
 Oded Grajew. Foto: Eliane Carvalho
Cidades que não priorizam a vida de seus cidadãos são exemplos da  insustentabilidade em um mundo onde 85% das pessoas vivem em meios urbanos,  onde os problemas vão da mobilidade à desigualdade.
 “Uma cidade sustentável é uma cidade com qualidade de vida para todos, que  melhora ao longo do tempo.” Assim definiu o ativista social Oded Grajew ao  falar no Programa Cidades Sustentáveis, uma iniciativa da qual é um dos  idealizadores, que tem o objetivo de traçar uma agenda de desenvolvimento  sustentável para as cidades brasileiras.
 Atuais e futuros prefeitos têm à disposição no site do Programa um conjunto  de metas e indicadores, que vão da poluição à violência, passando pelo uso  eficiente dos recursos naturais, saneamento básico e saúde. Com exemplos  práticos, o Programa dá ferramentas para que os municípios se desenvolvam de  forma econômica, social e ambientalmente justas.
Com uma trajetória que o credencia a falar do assunto, Oded é presidente  emérito do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos de Empresas e  Responsabilidade Social, sócio-fundador do movimento Todos pela Educação e  idealizador do Fórum Social Mundial, entre muitos outros movimentos de seu  extenso currículo.
 Nesta entrevista Oded conversa com a jornalista Alice Marcondes, da  Envolverde, sobre o que é uma cidade sustentável e o caminho que os governos  devem percorrer para chegar neste objetivo. Confira a íntegra da conversa.
 
 Envolverde – Qual a importância das cidades para a sustentabilidade  do planeta?
 Oded Grajew – As cidades são fundamentais para a  sustentabilidade do planeta. Cerca de 85% da população mundial mora em  ambientes urbanos e é lá que a maior parte dos produtos é consumida, que as  energias são utilizadas. O que acontece nas cidades é fundamental para a  sustentabilidade.
 
 Envolverde – O que é necessário para uma cidade ser considerada  sustentável?
 Oded Grajew – A gente entende como sustentabilidade a  qualidade de vida para todos, não só para alguns, e que seja crescente ao longo  do tempo, que não decresça. A insustentabilidade é você entupir a cidade de  carros, diminuindo a mobilidade, poluindo o ar, aprofundando a desigualdade e  esgotando os recursos. Quadros como este geram uma qualidade de vida  decrescente ao longo do tempo. A ideia é se desenvolver, crescer, mas  melhorando ao longo do tempo a qualidade de vida para todos.
 
 Envolverde – Quais são os princípios do Programa Cidades  Sustentáveis?
 Oded Grajew – Trabalhamos com conceitos, para que as  pessoas entendam de maneira concreta o que significa uma cidade sustentável.  Elaboramos a Plataforma, uma agenda que aborda aspectos sociais, ambientais,  econômicos e políticos. Vendo a Plataforma, a pessoa entende o que uma cidade  precisa fazer para ser sustentável. No site tem indicadores, que permitem medir  em que estágio a cidade está e qual o ponto que se precisa atingir. Colocamos  casos de referência. É como você olhar para a saúde e saber como ela está.  Existem conceitos gerais e o médico utiliza indicadores, como por exemplo, o colesterol.  Ele sabe o que é uma referência positiva e uma negativa e sabe o que precisa  ser feito para chegar no patamar da referência positiva. É mais ou menos assim  que a Plataforma funciona. Mostramos o que é ideal e damos exemplo de como  algumas cidades conseguiram chegar lá.
 
 Envolverde – Esses indicadores foram calculados com base nas  experiências de outras cidades?
 Oded Grajew – Os indicadores foram escolhidos olhando  várias experiências nacionais e internacionais. Procuramos olhar onde no mundo  já se atingiu excelência em cada um dos indicadores. Consideramos também as  recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU). Por exemplo, a poluição.  Medir a concentração de partículas de enxofre no ar é um indicador. Outra coisa  é dizer o que é desejável. Então, nesse caso, o objetivo é o que a Organização  Mundial da Saúde recomenda. Outro indicador é o desperdício de água na rede  pública. Em São Paulo a perda é de 26%. A base de referência, ou objetivo a ser  alcançado, é Tóquio, onde o desperdício é de 13,1%.
 
 Envolverde – Qual o papel da população e do governo no processo de  evolução para uma cidade sustentável?
 Oded Grajew – Cada um tem que agir no seu âmbito. O papel  da sociedade civil é cobrar e aplicar no seu dia a dia, em casa, no trabalho,  nos locais onde realiza suas atividades. As pessoas têm que procurar olhar a  agenda e ver como levar para a sua rotina. Cada um tem que fazer a sua parte,  além de cobrar que o governo faça também. No caso do governo, é preciso aplicar  na gestão. Por isso nós desenvolvemos o Programa. Agora, no processo eleitoral,  estamos pedindo que os candidatos se comprometam com a agenda. O  comprometimento se traduz em estabelecer as metas das cidades olhando esses  indicadores. Por exemplo, ver quanto de água é desperdiçado na cidade, e  estabelecer objetivos. Se é desperdiçada 20%, até o final da gestão o prefeito  se compromete a reduzir pela metade, ou seja, 10%. Isso sempre olhando o caso  exemplar, que como falei, nesse item é Tóquio.
 
 Envolverde – Aqui no Brasil, tem alguma cidade que está mais  avançada na questão da sustentabilidade?
 Oded Grajew – Temos vários exemplos, mas não conhecemos  todas. Não falo de maneira geral, de cidades mais sustentáveis, mas de avanços  em pontos específicos. Curitiba é um exemplo em termo de mobilidade, Niterói e  São Caetano têm ótimos índices em redução da mortalidade infantil, Porto Alegre  se destaca em quantidade de áreas verdes, enfim, são muitos bons exemplos.  Estão todos no site, no Banco de Boas Práticas.
 
 Envolverde – Falando de São Paulo, em qual o aspecto a cidade está  mais atrasada, que daria mais trabalho para o próximo governante atingir as  metas de referência em sustentabilidade?
 Oded Grajew – O pior problema de São Paulo é a  desigualdade. Ela está na origem de todos os grandes problemas. Os empregos e  serviços públicos estão superconcentrados em alguns locais da cidade. São Paulo  tem 96 distritos, mas mais da metade deles não tem um hospital, ou equipamento  cultural e esportivo, não tem área de lazer, nem parque. Então as pessoas têm  que andar distâncias enormes para ter acesso a trabalho, lazer, cultura,  esporte e tudo mais. As pessoas têm que andar mais para ter acesso, o que  significa problemas na mobilidade da cidade, congestionamento, poluição, baixa  qualidade de vida, desperdício de energia e mais emissões de CO2. A  desigualdade, que está na origem da violência, das baixas condições de  qualidade de vida, da péssima mobilidade, da baixa qualidade do ar, reflete na  questão da saúde, e assim por diante. (Envolverde)

 
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  




























