Cinismo não é necessariamente desfaçatez. O acordo de Lula com Paulo Maluf para o apoio do ex-governador à candidatura Haddad à Prefeitura de São Paulo não é um ato de cinismo político. É pura desfaçatez. Maluf não sabe o que é vergonha, não tem, nunca teve. Lula simulava ter, jogou fora de vez.
A "mágoa" de José Serra, candidato tucano, é dor de cotovelo. Tentou impedir a aliança de todas as formas, queria o apoio de Maluf.
No fundo são iguais. PSDB e PT separados pelas disputas eleitorais e nada além disso.
Alianças políticas são compreensíveis. Lenine, por exemplo, trata do assunto em diversas passagens. Não significa que se deva perder a compostura para chegar ao "feio é perder eleições".
É o jogo do clube de amigos e inimigos cordiais no arremedo de democracia que temos.
A renúncia de Luíza Erundina depois de superar pressões de seu partido, de Lula e apelos de Haddad resgata um bem precioso na política. A coerência. Resgata a vergonha.
Há que se ter uma lata de lixo imensa para que possa caber tanta desfaçatez e sacos de lixo resistentes, para que as vergonhas não apareçam, ou sejam dissimuladas nesse simulacro de avanços que não existem.
O jogo eleitoral é uma farsa, deve ser visto como instrumento de forças populares e não como fim ou objetivo. Do contrário vamos acabar aceitando essa farsa e incorporarmos que Lula é Paulo Maluf e Paulo Maluf é Lula.
São. Selaram essa face da desfaçatez em um aperto de mãos. Haddad é só um boneco que Lula quer fazer prefeito de São Paulo, na ambição de voltar à presidência.
A cote Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, que segundo a assessoria de José Serra foi o "responsável" pela "perda" de Paulo Maluf. Alckmin dá o troco a Serra, que governador em 2004, na hora agá pulou do barco de sua candidatura a prefeito e em nome de sua também ambição de virar presidente, pulou no barco da candidatura de Gilberto Kassab.
Com um detalhe nessa estranha confraria incestuosa. Serra era o prefeito que renunciou para ser candidato a governador e Kassab o seu vice.
Em 1950 o antigo PSD, braço do getulismo à direita, lançou a candidatura do mineiro Cristiano Machado a presidente da República. Mas votou em massa em Getúlio, candidato do PTB.
Nasce aí o termo "cristianização", que em política significa sacrificar alguém.
Na prática, olhando bem atentamente, os grandes sacrificados nesse jogo são os trabalhadores, os que pagam as contas tanto da privataria tucana, como agora também da privataria petista (Dilma, em nome da Copa do Mundo vai privatizando aeroportos e lógico, por extensão, o Brasil).
Breve Carlos Cachoeira cantando de galo e colocando ordem nas coisas, decidindo quem fica em cima do poleiro. Já arranjou um habeas corpus, não demora arranja outro.
Em 1955 se cantava que "a água lava tudo, só não lava a língua dessa gente".
Nem o caráter. É movediço. E o balaio é um só.