O ESTADO FALIDO

Imagine se pode funcionar ou significar alguma perspectiva de mudança, ou no mínimo, de cumprir o seu papel, sua essência, razão de ser, um Estado onde Agripino Maia é senador? Ou Tasso Jereissati? Onde um grupo de partidos políticos incomodados com as investigações da Polícia Federal recorre ao Poder Judiciário para exigir controle externo dessa instituição policial?

O que é o controle externo nesse caso? Durante o governo FHC os escândalos eram todos varridos para debaixo do tapete. Durante o governo Lula a PF ganhou autonomia para vasculhar e investigar casos de corrupção. Isso gerou entre outras coisas a prisão de prefeitos, deputados, empresários padrão FIESP/DASLU, o banqueiro Daniel Dantas e agora mostra o envolvimento de empresas de grande porte – Camargo Corrêa – com doações a partidos políticos notadamente PSDB e DEM.
A representação que esses dois partidos e o PPS do ex-senador boquinha Roberto Freire encaminharam ao STJ – Superior Tribunal de Justiça – solicitando essa forma de controle é a impunidade prévia. Hábeas corpus preventivo, direito de continuar a andar de jatinho com o meu, o seu, o nosso dinheiro.  O direito de continuar a gastar o dinheiro do cidadão/ã da forma que melhor lhes aprouver, como o caso do senador CORRUPTASSO JEREISSATI.

Como é possível acreditar na chamada institucionalidade se o presidente da dita suprema corte é Gilmar Mendes envolvido em falcatruas as mais diversas, a última delas, um impedimento arrumado do prefeito de sua cidade Diamantino, Mato Grosso? O prefeito derrotou o grupo de seu irmão, ex-prefeito. 

De sã consciência quem acredita que Lula seja o presidente pleno da República? Nas questões que dizem respeito aos interesses dos grandes grupos econômicos, de toda essa máfia de empresas, o esquema FIESP/DASLU, o presidente é Gilmar Mendes – que garante a impunidade – e em nome de que?

A corrupção é conseqüência do modelo político e econômico.

Ela não é causa.

Para que todo o aparato neoliberal possa funcionar de forma absoluta é necessário que os donos – banqueiros, grandes empresários, corporações e latifúndio – tenham o controle do aparelho do Estado.

E têm. 

Os chamados avanços obtidos no governo Lula são significativos, mas dentro dessa perspectiva neoliberal com largo viés populista. Não há mudança alguma de fundo na estrutura medieval que esses grupos impõem ao País e ao povo. O que diferencia o Estado feudal do Estado hoje é o fantástico poder tecnológico alcançado pelos donos. 

É possível fazer com que milhões de pessoas se assentem à frente de um aparelho de tevê por puro voyeurismo e num determinado dia da semana peguem seus telefones e liguem, pagando, para eliminar esse ou aquele concorrente.

Não chegamos ainda ao sexo explícito na tevê aberta como forma de dominação, mas descobriram que o implícito e laivos de uma situação mais quente, acabam funcionando melhor. Mais ou menos como no início do século XX, quando o cidadão ia ao delírio ao conseguir enxergar o tornozelo de uma cidadã.

Isso com sogro e sogra na sala.

O Estado hoje gira em torno do modelo e essa órbita não inclui um projeto de mudanças substanciais que permitam, por exemplo, o controle da predação ambiental. Não existe hoje desenvolvimento se não houver respeito ao meio-ambiente. O que são as grandes empresas como a ARACRUZ, a CAMARGO CORRÊA a VALE, etc, em termos de meio-ambiente?

A ARACRUZ é uma das sócias da grande fazenda em que empresas transformaram o extinto estado do Espírito Santo. Chamam isso de progresso. Não importa que florestas sejam devastadas, que áreas de preservação ambiental sejam extintas, que terras seculares de quilombolas e índios sejam ocupadas e tomadas à força. Importa que isso é progresso e no discurso dos donos “gera empregos”.

Se Lula chega à reunião do G-20 e Obama diz que o presidente brasileiro “é o cara”, por trás disso existe a lição do capitalismo cumprida com eficiência, aplicação e êxito, além – evidente que existem os competentes – da política externa brasileira, talvez o único ponto efetivo de mudanças reais nos últimos anos desde a deposição de João Goulart. Mas um Celso Amorim só não faz verão.

Onde está a reforma agrária? Não sei. Mas sei onde estão os transgênicos. 

É possível que o País vá mudar com eleições de tempos em tempos? Como? No máximo e assim mesmo com boa vontade, eleições são instrumentos no conjunto da luta popular que passa por organização e formação para que se possa romper os castelos dos barões de hoje e efetivamente chegar ao Estado democrático lato senso, aquele que abriga todo o conjunto de cidadãos de um País e promove pela ampla participação popular o que numa palavra poderia ser designada como Justiça.

Hoje os donos através de uma formidável máquina de comunicação/alienação consegue fazer com que o cidadão acredite que cidadania seja o direito de trocar de chip de celular sem ter que pagar a essa ou àquela operadora.

O Estado é, no máximo, no caso do governo Lula, um complicador aqui e ali para um outro interesse. No duro mesmo uma instituição privatizada e a serviço dos seus acionistas. Banqueiros, grandes empresários, grandes corporações e latifúndio. Se esse Estado começa a mostrar que José Serra é corrupto. Que FHC enriqueceu no governo à custa das privatizações. Que Tasso Jereissati é só um empresário no Senado se beneficiando do dinheiro público. Que Agripino Maia é financiado por empresas envolvidas em diversas falcatruas. Se esse Estado começa a mostrar a face real dos que o operam, o todo, partidos como o PSDB, o DEM e o PPS correm à Justiça para imobilizar, buscar garantias para o modelo.

A corrupção é conseqüência. Ela é intrínseca ao capitalismo.

É parte inseparável do modelo político e econômico. 

Vai daí que, literalmente, essa zona que todos assistimos perplexos e impotentes diante de figuras como Gilmar Mendes, José Serra, Sarney, Michel Temer, etc, não tem lugar na Vila Mimosa – zona boêmia do Rio de Janeiro – porque lá se exige respeito. O mínimo de respeito. Num dá para cuspir no chão e nem fazer fora do vaso.

A institucionalidade está falida. Toda essa pompa e presunção arrogante dos que enchem a boca para fazer valer interesses institucionais dos donos do País, os que ocupam os cargos chave do Estado, cercada do discurso hipócrita, esse sim, do falso moralismo, não passa de disfarce. De jogo de faz de conta no clube de amigos e inimigos cordiais.

“Vossa Excelência é ladrão”. “Não ladrão é vossa excelência” e depois vão jantar juntos. O jantar pagamos nós.
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