Um Abed planta uma oliveira como símbolo de apoio aos agricultores palestinos. Foto: Eva Bartlett/IPS
Zeitoun, Gaza, 14/2/2013 – Tawfiq Mandil, de 45 anos, é um das centenas de agricultores e ativistas no distrito de Zeitoun, em Gaza, a meio quilômetro da fronteira com Israel, que participam de um novo chamado para boicotar os produtos dos assentamentos judeus. “O exército israelense destruiu minha casa e meus cinco dunams de terras (um dunam equivale a mil metros quadrados) no último dia da ofensiva de 2009, bem como outras 20 casas”, afirmou.Com cartazes onde se lia “Boicote aos produtos agrícolas israelenses” e “Apoiemos os agricultores palestinos”, Mandil e outros se reuniram no dia 9 para plantar oliveiras em terra arrasada por Israel e para renovar o chamado ao boicote a produtos desse país. Mandil afirmou que o boicote é a única esperança de justiça para os produtores palestinos. “Esperamos que isto pressione Israel a deixar de nos atacar e que nos permita usar nossa terra como sempre usamos”, acrescentou.
O fato de a mobilização acontecer perto da “zona de amortização” foi significativo. As autoridades israelenses proíbem os palestinos de se aproximarem a menos de 300 metros da fronteira entre Gaza e Israel. Porém, o exército israelense realiza ataques contra palestinos até a dois quilômetros da fronteira, em algumas áreas, afetando dessa forma mais de 35% das terras agrícolas de Gaza.
“Ao comercializar com os assentamentos judeus, os Estados não cumprem sua obrigação de cooperar de forma ativa para acabar com o avanço colonial israelense”, declarou o agricultor. “Portanto, se deve considerar uma proibição à comercialização com os assentamentos entre outras opções que terceiros países devem adotar para cumprirem suas obrigações de acordo com a lei internacional”, destacou.
A organização de direitos humanos palestina Al Haq divulgou um documento no mês passado condenando o comércio com os assentamentos israelenses. O estudo tem o título de Fazendo um festim com a ocupação: a ilegalidade da produção dos assentamentos e a responsabilidade dos Estados-membros da União Europeia de acordo com o direito internacional. “Embora a União Europeia tenha condenado de forma bastante clara os assentamentos e sua expansão, continua importando o que neles é produzido, e ao fazer isso ajuda a manter sua existência”, disse em um comunicado de imprensa o diretor-geral da Al Haq, Shawan Jabarin.
“Mais de 80 palestinos ficaram feridos e pelo menos quatro morreram em ataques israelenses em diversas zonas da fronteira desde o cessar-fogo adotado em novembro de 2012 entre Israel e a resistência palestina”, disse o ativista britânico Adie Mormech, de 35 anos, radicado em Gaza. “Há uma ação simultânea de protesto na Cisjordânia ocupada”, contou. “Estão plantando perto da colônia de Yitzhar, que é famosa por sua violência contra os palestinos. Em todo o mundo, cerca de 30 países realizam ações em solidariedade com os agricultores e pescadores palestinos”.
Um Abed, de 65 anos, se mostra desafiador. “Hoje estamos plantando oliveiras. Se Deus quiser, no próximo ano vamos plantar limões, tâmaras e palmeiras. Nós plantamos, eles arrasam, plantamos novamente”, enfatizou. Esta nova campanha é parte de uma onda de iniciativas semelhantes lançadas em Gaza nos últimos anos. Estudantes universitários de Gaza redobraram seu chamado ao boicote em 2012, publicando no site YouTube vídeos pedindo aos simpatizantes da Palestina na comunidade internacional que dessem apoio político, e não apenas assistência econômica ou humanitária.
A Campanha Palestina para o Boicote Acadêmico e Cultural Contra Israel (Pacbi) ganhou aos poucos apoio internacional, inclusive de universidades e acadêmicos da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos. Um crescente número de associações culturais e religiosas, como a quáquer Friends Fiduciary Corporation, estão retirando seus investimentos de empresas que têm lucro ou apoiam a ocupação israelense na Palestina. A Igreja Unida do Canadá apoiou em agosto passado o boicote aos artigos produzidos nos assentamentos.
Haidar Eid, professor da Universidade de Al Aqsa, em Gaza, e membro da Pacbi, explicou em que implica a campanha Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS). “Chamamos à implantação da Resolução 242 do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que indica uma retirada das forças de ocupação da Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém oriental”, afirmou. “A segunda demanda é a implantação da Resolução 194, para devolver a todos os refugiados palestinos os povoados e as aldeias de onde foram expulsos por razões étnicas em 1948. Queremos igualdade”, ressaltou.
A sociedade civil e os estudantes de Gaza estão na vanguarda da campanha BDS, mas também o governo da Faixa, a cargo do Hamás (Movimento de Resistência Islâmica), deu passos importantes para levá-la adiante, destacou o ativista norte-americano Joe Catron. “A campanha contra a Adidas começou em março de 2012, quando essa empresa patrocinava uma maratona em diversas partes de Jerusalém, incluindo algumas internacionalmente conhecidas como ocupadas. O Ministério de Juventude e Esportes de Gaza pediu à Liga Árabe que boicotasse a Adidas em resposta a isto, o que vários países fizeram”, contou à IPS.
Em setembro de 2012, o Ministério da Agricultura de Gaza decidiu proibir a entrada na Faixa da maioria das frutas israelenses. Agora “os agricultores palestinos podem cultivar as frutas para nosso consumo”, disse o diretor de Mercado do Ministério, Tahsen Al Saqa. “Devemos apoiar e proteger nossos produtores. Foram economicamente devastados desde 2006 pela proibição israelense de exportarem”, declarou. “O boicote é a chave, e está crescendo. O impulso é tal que não vai parar”, assegurou Adie Mormech. Envolverde/IPS
(IPS)