O embaixador norte-americano na ONU considerou o veto russo à proposta um desafio à paz e a ordem internacional. Um desrespeito à democracia que seu país, os EUA, tenta levar ao mundo inteiro. Só faltou dizer que "com grande sacrifício". Em 2003 o Conselho de Segurança da ONU deliberou, com o veto dos Estados Unidos, que o Iraque não deveria ser invadido já que as "provas" apresentadas pelo governo Bush sobre a existência de armas químicas e biológicas naquele país eram insuficientes e os inspetores da Agência Internacional de Energia Nuclear não haviam encontrados indícios para corroborar o motivo alegado pelos norte-americanos.
Segundo esses inspetores o que existia em torno de armas químicas e biológicas no Iraque eram tambores de produtos químicos com mais de dez anos de uso, vazios e de fabricação ianque. Um dos inspetores chegou a falar em armas químicas e biológicas fornecidas pelo governo dos EUA a Saddam Hussein para a guerra contra o Irã.
Bush decidiu, com apoio da Grã Bretanha, invadir o Iraque alegando que cabia ao seu país combater o terrorismo com ou sem ONU. A operação de invasão e ocupação teve dois momentos. O primeiro foi chamado de "liberdade duradoura" e o segundo de "choque e terror". Um serviu para justificar a barbárie, outro para mostrar ao mundo que o poderio militar dos chamados aliados era a chave mestra do novo Reich. Austrália, Suécia, Itália e Espanha se juntaram à estupidez desse IV Reich.
A Geórgia é um dos países que formavam a União Soviética. Com o fim da URSS virou alvo da cobiça dos EUA através da OTAN (Organização do Tratado Atlântico Norte). Não só a Geórgia, como países estratégicos na política de cerco militar à Rússia. O principal deles a Ucrânia, potência nuclear (por coincidência, dois dos principais dirigentes soviéticos eram naturais da Geórgia (Stalin) e da Ucrânia (Kruschev).
A chamada revolução laranja fracassou na Ucrânia. Os objetivos políticos, econômicos e militares dos EUA, no entanto, foram alcançados. A Geórgia era o próximo alvo e já havia, através de seu governo, manifestado intenção de integrar a OTAN. Um pacto anterior entre a chamada CEI (Confederação de Estados Independentes) e países da Europa propunha manter as antigas repúblicas soviéticas fora da OTAN. Não foi cumprido.
Bush no delírio de criar o IV Reich decidiu que a Rússia deveria ser isolada e literalmente partiu para cima.
A decisão de invadir a Ossétia do Sul foi do governo da Geórgia. A reação da Rússia foi a de garantir a maioria da população russa na república, mais de 90% e assegurar que suas fronteiras não serão alvo de mísseis norte-americanos na eventualidade de um conflito menor ou maior.
O veto do governo russo à proposta do Conselho de Segurança da ONU é o exercício do direito de legítima defesa da soberania do país.
O que nem Bush e nem o governo da Geórgia contavam é que os russos fossem reagir de maneira incisiva e definitiva. A Ossétia do Sul, neste momento, é um país em vias de se tornar independente e não há como evitar que isso não aconteça. A presença de tropas russas em território da Geórgia não tem nem de longe o mesmo caráter da invasão e ocupação do Iraque e do Afeganistão pelos norte-americanos.
Há uma diferença fundamental. Norte-americanos invadiram o Iraque pelo petróleo e o Afeganistão para justificar e encontrar um culpado pelo ataque ao território dos EUA que resultou na queda das torres do World Trade Center.
Russos garantiram a liberdade da Ossétia do Sul e da população russa a maioria esmagadora do país. A agressão, hoje está claro isso, contou com apoio logístico de assessores militares norte-americanos.
A decisão de permanecer com tropas na Geórgia até garantias internacionais de respeito à soberania russa é correta e legítima. Faz parte da reação ao expansionismo do IV Reich.
A declaração de funcionários norte-americanos que no "século XXI não se invade um país assim como a Rússia invadiu a Geórgia é um primor de cinismo.
Na mídia brasileira nem uma palavra sobre a realidade nesse conflito. A exceção do jornalista Jânio de Freitas, FOLHA DE SÃO PAULO, todo o resto despejou a versão pronta do Departamento de Estado, o press release oficial, a própria FOLHA DE SÃO PAULO inclusive.
Só faltou o general Augusto Heleno oferecer as tropas da VALE, das quais é comandante, para enfrentar eventuais índios russos em defesa dos latifúndios e dos "grandes negócios". Que, aliás, em um vagido nacionalista contra a IV Frota em águas territoriais brasileiras.