Armando Nogueira chegou a ser chamado de “o Machado de Assis da crônica esportiva” e junto com Mário Filho foi autor de obras definitivas sobre futebol num país fascinado pelo esporte, mas com pouca literatura sobre o assunto.
Anos a fio escreveu uma coluna diária no JORNAL DE BRASIL, leitura obrigatória de quem gosta de futebol, mesmo os que não torciam pelo Botafogo, time da preferência de Armando.
Se a charge mostrasse Armando Nogueira sendo recebido por José Maria Scassa, Nélson Rodrigues, João Saldanha, Sandro Moreira, ou botafoguenses históricos como Paula Azeredo, Xisto Toniato, Otávio Pinto Guimarães, Canôr Simões Coelho, Arides Braga e outros, tudo bem.
Por vários anos o jornalista fez parte de uma das mais significativas dentre as várias mesas redondas sobre futebol e que, pelo nível extraordinário dos demais participantes, ultrapassava os limites do futebol, para inserir-se no todo, num dos mais completos programas da televisão brasileira.
À época, houvesse a preocupação com audiência, a doença que existe hoje com níveis de audiência, a mesa ganharia disparado de qualquer programa em qualquer tempo. Nogueira e Saldanha pelo Botafogo, Scassa pelo Flamengo, Nélson Rodrigues pelo Fluminense e, imperdoável, me esqueço agora o nome do jornalista torcedor do Vasco. Mas era da mesma estirpe, do mesmo naipe.
É impossível, por exemplo, comparar a notável capacidade de Armando Nogueira, ou qualquer outro integrante da mesa, comandada por Luís Mendes (ainda vivo e comentando futebol), com a mediocridade arrogante de Galvão Bueno hoje.
Roberto Marinho recebendo Armando Nogueira no céu?
Marinho era mafioso, chefe de uma das mais nocivas e perigosas quadrilhas de todos os tempos, dentre todas as máfias, as ORGANIZAÇÕES GLOBO. Armando Nogueira era alma pura.
Em 1982, Armando Nogueira era o diretor de jornalismo da GLOBO. Roberto Marinho se valeu de sua extraordinária capacidade jornalística para montar a estrutura que hoje é o JORNAL NACIONAL e que tempos antes contara com Sebastião Nery na mesma função. Nos primórdios da GLOBO.
Partícipe direto da fraude da PROCONSULT na tentativa de fraudar a eleição de Leonel Brizola para o governo do Estado do Rio, uma ação de militares da reserva e civis de extrema direita (transferiam os votos brancos e nulos na totalização para o candidato Moreira Franco, da antiga ARENA), Roberto Marinho, com a astúcia covarde dos canalhas, nunca foi outra coisa, quando viu desmontada a fraude, a impossibilidade de materializá-la, já havia ganho as ruas, outros jornais denunciavam e pior, um dos diretores da PROCONSULT já confessara o crime e a conversa estava gravada (a gravação foi feita por César Maia, então ligado a Brizola e num restaurante do Rio de Janeiro), Marinho serviu a cabeça de Armando Nogueira em bandeja de prata aos seus algozes, aos que desmascararam a fraude, o típico bode expiatório pego de surpresa e jogado à arena das feras.
Deixou a direção de jornalismo da GLOBO, não fazia o tipo, tinha caráter e isso é inaceitável na rede, na empresa.
Eu nunca soube como Nogueira reagiu ao golpe, à punhalada nas costas que Roberto Marinho desfechou contra ele. Era a característica de Roberto Marinho.
Prefiro ficar com as notáveis crônicas do jornalista, suas intervenções na mesa redonda e seu “Drama e Glória dos bi-campeões”, um dos mais completos livros sobre as conquistas das copas de 1958 e 1962, principalmente essa.
Sua fascinação pela seleção húngara de 1954 (a de Puskas que acabou perdendo a final para a Alemanha por três a dois depois de estar ganhando por dois a zero) era absoluta. Fascinação que carregou a vida inteira e era objeto de comentários de seus companheiros de mesa, “Armando Nogueira e seu scratch húngaro”.
Foi amigo de Newton Santos e junto com Sandro Moreira (pouca gente se lembra ou sabe que Sandro era filho de Álvaro Moreira, membro da Academia Brasileira de Letras e um dos personagens mais famosos e libertários de sua época) tentou diversas vezes ajudar Mané Garrincha – Sandro e Newton eram como que “pais” de Garrincha, mas pais que Garrincha adorava, mas não acatava. E nem por isso, como todo quase todo pai, deixaram de ser pais até o fim da vida de Mané.
Tinha paixão pelo Botafogo, mas acima de tudo pelo futebol. Duas pessoas, com estilos distintos eram capazes de transformar um jogo, uma partida comum, numa epopéia. Ele e Nélson Rodrigues.
Um Olaria e Madureira virara uma Odisséia. Imagine um Botafogo e Fluminense.
E simples, sem aquele negócio de sou o dono da verdade que Galvão Bueno carrega hoje.
Foi uma das mais importantes personalidades do futebol brasileiro, historiador, cronista, torcedor, características de cavalheiro inglês no trato com as pessoas, enfim, alguém digno.
Mas ser recebido por Roberto Marinho no céu é o cúmulo da canalhice das ORGANIZAÇÕES GLOBO. Tentam dar a Marinho um papel que ele nunca teve. O de homem decente. Já Armando Nogueira não, era decente. Era tão decente que nunca disse uma única palavra pública sobre o assunto PROCONSULT.