Efetivo militar norte-americano já não é suficiente para controlar aviões-robô. Eliminação de “inimigos” transferida a empresas privadas
Por Robert Johnson em Business Insider | Tradução: Vila Vudu
A Força Aérea dos EUA possui 230 aviões-robô (drones) modelos Reaper, Predator e Global Hawks. A qualquer momento do dia ou da noite, todos os dias, pelo menos 50 deles estão no ar “em missão”.
Mas é a incorporação à frota de 730 novos drones – a serem incorporados nos próximos 10 anos – que explica por que os “pilotos” estão sendo obrigados a “pilotar” quatro drones simultaneamente.
A enorme expansão do programa de drones ordenada pelo presidente Obama parece estar criando uma demanda de pilotos que os militares não estão conseguindo suprir.
David S. Cloud informa, no Los Angeles Times[1], que nos EUA os militares já cederam lugar a várias empresas contratadas, que ocupam todos os níveis de uma “corrente de matar”. Essas empresas privadas analisam todos os vídeos enviados pelos drones e tomam as decisões de ataque, quer dizer, há empresas contratadas para decidir onde e quando disparar os mísseis Hellfire instalados nos drones.
A prática não é nova.
Segundo Cloud, o “protagonista” no ataque de um drone Predator que matou acidentalmente 15 afegãos em 2010 foi um empregado de uma daquelas empresas, um civil, portanto, informação que o oficial do Exército que investigava o caso ignorava e muito o surpreendeu.
Os pilotos da frota de drones são assunto que preocupa cada vez mais a Força Aérea dos EUA.
É preciso equipe muito maior para pilotar à distância um drone, que para pilotar presencialmente um jato F-15. Com o grande aumento da frota de drones no governo Obama, cada vez mais o serviço está sendo entregue a empresas privadas contratadas. Cabe a essas empresas analisar os vídeos e manter no ar a frota de drones.
A Força Aérea informa que são necessários 168 técnicos para manter no ar durante 24 horas um drone Predator; e 300 técnicos para fazer voar um drone Global Hawk pelo mesmo período.
O programa anunciado semana passada – cada técnico passará a ser responsável por “voar” quatro drones simultaneamente – foi recebido com extrema preocupação, num contexto em que inúmeros aspectos legais permanecem na mais total obscuridade.
Apesar da oposição pela opinião pública, das questões legais envolvidas, e do estresse adicional a que ficaram submetidos os empregados das empresas contratadas, militares dos EUA e da Grã-Bretanha já falam com entusiasmo sobre “a grande promessa” que é o programa de um “piloto” no comando de quatro joysticks, um para cada drone.
A menos que a Força Aérea dos EUA amplie drasticamente seus esforços de recrutamento – o que é improvável, dados os cortes no orçamento dos EUA – é provável que aumente o número de empregados civis contratados, a serviço de empresas comerciais. Chegamos afinal à situação em que as corporações da indústria bélica estão, literalmente, com o dedo no gatilho, no comando de operações de guerra e disparando armas norte-americanas, em todo o mundo.
Por mais que se deva supor que a Força Aérea dos EUA ainda mantém algum grau de excelência no treinamento de seus pilotos, e tenha mecanismos eficazes para “filtrar” de seus quadros elementos moralmente indesejáveis, é evidente que não se pode esperar que empresas comerciais adotem os mesmos critérios de excelência na seleção e treinamento de seus empregados.
[1] 29/12/2011, “Civilian contractors playing key roles in U.S. drone operations”, Los Angeles Times, em http://articles.latimes.com/2011/dec/29/world/la-fg-drones-civilians-20111230.