Vai ser assim até que você abra a janela e não enxergue mais a roseira no pequeno cantinho, mas da qual nascem rosas.
Para início de conversa não é progresso o que beneficia a uma elite e exclui a classe trabalhadora, mantendo-a atrelada a esses interesses, os da elite, no regime de explorador, explorado, a eterna luta de classes. Não há nenhuma ortodoxia marxista raivosa ou furiosa, saudosa, ou que come crianças e mata velhos nessa constatação. Apenas uma realidade.
É lógico, existe um contexto de tempo, de espaço e logo, uma conjuntura diversa em aspectos pontuais, mas permanente na essência.
É como a tecnologia oferecida hoje aos médicos e consequentemente aos pacientes. Pode tudo, mas não pode eliminar a morte.
O planeta está agonizando no delírio de novas Chinas. Na loucura que permeia a sociedade norte-americana e transforma a nação mais rica do mundo em centro de adoração de sanduíches onde a mão humana não entra, com presuntos e queijos que não conhecem o velho e artesanal processo que os transformava em iguarias únicas.
Sai Manitu entra McDonalds.
Temos alguns bilhões a mais a serem alimentados e dentre eles, alguns bilhões morrendo de fome e doenças que se multiplicam nas explicações técnicas e científicas dos desequilíbrios provocados pelo tal progresso.
Plantem eucaliptos. Desenvolvam espécies geneticamente modificadas no milagre da própria genética e ofereçam ao mundo toda a natureza transformada em máquinas milagrosas que enriquecem os barões da nova idade média, a da tecnologia.
Os servos permanecem do lado de fora na expectativa dos restos do banquete.
O dilema é o modelo.
Charles Chaplin em sua "ingenuidade" de gênio desvendou essa conversa toda de uma "nova China" em "Tempos Modernos". Não interessa e nem se vê mais no frisson de GLOBO e concorrentes. Aqui, ou no Chile, na Argentina, no Paquistão...
Campo de soja em Santarém, no Pará
Marina da Silva foi apenas a modelo que Lula colocou na vitrine do seu governo para engabelar e fugir das pressões internacionais contra o Brasil pela destruição da Amazônia.
Engoliu em seco na disciplina partidária o desenvolvimentismo de Lula, aceitou a "regulamentação" da soja transgênica (já existia desde o governo FHC e era em boa parte contrabandeada da Argentina, mas exportada como brasileira) e perdeu de vez o sentido e a aparência de modelo de política ambiental correta quando Lula cedeu ao agronegócio.
O desmatamento na Amazônia chegou a 27 mil quilômetros quadrados em 2004 (segunda maior marca de todos os tempos). Lula queixava-se da demora nas licenças para a construção de grandes hidrelétricas, ou da transposição das águas do São Francisco e, pior, das exigências ambientais para ANGRA-3 e mais quatro usinas nucleares.
A febre desenvolvimentista do presidente atingiu níveis insuportáveis ao termômetro montado pela iniciativa privada globalitarizada quando a ministra anunciou, no início deste ano, que o desmatamento da Amazônia voltara a crescer.
É importante perceber que não teria sido diferente com Serra ou com Ciro Gomes, muito menos com Alckmin. Serra gosta de demitir adversários, calar jornalistas, entrar de sócio (por laranjas) de laboratórios que produzem genéricos, receber doações de empresas que contribuem para as campanhas do seu partido. Ciro Gomes adora um centro de palco onde possa exibir sua cooptação/conhecimento econômico a partir de Harvard e Alckmin é governado por dona Alckmin e um mundo de estilistas DASLU.
Vem de fora, como costumava dizer Brizola. Pacote fechado.
O problema com Lula é ter aceito o que um dia afirmou ser inaceitável. Incorporou os pilantras.
A alta no preço das commodities agrícolas da soja, da carne bovina e do algodão, somada à febre dos biocombustíveis liquidou as políticas de proteção da Amazônia e trouxe de volta o desmatamento inconseqüente.
Entram aí as declarações do general Augusto Heleno, atribuindo a culpa de tudo aos índios. Há que ser muito ingênuo para acreditar que a produção se expande com o aumento da produtividade e da ocupação das áreas que serviram de pastagem e se degradaram. O latifúndio vai para onde consiga a combinação ideal de terra, mão de obra (escrava), solo fértil, topografia favorável e disponha da tal infra-estrutura logística (hoje inclui o general Heleno). O que desmata a Amazônia é o gado.
