O dilema dos hidrocarbonos raros

t11 O dilema dos hidrocarbonos raros
Exploração petrolífera em Cutral Có, localidade situada na bacia neuquina. Foto: IPS/Photostock

 

A Argentina deve considerar a quanto chegam suas riquezas de gás e petróleo não convencionais e quais serão os custos econômicos e ambientais de sua exploração.
Buenos Aires, Argentina, 14 de maio de 2012 (Terramérica).- Uma imensa jazida de gás e petróleo presa na rocha-mãe, e cuja exploração traz consigo grande impacto ambiental, será o maior desafio da YPF, a empresa petrolífera argentina que voltou a ser controlada pelo Estado. Especialistas de diferentes áreas da engenharia e da economia do petróleo se entusiasmam com a perspectiva destas descobertas, embora alertem que o preço a pagar pode ser muito alto.

“Há indícios indiretos da presença de reservas na Argentina, mas isto só saberemos com certeza quando se avançar na exploração”, disse ao Terramérica o economista Roberto Kozulj, da Universidade Nacional de Rio Negro. Kozulj, especializado em economia do petróleo, afirmou que os obstáculos são o valor do investimento necessário e o risco ambiental, pelo consumo de grandes quantidades de água, energia e substâncias químicas para extrair estes recursos.
Segundo o informe Anuual Energy Outlook 2011, divulgado em abril do ano passado pela Administração de Informação e Energia (EIA) dos Estados Unidos, a Argentina é o terceiro país com maior potencial geológico para este tipo de hidrocarbono, depois de China e Estados Unidos.
O estudo analisou a viabilidade de 48 bacias em 32 países e estimou que na Argentina poderiam ser extraídos 774 trilhões de pés cúbicos de gás (TFC), 60 vezes mais do que as convencionais atuais do país. As jazidas estão em quatro bacias, mas a neuquina é a mais promissora. Ali se encontram as formações Vaca Muerta e Los Molles, que se estendem pelo subsolo de quatro províncias: Neuquén e Mendonza, no oeste, La Pampa, no centro, e Rio Negro, no centro-sul.
O governo de Neuquén já tem alguns dados sobre o potencial da região obtidos em estudos preliminares, afirmou o economista Ariel Carignano, da Universidade Nacional do Camahue, em seu estudo O que é gás não convencional? Aspectos básicos e desenvolvimento na Argentina, de novembro de 2011. Este documento aponta que, mesmo com um “alto grau de incerteza”, estudos da subsecretaria de Mineração e Hidrocarbonos de Neuquén estimam em 170 TCF o gás recuperável de Vaca Muerta e entre 130 e 192 TCF o de Los Molles.
A eventual exploração permitiria aumentar a produção de combustível, criar empregos e desenvolver novas tecnologias, mas com um grande impacto ambiental. Este é o dilema da nova YPF, após a expropriação de 51% de suas ações, que estavam nas mãos da petroleira espanhola Repsol até o dia 3 deste mês, quando foi aprovado o projeto de lei que a presidente Cristina Fernández enviara em 16 de abril ao parlamento. Assim, a YPF, criada pelo Estado argentino em 1922, volta à órbita estatal em uma sociedade anônima na qual também intervêm empresas privadas nacionais, estrangeiras e acionistas da bolsa de valores.
A medida está fundamentada na forte queda da produção e das reservas de petróleo e gás, provocada pela falta de investimentos, que obrigou a Argentina a importar grandes volumes de combustíveis desde 2010, perdendo seu caráter de país autossuficiente. Agora, “o principal desafio está em aproveitar a oportunidade, mitigando o impacto ambiental”, dizem os engenheiros químicos argentinos Mariana Matranga e Martín Gutman em um artigo publicado na revista eletrônica Voces en el Fénix. Sua análise Gás e petróleo não convencional: perspectivas e desafios para seu desenvolvimento na Argentina menciona as oportunidades que a exploração traria, mas alerta que o efeito na natureza “se coloca como um grande sinal de interrogação”.
O gás depositado nos pequenos interstícios de camadas de rochas de xisto (shale gas, em inglês) é da mesma qualidade que o convencional, porém é mais difícil de ser extraído. A técnica para isso recebe o nome de fratura hidráulica e consiste em uma perfuração vertical até uma profundidade que pode chegar a milhares de metros e, depois, de buracos horizontais de aproximadamente mil metros de extensão ao longo da formação rochosa.
Nessas perfurações são injetados grandes volumes de água e substâncias químicas sob enorme pressão, junto com areias de fratura projetadas para manterem abertas as gretas que se formam e facilitar a saída do gás. O mesmo ocorre com o fluido que se aloja em areias compactas e extremamente impermeáveis, em inglês tight (apertado), e com o petróleo localizado em rochas de ardósia ou areias de baixa porosidade e impermeabilidade, conhecido como shale oil ou tight oil.
Matranga e Gutman explicam que até há dez anos era impossível extraí-los, mas hoje existe a tecnologia, desenvolvida principalmente nos Estados Unidos e no Canadá. Porém, alertam, países ou províncias optaram por suspender a exploração desses depósitos enquanto não se esclarecer o alcance do dano que pode ser causado ao meio ambiente.
A água residual da fratura hidráulica contém substâncias radioativas e metais pesados que devem ser tratados, e a operação pode contaminar camadas de água doce, o solo e o ar, alertam os especialistas. Além disso, o envolvimento de milhares de caminhões de transporte de água, máquinas, recursos humanos e infraestrutura para esta produção provocará “um acentuado aumento das emissões de gases-estufa”, acrescentam os engenheiros.
Um informe publicado em outubro de 2011 pela Academia Nacional de Engenharia da Argentina, intitulado Gás de reservatórios não convencionais: estado de situação e principais desafios, coincide com as advertências dos dois engenheiros químicos da Universidade de Buenos Aires. Para dar uma ideia da magnitude da empresa, a Academia afirma que “o esforço de desenvolvimento de fornecedores, tecnologia e recursos humanos (necessários) é semelhante ao que a Argentina teve em seu momento em matéria nuclear”.
A tecnologia de sísmica 3D, a perfuração horizontal e o uso intensivo da fratura hidráulica já estão desenvolvidos e poderiam ser aplicados para começar a produzir em cinco anos combustíveis que hoje estão sendo importados a preços elevados. A partir deste desenvolvimento poderiam abrir-se oportunidades de exportação de engenharia e serviços para a China, que teria grandes existências desses hidrocarbonos, ou produzir na Argentina areias de fratura para exportar para outros países da região, diz a Academia.
No entanto, também destaca sua preocupação com a “conservação e proteção da água e o uso de produtos químicos”. Sobre a quantidade de água necessária, aponta que o primeiro poço de produção de gás de xisto em pequena escala aberto em Neuquén exigiu 16 caminhões bombeadores de forma simultânea que esgotaram sua capacidade. A isso, prossegue a Academia, acrescenta-se que o declínio da produção neste tipo de jazida costuma ser mais acelerado do que em depósitos convencionais.

* A autora é correspondente da IPS.

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