na peça espalhando estrelinhas, outra bigorna fazia os dois toques e assim por diante, parecia uma orquestra criada por nós.
Até que um dia, uma destas estrelinhas, que nada mais eram que fogo em brasa bem pequenino, acertou um instrutor. Todos que estavam nas paradas foram levados para chefia e suspensos. Mesmos assim agente sempre que podia fazia nossa orquestra tocar. Seu João Gordo dava a maior força , ele adorava os sons. Achava que era uma coisa que dava profissionalismo alegre e ria muito. Era um grande homem seu João Fernandes.
Ele morava na rua do Meio e seu filho Zé Pretinho era nosso colega de peladas. e uma de suas filhas se casou com ZB irmão de Jonas , Jorge e Tita. Soube por Alzair noticias de alguns destes velhos companheiros. Muitos nunca voltaram para Macaé. Dulcilano se dedicou a Musica e era 3º ano. Assim como Olivier que era primeiro ano.
As vezes, nas noites, ainda vejo Dulcilano, Ceceu, Charutinho e outros trazendo o encantamento de seus acordes. Às vezes com Lucas Vieira ao piano e sempre com os olhares profundamente regional e macaense.
ESTÁGIO NA CALDEIRARIA
Os estágios na Caldeiraria e demais atividades eram normais. Na Ajustagem Seu Wilson sempre nos dava um apoio. Seu jeito paterno, conservado até sua morte nos anos 2000, era uma garantia. Era como um irmão mais velho.
Até as brincadeiras que agente fazia, fingindo doença para ir na Enfermaria e ser atendido por Dona Olga, enfermeira da rede. A turma fingia machucado e lá íamos uma galera antes 30 minutos da hora para a Enfermaria. Coisa de menino de 13 para 14 anos que Wilson Santos sabis entender e apoiar...
Dona Olga já sabia e ria quando agente chegava. Enfaixava e deixava de atestado por 3 três dias que o médico Luna sempre abonava com sua tradicional paciência .
Tínhamos passes para férias e sempre que chegava no final do ano todos escolhiam Cachoeira do Itapemirim ou Campos. Alguns iam para o Rio. Só podíamos ir por lugares servidos pela ferrovia. Eu ia para Cachoeira do Itapemirim ou Vitória e, aos 14 anos comecei as andanças por lugares longe de casa. Não cheguei a terminar os 3 anos de SENAI. Fiz o curso de Ajustador Torneiro durante todo o segundo ano e me fixei na profissão de Ajustador, de onde saí faltando 3 meses para terminar.
As l5 anos já tinha uma larga experiência de vivências de estudo e trabalho e um pouco de Rio de Janeiro.
Continuei estudando a noite, morando na tranqüilidade da Rua do Meio e esperando ser chamado para servir o Exército.
ONDE MAGRO NÃO ENTRAVA
Antes da apresentação para o Exército, eu, menino magrinho, continuava a freqüentar as noites macaenses e seus bailes e domingueiras comuns a toda cidade de interior.
As ondas bravias dos Cavaleiros nos empurrava para a Praia de Imbetiba, que era a mais bela praia no centro de uma cidade de interior.
Havia a Praia do Forte mas estava sempre poluída de esgotos e detritos dos barcos de pescas e não tinha muita freqüência..
Era mesmo a Imbetiba de minhas andanças infantis com meu bisavô, que me retornava a existência do belo.
Uma pedra angularmente torneada por milhares de anos de ondas bravias nos proporcionava mergulhos corajosos.
Rodear essa pedra que, era formada de limos verdes e mariscos grandes, era um troféu que muitos de nos gostávamos de erguer na invisível prenda que nos eram apresentadas por outros amigos.
Imbetiba de areia grossas e que tinha fama em todo litoral do Brasil. Dizem que nenhum lugar tinha estas areias como ela.
Não se tinha hora para nada. Almoço depois das 16 horas, penteamento de cabelos, e lá íamos para as tardes e noites onde o entardecer ainda tinha Vaga-lumes, Boas tardes e como você passou o dia ontem. Eram destas recordações que iniciei o ingresso no mundo adulto torcendo para chegar aos 49 quilos e passar no exame do Exército e servir.
Queria vestir a farda que, orgulhosamente meu pai tinha vestido como soldado e que eu guardava numa foto sua com muito carinho. Esta foto mais tarde ocupou a carteirinha de minha filha Aninha, nos fins deste século XX. Aninha guardou a foto de meu pai e nem sei se ainda a tem na bolsa...
Ser soldado era uma questão de vontade e prazer para mim mesmo que nem era tão magrinho mas que ganhei alguns apelidos como Pinguin, Esqueleto Humano, etc. Quantas vezes fui para casa chorando por ser chamado esqueleto... E, de pinguin, outras tantas.
Hoje, ao rever amigos destas época, e sentir ser balbuciado estes apelidos fico feliz e me remonta a linda época de afetivos que não sabia existir ou não entendia existir. Estes dias mesmo, ao passar a pé pelo bairro Miramar, estive com Bujú Tonico. Era pinguin para cá, Bijú para lá e nossa conversa só tinha apelido e que só nós entendíamos. Falamos de Araponga, de Revesso, de Pé de tábua, de Rubens Vela, de Tonho Lepra, de Telmo Jurubeba, de Jorge Sarará, de Maury loucura de Maio, de Sarguinho. De Boca de Bagre, Jorge Paco- Paco, Boca de Latiff, Pé de Porco, enfim de uma enormidade de belezas afetivas que o tempo não cimentou e que marcaram nossas infâncias nos Cajueiros, Rua do Meio e no mundo das poeirentas ruas que habitamos juntos.
