É óbvio que o delegado Protógenes Queiroz é candidato a qualquer coisa nas próximas eleições. Ou parece querer ser. E tem o direito legítimo de ser. Nada do que o delegado disse em sua entrevista, fez uma palestra antes e vai fazer muitas, é mentira.
Mas é preciso mais que combater a corrupção como plataforma de mudança. É preciso perceber que a corrupção como a que temos é conseqüência do modelo político e econômico e se eleito deputado, por exemplo, o delegado some na poeira de um mundo contaminado como ele mesmo disse cem por cento pela corrupção.
Quando o general Golbery do Couto e Silva, um dos gurus de uma das duas facções de militares que se revezaram no poder na ditadura disse que "vivemos momentos de sístole e momentos de diástole", falando de momentos de abrir e momentos de fechar estava dizendo que o coração é o mesmo em qualquer momento.
Ou seja. Democracia ou ditadura o modelo é o mesmo, depende do contexto.
Se amanhã um heleno da vida, ou um elito da vida entenderem que é necessário colocar as tropas nas ruas, chamar ustra brilhante para torturar, estuprar e assassinar em nome da democracia e dos valores cristãos e ocidentais colocam e chamam e ainda estufam o peito em manifestações patrióticas sabidamente canalhas como definiu de forma precisa o pensador e deputado ao parlamento inglês Samuel Johnson.
"O patriotismo é o último refúgio dos canalhas".
Vamos pegar um exemplo que considero pronto e acabado embora existam muitos. Mas um dos mais visíveis. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Mora no Rio, não tem a menor noção de a quantas anda o estado que governa (a irmã disse publicamente em Ouro Preto que "Aecinho não tem juízo nenhum se deixar por conta dele joga o patrimônio todo fora") e frequentemente é apontado como viciado em drogas, em cocaína especificamente.
No jogo Brasil e Argentina realizado há poucos meses atrás em Belo Horizonte, no Mineirão, Aecinho montou um camarote com artistas, jornalistas, políticos, convidados especiais, empresários, etc, tudo no esquema de candidato a presidente em 2010 e foi surpreendido com um coro dos torcedores, cerca de 100 mil. "O Maradona, por que parou, parou por que, o Aecinho cheira mais que você"
O fato, também público e notório, publicado em pelo menos um jornal da chamada grande imprensa (porque é Serra, é contra Aécio, do contrário sentaria em cima) não chegou ao conhecimento do cidadão comum.
Ora, se Aécio é viciado, logo compra drogas. Se compra drogas, compra de traficante. E aí?
Aécio aparece em Minas como o que promove um "choque de gestão" (marketing puro, o professor continua vivendo com salário de fome), desenvolvimento, um tresloucado de um deputado que integra a quadrilha do mensalão, Custódio Matos, teve a cara de pau de chama-lo de "estadista". E aí?
Na semana santa de 2006, trêbado em Parati, deu um vexame sem tamanho e vários jornalistas estavam lá. Nenhuma palavra na mídia.
O seu colega de partido José Serra censura jornais, faz acordos com empreiteiras para financiar suas campanhas eleitorais, a corrupção e a ineficiência no governo paulista são regras gerais e Serra é de tal forma blindado pela grande mídia que as pessoas atribuem a ele poderes mágicos e salvadores capazes de conduzir o Brasil a um paraíso, mesmo depois de ter sido ministro de um dos maiores canalhas da política brasileira, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Canalha em todos os sentidos, porque corrupto e um cabo Anselmo com patente de general.
O delegado Protógenes contou os percalços da Operação Satiagraha. Os riscos que correu, falou do poder de Daniel Dantas, de jornalistas comprados pelo empresário, de congressistas corruptos, ministros do stf, todo esse aparato de corrupção que existe por aí, mas e daí?
Para além de Daniel Dantas existem os latifundiários que assassinam camponeses em todos os cantos do País. Empresários como o presidente da FIESP que sonega impostos e compra deputados e senadores para derrubar o único imposto não sonegável como foi o caso da CPMF. Existe Ermírio de Moraes destruindo o Estado do Espírito Santo e várias partes do País. Que quando em aperto busca financiamento para os seus "negócios" em agências do governo. Bancos como Itaú, Bradesco, etc, se valendo de dinheiro público, imersos em corrupção e grandes corruptores como Dantas.
Grandes empresas subsidiadas por dinheiro público, dinheiro do contribuinte.
A corrupção existe porque existem corruptores. Que a GLOBO é comprada todo mundo sabe, mas de tal forma a coisa se entranhou que virou cotidiano aceitar que a GLOBO é comprada, vendível, vendável, ponta visível, a maior, desse modelo na mídia.
O modelo chegou ao requinte que feio é perder. Não importa a forma de ganhar. Pode ser um Pastinha pilantra de quinhentos mil réis cá embaixo para manter um status podre de vagabundo aparentemente bem sucedido, ajudador e bonzinho, gerador de emprego, progresso, o diabo, como pode ser o Ermírio de Moraes, ou o senador Gerson Camata, sócio de Aécio não me perguntem em que.
O modelo está podre. Dantas surgiu na ditadura, foi chave no governo FHC no processo de privatização, como foi um dos mentores de um grandes pilantras da política brasileira José Sarney. Continua com Lula? Claro. Rodeou e contornou setores do PT até entrar, comprar e mandar.
O que está aí é o que Golbery dizia, ora fecha, ora abre, sístole e diástole, mas o coração é o mesmo, ou seja o modelo.
Não há um exagero, uma única mentira, uma única vacilação em nada do que o delegado afirma e faz. Mas é preciso entender que para além da corrupção, ou antes da corrupção que é conseqüência, está a causa e a causa é o modelo político e econômico.
E hoje esse modelo permeia o cidadão comum de tal forma, nos jornalistas e na mídia comprada que tudo é normal. Importante é vencer e estar com tudo em cima. Não importa a cadeira onde tenha que assentar.
A propósito, um juiz do esquema gilmar mendes, ou seja, vale tudo desde que a conta bancária aumente, expediu mandado de reintegração de posse de uma fazenda de Fernandinho Beira-mar (pode quem sabe ser até o fornecedor de Aécio), ocupada pelo MST. Quando a lei diz que fazendas apreendidas a traficantes serão integradas ao projeto de reforma agrária. Que aliás, acho que nem Lula sabe o mais o que é.
O delegado Protógenes de uma certa forma celebrou um contrato com os brasileiros que ainda se indignam com tanta podridão. E esse contrato passa não pela denúncia pura e simples da podridão, que é fundamental, mas da luta por profundas mudanças, não por reformas, mas mudanças, na estrutura política, econômica e social do País e isso é tarefa de todos. A responsabilidade dele transcende ao combate puro e simples do efeito. É preciso ir à causa.
Com a mesma coragem que colocou Daniel Dantas na cadeia e está suportando toda essa pressão da pilantragem que controla o Estado brasileiro.