Bo Xilai |
Não sou “olheiro” da China, mas como indiano que vive inquieto com o andamento das políticas neoliberais, o anúncio de que Pequim destituiu Bo Xilai [1] da presidência do Partido Comunista Chinês em Chongqing é provocação difícil de resistir.
Para um partido comunista, destituir um membro do Politburo não é pouca coisa. Havia insistentes rumores de que Bo seria promovido ao Comitê dirigente, de nove membros, do Politburo chinês, a mais alta esfera de poder nesse país gigantesco de quase 1,5 bilhão de habitantes.
Os “olheiros” da China mergulharão em infinitas especulações.
Assim sendo, permitam-me oferecer uma lufada de ar um pouco mais respirável.
Em minha opinião, Bo perdeu, antes de tudo, pela ameaça que seu chamado “modelo Chongqing” [2] representava contra o passado dogmático da China maoísta, ao afirmar as vantagens de uma economia regulada pelo Estado, com sociedade igualitária.
Recentemente, Bo disse que:
Mao Tse Tung |
“Como dizia o Grande Timoneiro Mao, quando estava construindo a nação, o objetivo de construirmos uma sociedade socialista é garantir que todos tenham emprego para trabalhar e comida para comer, e que todos juntos sejamos ricos. Se só alguns são ricos, começamos a cair no capitalismo e fracassamos. Se se cria uma nova classe capitalista, fica provado que, de fato, tomamos a estrada errada”. [3]
Vamos e venhamos... É blasfêmia total! Mais ainda na China de Xi Jinping. O Partido respondeu com aquelas declarações espantosas, depois do Congresso Nacional do Povo, quando “vovô” Wen Jiabao, primeiro-ministro em final de mandato, alertou que a China conheceria “tragédia” semelhante à Revolução Cultural [4], se desistisse do caminho das reformas e da abertura, que tão bem serve aos interesses do povo. Nessa frase, Wen tinha em mente as declarações de Bo. E assim, nos bizantinos corredores do poder, Bo perdeu a vez e o assento.
Quem tem medo de Bo?
O carisma jovem e fulgurante de Bo, e a atração que o “modelo Chongqing” exerce sobre muitos, indicam que Bo poderia estar encontrando eco entre amplas correntes de opinião que há na economia chinesa, que se mantêm céticas sobre as tais “reformas” e alguns aspectos das políticas atuais (como o festivo mergulho no mercado, ou a crescente desigualdade de renda que já se constata). Sua campanha, de estilo norte-americano, o gingado e o à vontade com que fala e se move tê-lo-iam tornado enervante, não só aos olhos do Partido Comunista Chinês – mas aos olhos de qualquer partido comunista, de qualquer canto.
Notas dos tradutores
[1] Sobre ele, ver: “Bo Xilai appears on Asia's most influential people list” (em inglês).
[2] “O chamado “modelo Chongqing” enfatiza o investimento controlado pelo Estado, com zonas de desenvolvimento, redes de transporte organizadas e efetivas e incentivos aos negócios. Empresas como Hewlett-Packard Co. (HPQ), Ford Motor Co. (F) e Coca-Cola Co. (KO) mantêm operações em Chongquig. O crescimento econômico dessa província, no centro da China, foi de 16,4% em 2011 e de 17,1% em 2010” (15/3/2012, Bloomberg, em: “Ousted Bo’s ‘Chongqing Model’ Outpaced Peers: Chart of the Day”.
[3] 14/3/2012, Xinhuanet, em: “Wen says China needs political reform, warns of another Cultural Revolution if without”.
[4] Sobre a fala de Wen Jiabao, ver em, 14/3/2012, redecastorphoto: WEN JIABAO: “A China precisa de reformas políticas, sem as dificuldades de outra Revolução Cultural”.
17/3/2012, *MK Bhadrakumar, Indian Punchline
“Mao loses, Long live Maoism!”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.
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