As gravações de conversas do senador Demóstenes Torres com o banqueiro (banqueiro claro, todo banqueiro de jogo de bicho, ou de banco comercial, de investimentos, etc, é criminoso - "o que é um assalto a um banco diante de um banco?") Carlos Cachoeira permitem uma constatação clara, a relação empregado/empregador.
Cachoeira o patrão, Demóstenes o empregado. O mandato de senador é o campo de atuação de Demóstenes. Como o cargo de ministro do STF de Gilmar Cachoeira Dantas foi obtido dentro desse esquema, ainda no governo FHC.
Comprar a mídia em todo esse processo, ainda mais se tratando de VEJA, é detalhe para Cachoeira, para qualquer empreiteiro, banqueiro, ou grande empresário. O que varia é o preço. O grupo GLOBO é mais caro, mais sofisticado e VEJA, ao contrário, funciona como funcionavam os pistoleiros do antigo oeste e os daqui, quando se trata de matar lideranças de trabalhadores sem terra, por exemplo.
A mídia de mercado é podre por genética. É de mercado e isso basta para exibir e deixar patente o caráter rasteiro desse tentáculo das quadrilhas que detêm o controle acionário do Estado brasileiro.
O depoimento de Demóstenes Torres prestando diante da CPMI na terça-feira foi um primor de cinismo e deboche. A expressão de inocente do senador é algo impressionante, essa gente atinge a perfeição em matéria de cara de pau. Seja ele Demóstenes falando, sejam as edições de VEJA, ou seja William Bonner no JORNAL NACIONAL.
Demóstenes alegou inocência, pediu para ser julgado pelo que fez e não pelo que falou, enviou indiretas a Carlos Cachoeira ao falar em traição e no mais falou sem dizer nada.
Alegar inocência é praxe entre criminosos. Não custa lembrar a história do califa que ao visitar uma prisão em seu país ia perguntando aos presos qual o crime e ouvindo o clássico "sou inocente, fui condenado injustamente". Quando ouviu de um preso que ele era culpado e estava ali justamente, mandou chamar o carcereiro, soltar o homem enquanto dizia - "o único que falou a verdade aqui".
As indiretas a Cachoeira dizem respeito ao seu futuro já que deve perder o mandato de senador. Se não perder é o cúmulo da desmoralização. Quer garantias que vai ser jogado aos leões, mas ao mesmo tempo leões desdentados que nenhum dano maior vão lhe causar e principalmente, assegurar um futuro tranqüilo, uma espécie de aposentadoria.
Vira o bode expiatório da quadrilha, das quadrilhas temerosas de serem envolvidas no esquema e aceita passivamente a situação em troca de uma aposentadoria tranqüila.
O resto foi "tro lo lo lo" como costuma dizer José Serra, um dos apavorados com a CPMI, ou com a possibilidade de investigações sérias, isentas e profundas. Está imerso num mar de corrupção, corrupção é a sua praia, só que teme perder o pé e afogar.
O deputado Cândido Vacarezza votou contra a quebra do sigilo nacional da DELTA, empresa cujo diretor passou uns dias com Sérgio Cabral e família em Paris. Já havia mandado mensagem a Cabral hipotecando solidariedade. É compreensível o voto.
O risco para essa gente da CPMI aprofundar suas investigações, dos resultados virem a público é o temor de uma profunda indignação popular que coloque em risco os empregos de deputados e senadores eleitos a partir de campanhas financiadas por gente como Cachoeira.
Quem? Ora, bancos - sem exceção. Grandes empreiteiras como Norberto Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, OAS, todas. Grandes corporações empresariais numa época em que se constrói um "país" para a copa do mundo e os negócios são fabulosos, de bilhões.
Desmanchar essa estrutura de um Estado onde os bandidos têm a maioria das ações. Mostrar de público o que é a mídia de mercado. Expor deputados e senadores que são meros empregados desses grupos, o que leva a maioria do Congresso ao desespero.
Salvar a pele de governadores corruptos como Sérgio Cabral, Marconi Perillo, Agnelo Queiroz, de ex-governadores como Aécio Neves, José Serra, do atual de São Paulo Geraldo Alckimin, do tal procurador geral da República que não procura nada, pelo contrário, contempla a mulher com favores na Procuradoria e usa a mulher para a tarefa de engavetar, salvar o esquema inteiro.
De quebra, evitar que outras quadrilhas, no caso do Estado do Rio a de Anthony Garotinho, da "quadrilha de deus" se apossem dos "negócios".
Tudo isso está em jogo e é por causa disso que Demóstenes tem condições de obter uma boa aposentadoria - nos velhos tempos seria executado -, o papel de bode expiatório, de anel nesse monte de dedos montado na farsa democrática que temos.
Quebrado o sigilo nacional da DELTA começam a existir condições de apurar toda a extensão dos fatos que transborda a Cachoeira, provoca cheias arrepiantes no meio empresarial, financeiro, entre latifundiários, mas não significa que tudo vá ser apurado.
Há sempre um Vacarezza no meio da história. E há sempre um pateta padrão Lula para cair no esquema das raposas. Raposas do lado contrário e raposas que se assentam à sua mesa.
Inócuo o depoimento de Demóstenes. Não trouxe nada de novo, nem se esperava que trouxesse. Falou o previsível e pronto.
E nessa arenga toda a CPMI avança a passos de cágado enquanto o trabalhador é ludibriado e trabalha em condições de escravo, por exemplo, no absurdo chamado Belo Monte.
Estamos chegando perto de uma encruzilhada. CPMI do Cachoeira ameaçando os grandes grupos econômicos do País. Comissão da Verdade despertando a ira de militares torturadores e latifundiários dispostos a irem à luta por um código florestal que lhes permita desmatar tudo o que possa ser desmatado.
Já os brasileiros... Bem dançam enquanto acreditarem em VEJA, no JORNAL NACIONAL, etc. Que acham que democracia é isso que temos.
O clube de amigos e inimigos cordiais? Desarma as bombas relógios que ameaçam os negócios e garantem a impunidade geral.