Salvar o planeta

Torna-se cada vez mais comum a mensagem de que é preciso salvar o planeta. Seja não jogando lixo nas ruas ou nos rios. Seja economizando energia e água. Seja não fazendo barulho e praticando muitos outros pequenos gestos. Para quem politiza a questão ambiental, esta propaganda é quase inócua. Serve apenas para livrar cada indivíduo de culpa. Enquanto cada um mantém seu quintal limpo e faz a sua parte, o sistema econômico maior continua praticando seus estragos e desfazendo tudo o que a iniciativa individual faz.
Na verdade, o planeta está salvo. Desde que a Terra se constituiu como planeta do Sol, muitas situações críticas a assolaram. A Terra já foi inabitável por qualquer forma de vida. Quando esta irrompeu na condição de organismos unicelulares e se diversificou com organismos pluricelulares, muitas foram as crises que a afetaram. Muitas espécies se extinguiram, inclusive espécies ancestrais do "Homo sapiens". No entanto, a vida e o planeta resistiram e continuam a existir.
Na verdade, o que os ambientalistas consequentes querem defender é o Holoceno, época com cerca de 10 mil anos. É nela que vivemos. É nela que a agricultura, a pecuária, a cerâmica, o manuseio de metais, a roda, a tecelagem, as cidades, o Estado, as grandes obras de engenharia foram inventados. No Holoceno, a humanidade, que já existia há um milhão de anos, acelerou os processos de transformação dos recursos naturais, criando as aldeias de pastores e agricultores, as civilizações e as revoluções econômicas. Foi nesta época tão nova e tão curta que uma civilização - a ocidental - alastrou-se pelo mundo e impôs seus padrões de vida a todas as outras culturas.
Afinal, qual o segredo do Holoceno? Por mudanças planetárias globais, a Terra começou a se aquecer naturalmente há 1o mil anos, tempo irrisório para um planeta que tem uma idade de 4 bilhões e 500 milhões de anos dentro de um Universo com cerca de 15 bilhões de anos. Este aquecimento, fenômeno já conhecido antes pela Terra, derreteu as geleiras do hemisfério norte, o que elevou significativamente o nível dos mares. A grande floresta que revestia o norte da África passou progressivamente à condição de savana, depois de estepe e finalmente se transformou no deserto do Saara.
As mudanças climáticas naturais foram responsáveis pela extinção de grandes espécies de mamíferos, tanto no hemisfério norte quanto no sul. As temperaturas continuaram a subir até alcançar o que os cientistas chamam de "optimum climaticum", um momento mais quente do que o atual. Foram tais mudanças que exigiram respostas da vida e da cultura. Já com cérebro correspondente ao atual em termos de complexidade, o "Homo sapiens" ou continuou como caçador, pescador e coletor ou inventou o agropastoreio. Houve grupos que se extinguiram, assim como espécies vegetais e animais.
As sociedades agropastoris prosperaram, derrubando florestas e drenando áreas úmidas. Foram elas que deram origem às civilizações e foram estas que levaram mais adiante o processo de destruição dos ecossistemas nativos. Mas, no Holoceno, não apenas ocorreram mudanças culturais profundas. Houve também mudanças naturais significativas. A primeira e talvez a mais importante foi a estabilização do clima nas condições que conhecemos hoje. Mesmo com oscilações de temperatura - ora mais quentes, ora mais frias -, o clima se estruturou de forma a permitir às sociedades humanas condições para promover tantas criações em tão pouco tempo.
Outra mudança fundamental foi a estabilização do nível do mar. Ele também oscilou e chegou mesmo a submergir e a criar grandes áreas continentais, principalmente na forma de planícies. A planície fluvial e marinha hoje correspondente ao território do norte do Estado do Rio de Janeiro começou a ser construído depois de 5.100 anos antes do presente, no Holoceno médio. A domesticação de plantas e de animais distanciou as espécies de suas origens.
Pois é exatamente o conjunto de características do Holoceno, indispensáveis ao desenvolvimento de culturas agropastoris e de civilizações, que está, presentemente, sendo bombardeado pela grande civilização ocidental, hoje na sua fase global e industrial. As estruturas atmosférica, oceânica, continental e biológica do Holoceno estão sendo abaladas pelas atividades econômicas coletivas e correm o risco de mudar tão drasticamente a ponto de criar outra época geológica, que os cientistas já vêm chamando de Antropoceno, isto é, uma época criada pela própria humanidade e hostil a ela. Claro que o Holoceno é apenas uma fase que deve ser substituída por outra naturalmente. Mas, enquanto existir, devemos defendê-la efetuando mudanças estruturais profundas.


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