O assentamento tem título de propriedade emitido desde 1998 e os trabalhadores estavam trabalhando na construção de uma casa. Dois homens chegaram numa moto, renderam os trabalhadores, mandaram que se deitassem ao chão e executaram os cinco. Uma sexta vítima foi levada para um hospital em Caruaru e está fora de perigo.
O delegado Sérgio Moura, encarregado das investigações, disse que ao chegar ao local os assassinos anunciaram o que seria um assalto.
Entre os mortos o líder do assentamento João Pereira da Silva, de 39 anos. José Juarez Cesário da Silva, 21 anos. Natalício Gomes da Silva, 36 anos, José Angelino Morais da Silva, 43 anos e Olímpio Cosmo Gonçalves.
A hipótese de assalto é quase impossível. A forma do crime é como que marca registrada das quadrilhas de latifundiários em todo o País e acentuadamente no Nordeste. A maneira de agir dos assassinos é típica de pistoleiros profissionais. Trabalho encomendado.
Em Pernambuco são duas as características dos latifundiários. Ou são plantadores de cana de açúcar ou de maconha. No fundo não existem diferenças entre um e outro, a não ser no fato que alguns ainda não chegaram ao estágio atual do homem bípede. Continuam andando de quatro e só conseguem grunhir.
O estado é um dos berços da luta popular por terras. Na década de 60 surgiu ali o movimento conhecido como Ligas Camponesas, fundadas pelo deputado Francisco Julião, mais tarde exilado como conseqüência do golpe militar de 1964. As ligas surgiram quando Miguel Arraes era prefeito de Recife, governador eleito em 1962 e trazia consigo o educador Paulo Freire. Os primeiros passos do que é conhecido como método de alfabetização de Paulo Freire foram dados em Pernambuco, no trabalho de organização de trabalhadores sem terra.
O golpe de 1964 transformou Miguel Arraes e Leonel Brizola nos dois maiores alvos dos militares golpistas e das elites financiadoras do golpe.
O conflito por terras permanece até hoje a despeito dos poucos avanços por parte dos governos e dos grandes avanços na luta popular. O preço é alto. São muitas as lideranças contabilizadas em crimes como esse do distrito de São Domingos.
Latifundiários não têm só uma natureza tacanha. São perversos e cruéis. É uma das regiões, o Nordeste, onde se localizam com freqüência casos de trabalho escravo em fazendas dos chamados barões de terra. Não é só ali, no entanto. No Brasil inteiro o latifúndio age dessa forma.
E como erva daninha se espalha por todo o tecido social e institucional. É o caso da senadora Kátia Abreu, do DEM. A senhora em questão, que é latifundiária, já consegue se equilibrar sobre as duas pernas, consegue conhecer e memorizar pelo menos uns 200 vocábulos da língua portuguesa e atua no Senado como defensora desses grupos criminosos.
Por ironia, o assentamento onde foram assassinados os cinco trabalhadores tem o nome de Chico Mendes. Ambientalista de conceito mundial e também assassinado por um latifundiário e seus dois filhos.
Você tem idéia do que seja roundup? Você come roundup todos os dias. É um pesticida à base de glifosato fabricado pela MONSANTO – sócia do Estado brasileiro – e que segundo os seus defensores “faz menos mal que outros produtos similares”. A MONSANTO é a detentora dos direitos sobre o agronegócio no Brasil. Soja, milho, feijão, todos os transgênicos travestidos de avanço e progresso na conversa fiada disfarçada de biotecnologia.
Produz morte a curto, médio e longo prazos. É o preferido por onze entre dez latifundiários brasileiros. É proibido nos EUA. Mas vendido por empresas dos EUA.
O professor Antônio Inácio Andriolli, doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Osnabruck na Alemanha, num artigo publicado na revista ESPAÇO ACADÊMICO - www.espacoacademico.com.br/051/51andrioli.htm - alerta sobre os riscos do pesticida ao fazer uma perfeita abordagem do que é o roundup e seus efeitos e objetivos. O título do trabalho é “o roundup, o câncer e o crime do colarinho verde.”
Cada avanço da “biotecnologia” da MONSANTO corresponde ao óleo nosso nos alimentos de cada dia e a transformar o ser humano em países periféricos – a classificação em si já é preconceituosa – em cobaia e objeto de lucro no monopólio do agronegócio
A coté, como dizem os colunistas sociais, toda a “grande família” de latifundiários do Brasil e países da América Latina que aceitaram servir o pesticida no dia a dia da mesa de seus povos e por extensão, a defesa da barbárie no campo contra os que lutam pela agricultura familiar e produtos limpos. A terra em sua condição de instrumento de bem estar social – em todos os sentidos – e indispensável à vida de todos e não exclusivamente de latifundiários cercados e guardados por pistoleiros.
O assassinato de cinco trabalhadores rurais sem terra em Pernambuco não é um fato isolado. É parte do processo de massacre dos movimentos sociais em toda a América Latina. Tem a cumplicidade de setores do governo – a ANVISA, AGÊNCIA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA liberou o uso do pesticida em condição mais vantajosa possível para o seu fabricante, a MONSANTO –, seja dessa forma ativa, completada na omissão e no silêncio da mídia, braço dos controladores do Estado à medida que esse Estado signifique ou tenha o imprimatur FIESP/DASLU.
A distinção entre latifundiários e empresários nas cidades deixou de existir faz tempo. Interesses comuns uniram os grupos, a despeito de alguns que, com “formação” em Londres e gene monárquico torçam os narizes para os que ainda comem com as mãos, mastiguem de boca aberta e não entendam a importância do dedo mindinho recolhido. Acabam sendo absorvidos no grande templo do deus mercado. No final nem todos limpam os cantos da boca com as costas das mãos. Existem os que conhecem guardanapos.
Mas estão aqui, como estão em Honduras.
E em comum todos arrotam. Com todos os sentidos de arrotar. Arrotar de arroto e de arrostar violência e barbárie qualquer que seja a cor ou a marca da gravata. Tanto faz que a vítima seja a freira Dorothy Stang no Norte do Brasil, ou os cinco trabalhadores que construíam uma casa em terra que lhes pertence, em Pernambuco.
É luta de classes. E no meio desse confronto os que não percebem, mas são vítimas da mesma forma, que roundup é mais que um pesticida. É o retrato de um modelo perverso e assassino como agora em São Domingos. Ontem em muitos lugares. Amanhã em outros tantos.
No filme “a confissão”, do diretor David Hugh Jones, com os atores Alec Baldwin e Ben Kinglsley, nenhuma obra prima, mas nem por isso um mau filme, num determinado momento a personagem interpretada por Baldwin se vê envolvida num jogo de interesses de um grande empresário/criminoso – todos – e ao descobrir que esse se beneficiava de fraudes num sistema de águas que servem as casas de Washington, faz menção ao roundup, como sendo o fator de risco de alta gravidade para a população da capital. E como acontece nos filmes, na realidade não, vira o jogo. Isso lá. Aqui não.
Roundup faz parte do seu cardápio, do nosso dia a dia à mesa, como os constantes crimes contra trabalhadores rurais sem terra.
E o tradutor do filme, as legendas, não faz menção ao pesticida, apenas a danos. Não iria de maneira alguma atrapalhar os “negócios”.
Vai ver é culpa do presidente do Irã ou da Coréia do Norte.