A EXECUÇÃO DE AKMAL SHAIK

A pena de morte, em si, é uma confissão de fracasso de sistemas políticos. Se levarmos em conta a História, os processos revolucionários trazem em si, no conflito e nas mudanças que encerram, mortes que não podemos chamar de normais dentro de um determinado ponto de vista, mas de conseqüência natural desses processos. E falo de revoluções. Cito três, a francesa, a russa em 1917 e a cubana em 1959.

Não falo de golpes de estado, quarteladas como os acontecidos na América Latina nas décadas de 60/70 do século passado. Foram instrumentos das elites locais (argentinas, chilenas, brasileiras, paraguaias, uruguaias, etc) para sufocar avanços da classe trabalhadora. Ou como agora em Honduras.

As câmaras de tortura, os assassinatos travestidos de “suicídios”, toda a sorte de barbáries cometidas por operações como a OBAN (OPERAÇÃO BANDEIRANTES) ou a OPERAÇÃO CONDOR (que juntou grupos de extermínio das forças armadas e polícias do chamado CONE SUL). A OBAN juntou empresas a esses criminosos e entre elas a FOLHA DE SÃO PAULO.

Há diferenças abissais entre a “execução” de Stuart Angel, o filho da estilista Zuzu Angel, que lutava contra um regime ilegal, opressor e cruel e a de Akmal Shaik, na China. Akmal entrou naquele país com quatro quilos de heroína que, transformados, ou “industrializados”, abasteceriam boa parte de um determinado mercado por um bom período.

A luta de Stuart Angel, Marighella, major Cerveira, Lamarca e tantos outros em toda a América Latina não incluía esse tipo de “negócio”. Até porque se todos os traficantes de drogas forem executados não sobre o presidente da Colômbia, uns dois terços das forças armadas colombianas e outro tanto de políticos daquele país.

A tortura e a morte nos golpes militares revestia-se de um aparato oficial, era parte intrínseca do modelo, indispensável à sua manutenção, já que rejeitado pela maioria dos nacionais. Tinha chancela e carimbo dos governos golpistas. Guantánamo perdura com esses métodos.

Chineses e norte-americanos não têm por hábito perdoar os condenados à morte. Quando governador do estado do Texas, por oito anos, George Walker Bush não assinou um só perdão dos muitos que lhe foram dirigidos e muito menos nos seus dois mandatos presidenciais. A propósito não se tem notícia de governador ou presidente que nos últimos anos, ou em algum tempo tenham concedido tal perdão.

Um dos casos mais célebres e que entrou para a história é o de Caryl Chessman. Executado na tristemente célebre prisão de San Quentin, em dois de maio de 1960, debaixo de protestos mundiais que, nos EUA, incluíam atores como Marlon Brando, Henry Fonda, Cary Grant e outros. Chessman, conhecido como o “bandido da luz vermelha” foi condenado por assaltos e estupro e sempre negou os crimes. Lutou quinze anos através de recursos judiciais para ter sua pena comutado em prisão perpétua e ganhou fama mundial com o best seller “CELA DA MORTE 2455”, traduzido em vários idiomas.

Eisenhower era o presidente e quando se esgotaram os recursos judiciais o chefe do governo negou o perdão. Foi executado numa câmara de gás. Hoje, as injeções letais são consideradas “métodos humanos de execução”.

No Brasil o BOPE sobe morros e vai matando indiscriminadamente, crianças inclusive e nessa cultura da violência que nos é imposta, seus integrantes, todos bandidos, viram heróis.

Akmal foi executado com uma injeção letal. O principal argumento de sua defesa e do governo britânico era o de que sofria de “disfunção bipolar”. Em tese, exceto em momentos de delírio, comum num dos tipos dessa doença, não causa privação de sentidos e nem desconhecimento da prática de ilícitos. E delírios não duram uma viagem de Londres a Pequim, por exemplo, com quatro quilos de heroína na bagagem.

Não deixa de ser, no entanto, um fato lamentável. Executar criminosos, mesmo que sejam traficantes de drogas, hoje considerado em todo mundo, o tráfico de drogas, como crime hediondo, não resolve o problema. Militares norte-americanos associam-se a produtores de papoula e ópio/heroína no Afeganistão. Há um filme sobre isso, chama-se o GANGSTER e baseia-se na história real de um sargento do exército dos Estados Unidos.

