Jorge Mario Bergoglio, o cardeal argentino eleito papa, Francisco, não é mesquinho e nem alheio à vida, isolado da realidade. Suas virtudes são políticas. É um dos mais duros críticos do governo da presidente Cristina Kirchner, foi protocolocar na condenação à ditadura naquele país e a despeito do voto de pobreza, vive dentro do sistema, mantém a igreja atrelada a conceitos medievais, agora, recheados com uma camada de chantili para dar a impressão de modernidade, ou tornar-se palatável. Por baixo dessa camada não existe marrom glacê, mas um osso duro de roer e à direita, dentro dos padrões do Vaticano.
Bergoglio não chega, necessariamente, a ser uma surpresa. No conclave que escolheu Ratzinger foi o segundo mais votado. Chegou ao Vaticano com um cacife eleitoral razoável. Sobre o brasileiro Odilo Scherer leva a vantagem de ser dissimulado (isso conta para a hipocrisia de Roma).
As mudanças serão de estilo e não de fundo. Deve tentar influir politicamente em seu país, nunca escondeu e de forma pública sua aversão tanto a Néstor Kirschner, quanto a sua mulher Cristina. A despeito de críticas a economia de mercado, nunca manifestou um ponto de vista conclusivo, apenas circundou os problemas de seu país, mais ou menos como faziam os antigos políticos do ex-PSD do Brasil. “Nem contra, nem a favor, muito antes pelo contrário, revendo meu ponto de vista.
No caso específico não estava e nunca esteve revendo nada. Exceto no que diz respeito a presidente Cristina.
Entre suas virtudes escondidas, o poder. A busca do poder é uma de suas características. Lembra João Paulo II, um produto de marketing. Sorri, enquanto sangram nos porões da monarquia absoluta que é a igreja, os seus adversários.
É jesuíta, uma ordem tradicionalmente conservadora e que durante muito tempo ignorou ou manteve-se alheia ao poder de Roma. Seu superior era chamado de “papa negro”. Começou a perder essa característica quando João Paulo II pôs fim a ela. Submeteu os jesuítas, fundado por Santo Inácio de Loiola um militar espanhol.
Um sujeito comum que só tenha virtudes é, em si, um chato. Um papa virtuoso é o sinal que latino-americanos terão problemas com as ingerências do Vaticano em questões políticas, principalmente, em países que buscam a independência plena, sem o controle de Washington.
Não há mudança alguma na igreja. Um novo showman foi eleito para gerir o Vaticano.
Essa é outra vantagem sobre o brasileiro Odilo Scherer. A falta de jogo de cintura, que sobra no argentino. No fundo são iguais. Ao dizer que os homossexuais “merecem respeito”, não está nem de longe discutindo o problema. Esta mantendo o estigma, a hipocria bem conhecida nos documentos secretos do papa anterior. Ao ser contra o aborto está deixando claro que nenhum dos dogmas férreos da Idade Média serão substituídos, ou revistos, apenas atenuados no discurso. Mas as câmaras de injeções letais do Vaticano continuarão nos cantos soturnos dos palácios papais do Vaticano.
Franciso talvez garanta a igreja uma sobrevida depois do fiasco Bento XVI. Mas só isso.
É uma espécie de canto da sereia, só isso. Ilude o pescador e o leva para o fundo do mar no atraso crônico de uma instituição em estado falimentar. Isso quer dizer perigo. Vem respaldado por forças conservadoras que podem causar estragos ponderáveis, sobretudo na América Latina, principalmente na Argentina.
Está longe de ser um Maradona, um Néstor Rossi, um Alfredo Di Stéfano.
E um detalhe, ironia ou não, o jornal brasileiro dedicado aos esportes, LANCE, chamou na edição de hoje, quarta-feira, antes da escolha de Francisco, o jogador argentino Lionel Messi de papa. Foi pelo desempenho no jogo de terça-feira contra a equipe da Milan.
Francisco não é uma incógnita. É a continuidade do atraso da igreja romana. Sua dimensão pode ser, inclusive, a de enfrentar os evangélicos, grupo de malucos que tenta roubar a primazia do contato divino que sempre foi privilégio do Vaticano.