Essa história de "Amazônia sustentável" não existe. Os satélites mostram que a realidade é outra. Virou república de latifundiários, VALE e outros experimentos do tal progresso. Inseriu-se na luta pelo controle da América do Sul, do mercado e volta se Serra for eleito com a história de ALCA (Aliança de Livre Comércio das Américas).
Desse modo Lula é apenas uma ponte entre o entreguismo de FHC e a hora de apagar as luzes de José Serra. Tenta fazer uma travessia em que possa jogar fichas capazes de permitirem ou uma volta em 2014.
Inventaram Mangabeira Unger. O tal que pretendia construir um aqueduto entre a Amazônia e o Nordeste.
A "nova China".
Lula quer conceder 95 mil hectares de florestas para uma multinacional explorar madeira no esquema renovável. Está acima do limite constitucional. A juíza Salete Macalóes atrapalhou o negócio (gente assim não interessa muito a esse governo como não interessou ao outro, o anterior, são inflexíveis na defesa da lei e do País). Lula recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal). Com isso quer sair fora da necessidade, prevista em Constituição, de aprovar a concessão no Congresso. Esconder do povo.
O esquema renovável funciona mais ou menos assim: desmata e planta eucalipto, gera deserto e fome, mas lucros para os donos. Blairo Maggi, maior plantador de soja transgênica do mundo e governador do Mato Grosso entrou em frenesi com a decisão do governo. Quase que petista de carteirinha.
O desastre ambiental é culpa dos índios. Garante o general comandante das forças do latifúndio, da VALE, Augusto Heleno e seus prepostos defensores do arroz nosso de cada dia, mas o que vem de Washington, depois de impresso em Wall Street com a cara de Benjamin Franklin.
Jorge Sebastião Costa, é um índio atingido por bomba caseira e, depois
de desmaiar, foi espancado por funcionários de fazenda de arroz
A ministra Marina da Silva já deveria ter saído faz tempo. Não é
possível que não tenha percebido que era apenas um modelo na vitrine do
governo de um "produto" que não existia e nem existe.A competição hoje é para saber quem é mais competente como FHC. Se Lula, se o próprio, ou se Serra. O modo de ser FHC.. Mais ou menos com "quem quer bacalhau?", "quem vai para o trono? Ele, ela?"
Lula tem contra si a desvantagem de não saber usar os talheres e copos adequados em Versailles, logo, Serra leva vantagem, já que FHC é carta fora do baralho (torce pela vitória de Hilary Clinton no sonho de ser secretário de Estado, o novo Kissinger, que era alemão).
Jorge Sebastião da Costa, o índio, é como o garçom da música de Chico Buarque em "Ópera do Malandro". O culpado de toda a trambicagem.
O general Heleno, Lula, Nelson Jobim que ora venta prum lado, ora venta pro outro, Mangabeira Unger, esses são apenas os construtores da "nova China", no caso do general, de preferência com capitais dos EUA. O epicentro do novo colonialismo.
São os patriotas na acepção e na definição de Samuel Johnson, nunca é demais repetir: "o patriotismo é o último refúgio dos canalhas". Cá embaixo, na esteira da discussão sobre anunciar ou não cervejas, um monte de Homer Simpson na expectativa de um copo de etanol. Vai ser industrializado com acerola, açaí, etc, etc.
E um detalhe de suma importância. Chávez é quem ameaça o Brasil. Pelo menos na cabeça do general Heleno.
Tudo encadeado, certinho, arrumadinho. Borduna em índio, absolvição do mandante da morte de Doroty Stang, a concessão do direito sobre florestas, a soja, o arroz, o algodão, o gado, a VALE, a ARACRUZ, o progresso, as usinas hidrelétricas. Tudo.
Você se lembra do professor Pardal? Pois é. Mangabeira Unger é um pardal consciente. O outro não, um Pateta capaz de inventar asas para facilitar o vôo dos urubus. Dar descanso às naturais.
A turma devia fazer um esforço e dar uma lida no trabalho dos biólogos Richard Lewontin e Richard Levins. "Biologia sob influência. Ensaio dialético sobre ecologia, agricultura e o planeta".
Breve a peste bubônica.