E TENHO QUE AGUENTAR ISSO - COLGATE

O conceito inicial de tevê paga, seja por satélite ou cabo, é que quem paga fica livre dos comerciais. Aceitá-los numa dosagem razoável, dois minutos (Jânio nas suas loucuras tratou desse assunto, mas em relação à tevê aberta), tudo bem. Uma concessão que se faz e não mata ninguém. Como está se torna insuportável e em alguns canais o tempo dedicado aos comerciais ultrapassa cinco minutos.

Pior é perceber que sumiu a ética na odontologia. É evidente que não se pode generalizar e atribuir à categoria como um todo o festival de comerciais vendendo desde escovas, àqueles produtos que deixam o dente mais branco ou cremes dentais mágicos.

A odontologia é parte da saúde pública, mas do jeito que vai os dentistas que se mantêm íntegros vão acabar sufocados pela turma que trabalha no estilo LTDA ou S/A em comum acordo com indústrias de produtos odontológicos.

Deve haver um jeito, um conselho, de evitar que telespectador seja feito de idiota. De repente é "colgate" que proporciona dentes brancos, mata os germes e bactérias, protege por doze horas, em seguida é "close up" que cumpre esse papel, tudo com a escova tal, campeã de cabeçadas e enxaguando a boca com um trem sempre com nome em inglês que é uma espécie de atestado de credibilidade como o dentista que segura a escova, ou vende a pasta.

É um escárnio isso. Eu não compro nenhum dos produtos anunciados por dentistas em comerciais de tevê. E, chato, faço campanha contra sempre que posso, ou que o assunto vem à baila, pois percebo que não sou só eu indignado com essa absoluta falta de ética a que se prestam alguns profissionais da área.

Pense num médico vendendo para o telespectador um determinado remédio para dor de cabeça, outro falando das excelências do concorrente, pior ainda quando se dispuserem a vender produtos contra diarréia, etc.

Não há sentido e nem há respeito pelo cidadão, como não se dão ao respeito os profissionais que se prestam a esse papel.

É negócio, apenas negócio.

E há duas ausências nesse tipo de negócio podre. A do conselho que deve tratar desse assunto junto à categoria, coibir, como da ANVISA (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA).

Há tempos se ironizava, talvez hoje ainda, que somos um País de banguelas.

Uma parte dos profissionais da área só atende e trabalha movido a dinheiro e ainda financiado por multinacionais que fabricam esses produtos miraculosos (desde que se possa pagar).

Com certeza está entre os mais lucrativos negócios do mercado e azar dos profissionais que respeitam a ética, ou o juramento da profissão.

Em plena ditadura militar o general Ernesto Geisel, "presidente", irritou-se com aquela parte das letrinhas miúdas e proibiu-as. Ou a propaganda, do que quer que seja, traz todas as condições anunciadas de um jeito que quem assiste possa entender, tomar conhecimento da íntegra da oferta, inclusive o que vem escondido nas letrinhas miúdas, ou não traz.

Cremes dentais pelas palavras de dentistas trazem promessas de dentes brancos, boca livre de germes e bactérias, proteção por meio dia (doze horas), em três ou quatro produtos diferentes, é possível até que sejam todos da mesma empresa. Esse tipo de canalhice é comum e corriqueiro. Não deveria e nem pode ser.

Não sei se esses profissionais têm compromisso com a saúde bucal, com a profissão que exercem, ou entendem apenas que é tudo uma questão de mercado, a lógica da concorrência e o saldo positivo na conta bancárias no final do mês.

Não existe no País, nem na maioria da categoria, nem na população (faltam campanhas e ações públicas nesse sentido) consciência do significado de saúde bucal. Via de regra, esporadicamente, ou quando aparece a tal dor de dente que "um minuto" não resolve.

Hoje, na imensa maioria dos consultórios, você não vai tratar os dentes, como se dizia. Vai comprar produtos odontológicos vendidos como solução para seus problemas dentários e só acessíveis a uma parte da população.

O setor público nessa área da saúde é ausente, simbólico e se dá pela presença de profissionais que teimam em compreender a importância da saúde bucal. Poucos diante da realidade que vivemos.

Em tempo algum tomei conhecimento de um debate público sobre o implante dentário. As vantagens, desvantagens. Vejo o assunto tratado apenas como algo que vai dar ao pateta que se maravilha com as tecnologias modernas (e lucrativas) a ilusão que tem dentes normais.

É repulsivo ver um profissional vendendo um creme dental que vai acabar com tudo aquilo que incomoda você em se tratando de dentes e boca.

E há um complexo nisso, digamos assim. Quando se vende um creme dental, ou o que quer que seja para acabar com problemas, se está vendendo a condição do incauto comprador se apresentar ao mercado como alguém apto a qualquer desafio.

Manada. Todo mundo com os dentes brilhando e currículo às mãos. Deve constar do dito cujo, óbvio, que usa "colgate", aquele que permite tomar água gelada sem sentir dor.

À hora da entrevista de trabalho, de procura de emprego, como se fosse um cavalo, é preciso mostrar os dentes.

No fundo, a propaganda é excludente, afasta cidadãos comuns, faz o jogo dos que carregam nos bolsos ou bolsas aqueles produtos que cortam o mau hálito. Com grandes danos para o estômago, como aquelas balas miraculosas que deixam a boca com um "frescor único".

Aí, arranja emprego, arranja namorado/a, triunfa na sociedade do espetáculo e termina na depressão, mal que acomete a maioria das pessoas que se descobre usada num departamento da máquina de moer gente, o capitalismo.

Tudo por conta dos dentes, daquele "cientista" que pesquisa anos a fio para chegar a uma fórmula salvadora, ou daquele/a jovem que exibe o sorriso do triunfo.

Sobre o que não sei, mas exibe.

E todos temos que agüentar isso. E ainda por cima, no caso da tevê fechada, pagar.

É um escárnio diante da falta de políticas de saúde pública na área. É uma empulhação promovida por parte da categoria.


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