São recentes os relatórios do DEA – Departamento anti-drogas) dos EUA que associam o presidente da Colômbia Álvaro Uribe ao tráfico. Começou sua carreira política, as provas são muitas, inclusive fotográficas, pelas mãos do mega traficante Pablo Escobar. Usava os aviões de Escobar em suas viagens de campanha.

Uribe é o amigo dileto dos EUA na América do Sul. Sete bases militares serão instaladas naquele país, a Colômbia, com o objetivo de combater exatamente o tráfico de drogas. Teriam que começar prendendo Uribe. Na prática querem as cabeças de Chávez, Evo Morales, Rafael Corrêa que não têm nada a ver com o tráfico, pelo contrário, mas contrariam interesses de banqueiros, por exemplo, que guardam e lavam o dinheiro do tráfico.

A maioria esmagadora dos militares das três forças militares colombianas, mais a polícia é associada ao tráfico. Constroem fortunas com o tráfico de cocaína. As FARCs, grupo guerrilheiro que luta contra o governo central leva a fama, interessa a mídia, a mídia é venal e um traficante incomoda muito menos que um contestador.

É a lógica do poder capitalista. Foi mais ou menos o que Nixon falou ao embaixador dos EUA no Brasil quando recebeu o relatório sobre torturas, assassinatos, estupros praticados por policiais e militares. “É uma pena, mas ele é um importante aliado nosso”. Referia-se ao ditador Garrastazu Médice. Os direitos humanos foram para as cucuias e o golpe se manteve pleno em sua escalada de horror.

Para o modelo um Stuart Angel era muito mais incômodo que um traficante como Abadia, ou Beira-mar. Continua sendo.

Garcia Meza foi presidente da Bolívia, coronel do Exército, no tempo de três golpes por dia, um pela manhã, outro à tarde o último à noite. Foi preso em São Paulo, depois de várias plásticas, era um dos grandes traficantes em seu país, assumiu o governo com largo apoio de militares ligados ao tráfico (Ovando Candia, René Barrientos, etc, todos à exceção Juan José Torres, por isso mesmo assassinado pela Operação Condor) e só caiu em função de disputa por maior poder no tráfico.

Deu azar de ser preso.

Mas há uma diferença fundamental entre o governo chinês e os governos ocidentais em relação a esse crime. Chineses encaram o tráfico de drogas como hediondo para além da letra fria da lei, mas na prática. Norte-americanos, britânicos e coisa e tal depende. No Brasil Collor de Mello era sabidamente viciado em drogas, foi eleito presidente num esquema montado pela REDE GLOBO e elites econômicas. Para ser viciado tem que comprar de alguém. No jogo de chantagens que caracteriza o ninho de cobras a que chamam de tucanos, José Collor Serra sinalizou ao governador de Minas, seu adversário dentro do partido, que iria bater pesado. Aécio é usuário de drogas e todo mundo faz que não vê. Em comum com Serra o fato de serem, como qualquer tucano, corruptos, venais. Fecham os olhos também à corrupção de Serra, é um deles. Como Aécio, disputa de poder, só isso.

À luz do direito internacional o governo chinês não cometeu nenhum delito, não violou nenhuma convenção. A Grã Bretanha tem pena de morte e até hoje o enforcamento é uma das modalidades, digamos assim.

Lamentável? Claro, é uma estupidez revestida de todo um processamento burocrático, carimbos, assinaturas, cientes, etc.

Mostra o fracasso e o caráter medieval dos chamados grandes impérios, ou impérios em formação. A hipocrisia da sociedade cristã, democrática e ocidental.

Mas não difere nem um pouco do que fazem norte-americanos e britânicos, ou por outra, chineses não toleram de fato tráfico de drogas. Já nos EUA e na Grã Bretanha depende. Se for um presidente aliado como Uribe, fecham olhos, ou falam como Nixon, “é uma pena, mas é um importante aliado nosso”.

A questão das drogas não passa por executar traficantes, até porque Akmal deveria ser, lógico, um dos pequenos, os grandes estão nos palácios e nos condomínios fecchados. Ou nos parlamentos e governos.    

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