Tinoco fazia parte da diretoria do Sindicato dos Aposentados da Rede Ferroviária juntamente com Cascalho, Dandáo e Naná onde ainda se pode ver o trabalho idealista e político que fazem junto aos remanescentes do pilar da historia de Macaé que é a Ferrovia.
As viagens da mente não tem fronteira quando se escolhe o afetivo para ser clicado. Os Cajueiros poderia ser um bairro qualquer de uma cidade que teve um crescimento rápido demais em 30 anos de Petróleo e Multinacionais.
Agora uma coisa a gente não pode negar. As existências humanas que faziam deste bairro a sua verdadeira presença na vida da cidade.
Os velhos moradores, em sua maioria ferroviários e pequenos comerciantes, cimentaram com suas vozes e alegrias as noites claras da Cidade Pura...
Adalton Correia, Nain Ribeiro, Valentin, pai de Zéca e Ozeias, do Bom futebol, Seu Cayal. Suas brigas com Valentin quando havia jogo do Ipiranga com Americano, Isto é historia, saída das nossas ruas mal iluminadas e empoeiradas...
Nico Sardinha, Dinah ( do Rouxinol como Escola de Samba), Leonel... O velho clube Reis que tinha o bar de Tibiriça onde a malandragem nativa ensaiava seus acordes noturnos em pingas com Martine e agua de coco com cachaça...As Tiriricas se espalhavam pelos cantos das calçadas amenizando o sol que batia nos quentes verões da cidade nos anos 50.
Era sempre as presenças arruaceiras de Cata-Quiabo, Manel flor, Zé Dias, Caolho, Frevo, Alberto Chico António, Diabo Comendo Mariola, Flavinho, Nelson Cambuti, Alfredo Boca Torta e outros que a memória vindo serão incorporados em outros capítulos...
Quem não se lembra da briga tratada de Alberto Chico António com um delegado que se dizia valente? Marcaram briga para o Campo de Aviação. Dizem que Alberto saiu preso e o Delegado todo quebrado...
O Cajueiro era o celeiro dos bons malandros nos anos 50 e 40. Assim como a Aroeira e a Barra do Rio Macaé...
AINDA SOBRE O EXÉRCITO
Era um menino que via o mundo pelas portas dos olhares e falas interioranas. Com este intuito fui transformando meu desejo que viria num dia de sol e chuva. Queria servir mesmo. Havia um forte desejo geral em ser soldado nos anos 50.
Não passei nos exames. Não só por usar óculos, como pelo tristeza do peso: 49 quilos com l8 anos.Tinha que ter, no mínimo, 52 quilos Um médico careca de nome Castelo Branco, oficial de patente capitão, me dispensou. De nada adiantou a peixada com o comandante a pedido de amigos de minha avó.
O desejo de ser como meu primo Nelson, de quem todos se orgulhavam por já ser Sargento, com os 17 anos, ficou adiado “sine die”. Só me restava ir tentar Aeronáutica ou a Marinha.
Preferi os conselhos de que era muito perigoso estes servimentos e fiquei por aqui mesmo onde até os l8 anos, vivenciei trabalhos em Cartórios, Escritório de Fábrica. Estudando sempre a noite.
SECOS & MOLHADOS
O comércio de secos e molhados, como era conhecido, trazia vultos macaenses que ate hoje bailam nas memórias de quantos tiveram o privilegio de viver estes anos de pura beleza e confinamento. Nos cadernos se anotavam as compras que sempre eram saldadas religiosamente.
Seu Midão, nas imediações da rua Télio Barreto, e os pais de José Santa Rita; seu Erotildes nos Cajueiros; seu Bilu Miranda na rua do Sacramento; seu Clodovin Graça e seu Sátiro perto do Mercado de Peixes; Dudu Trindade e Leandro Soares, no Centro; João Lins Machado na Rua da Estação. Eles fizeram a história sensitiva da vida comercial de Macaé na metade do século e tiveram, em Elpídio Costa e Amphilophio Trindade os seus pilares na distribuição de algumas mercadorias que estes últimos iam buscar no Rio para revenda.
AINDA SOBRE O EXÉRCITO
Alguém que tenha servido o Exército pode deixar de lembrar das alegres e doces piadas picantes contadas pelo Sargento Darcy, irmão do sisudo tenente Célio e filho de seu Lulu do bicho? Darcy tinha o Dom alegre de fazer das suas brincadeiras, com cara de carrasco, o mundo ficar mais feliz. Quando de sua morte o seu filho Beto recordava comigo algumas de suas piadas. Aos 80 anos, e bem próximo da morte ele ironizava a existência que se esvaia e, numa de suas ultimas brincadeiras, falou que queria que seu couro (sua pele) fosse tirada e que se fizesse com ela cilins de bicicletas para doarem as menininhas.
Era uma de suas últimas criações picantes que nos fazia rever o Aluisio do Hospital da mesma Rua do Meio...
A vida seria muito melhor se toda Rua tivesse um Darcy, um Aluisio ou um Mirian Almeida. A Rua do Meio tinha esta trilogia humana...
As tardes noites nos anos 50 eram animadas pelas músicas vindo de um radio que chamavam de Rabo Quente porque ele esquentava em sua traseira (dele lá...) Haviam barulhos que chamavam de estáticas e as propaganda eram decoradas por todas as crianças. Passa passa o Talco Ross, quero ver passar...