Luz? Não sei. Aldous Huxley tinha sangue azul da nobreza britânica, passou boa parte da vida mergulhado na cegueira.
E percebeu. “If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite”
Pense nessas portas limpas. As da percepção. Tudo se nos apresentaria tal e qual o é, infinito.
A frase é de William Blake e serviu de inspiração ao extraordinário escritor Aldous Huxley para escrever “as portas da percepção.”
Todas as pulsões furando os limites do subconsciente e se deitando num consciente próximo do Nirvana. Besteira se o Nirvana foi criado 500 anos depois de Saquia Muni. Importa que seja percepção.
Para Freud a morte. A explosão a um só tempo dos desejos recônditos. Assim como uma estrela explodindo diante dos olhos e toda a poeira cósmica cegando enquanto se enxerga.
Não há shoppings nessa terra e nem em suas imediações. Para que praças de alimentação? “Se as portas da percepção estivessem limpas tudo apareceria ao homem tal e qual é, o infinito”.
Lá, num canto qualquer, assentado em seu tronco, amparado em seu cajado, um preto velho e seu cachimbo.
Deite-se. Não pense na vela/luz. Ouça o som mavioso de vozes, uma só voz falando de Romeu e Julieta, de Tristão e Isolda.
Quem disse que o amor é trágico?
Os lençóis são brancos e se escuta apenas o rufar dos pulmões acelerados na respiração que busca enxergar para além do teto branco. Varar fronteiras. Deixar escorrer o passado, dar graças pelo presente e mergulhar no futuro. Enfie uma porção de alma pela boca e busque o passado. Deixe sair os fluxos de futuro antes que o presente acabe.
Desde quando pulmões rufam? Ora, meu caro, como rufam. São tambores vizinhos ao coração e que se estendem para além de toda a percepção do corpo. Se entranham pela alma numa escalada.
Já imaginou se cada um de nós pudesse contar as estrelas e galáxias que nascem, vivem e morrem numa intensa e estelar explosão de energias?
E se cada um de nós fôssemos todos cegos?
Shakespeare não quis é óbvio que Romeu e Julieta simbolizassem o amor, tão somente o amor. Mas não entendessem o ódio.
Pense por um só instante deitado/caminhando no deserto. Nas visões/reais que Alá proporciona aos lábios sequiosos de água. Que água? Os imensos oceanos que foram.
É tudo um processo de fusão e se você não perceber isso não vai conseguir enxergar o infinito, pior não vai se livrar da cegueira limpando-se em mergulhos de areias rasas, buscando águas profundas. Ainda que os olhos estejam abertos e estatelados. E daí? Enxergar não é uma questão de ter olhos abertos.
Há um oásis de tâmaras e damascos. Existe uma cachoeira de mel escorrendo lentamente e terminando num lago de leite.
Um trono. Sua Alteza Real a Vida. Não tem cor. Tem cores. Todas.
Saque uma rosa branca com a mão esquerda e atire em direção à mão direita que se levanta e mira no centro do coração. Ela está do outro lado. É só um gesto para que ninguém acorde no soar dos canhões.
Os canhões soam e ribombam. Dê um passo à frente. Se a luz cegar a qualquer um de nós só iremos encontrar uma carinhosa claridade, repleta de rosas vermelhas e sem espinhos.
Os senhores das máquinas não queriam sombra. Fellini quis. “Ponham sombra, isso é cinema”. Um enigma que nunca entenderam e nem vão entender. Conhecem e sabem de máquinas, de botões vermelhos e piscas de panes. Priscas de eras do nada.
Pane! Onde eu queria chegar. Sejamos aeroplanos. Levantar vôo de um aeroporto qualquer e voar. Aterrissar? Depende. É preciso que o aeroporto esteja “alcatifado de flores” e as imagens não façam sentido, mas toquem lá, bem fundo. De um jeito tal que não é preciso entender, apenas perceber.
O que não pode é o mundo tornar-se novo e admirável com rótulos e horários precisos de florestas queimadas, cercadas de sombrios uniformes da lei e da ordem.
Não é pó. Nem do pó vieram. Viemos. É só uma impressionante e nauseante máquina, gigantesca que irradia ordens.
“Não ponha os olhos grandes sobre mim”. Estenda a mão. Só isso.
Sabe os bóias frias? Querem tantas coisas, no fim sossegam com “o beijo de uma morena chamada Guiomar.” Ou com um “torturante bandaid no calcanhar”. “Dois prá lá, dois prá cá”.
Hum! “As pedras pisadas dos cais”. Nunca entendi por que polacas? Passos de ganso? Ou mágicas contorções de um êxtase único como se o Everest estivesse derretendo e se espalhando até a Antártica.
O que iria aparecer? Com certeza Atlântica o continente perdido.
Netuno? Não sei. Mas acho que Yemanjá trazendo consigo uma Vênus ungida por todo o sal do mundo e despejada num cesto tecido/construído por Fídias sob as bênçãos de Zeus.
O Preto Velho continua lá. Seu cachimbo, seu cajado enquanto mergulho num ”som do silêncio”, único, de todas as tribos reunidas. “Vivo de brigar com o rei”.
Jejum de vazio. Silêncio para ouvir a voz de Deus. Pode ser Ray Charles, ou Roy Hamilton, o trumpete de Gillesppie.
Olhe, auto flagele-se de amor. Só isso, mais nada.
Agora levante-se, há uma turma esperando para tentar limpar as mentes e “abrir as portas da percepção.”
Ponha sua vela/luz ali naquele canto, especialmente escolhido para que as velas/luzes naveguem pelo infinito.
E deixe estar que entender essa história de infinito está para além da física, de tudo o que se conhece, mas dentro de cada ser na explosão vulcânica de todas as pulsões.
Esse negócio de ordem constituída, de ruas retas e curvilíneas, de prédios bem fincados, nada disso tem a ver com a vida. Muito menos o sinal vermelho.
É só deitar, levantar vôo e no máximo um sanduíche light e um cappuccino.
A sombra da luz/vela, da vela/luz é a sombra do açúcar espalhado mascavo/íntegro na bendita loucura das acrobacias que um aeroplano/gente é capaz de fazer.
Se pular os limites da ionosfera não se preocupe. Uma hora a gravidade desaparece e Freud diria a você, a mim, a todos nós que há um duplo sentido nessa palavra gravidade. Nesse momento e nesse contexto, mas é hora de flutuar.
E foi o cego que enxergou o infinito.
O combustível? Água de coco.