O que aprendi com a crise econômica

e57 O que aprendi com a crise econômicaEsta é minha última coluna de um ano muito rico e desafiante para os que se aventuram pelos caminhos da análise econômica. Confesso que nesse período aprendi muito como economista, tanto pelos meus erros que foram muitos, como pelos acertos, estes bem menos frequentes. Creio que sou hoje um profissional com instrumentos analíticos mais sólidos, mas, certamente, mais humilde e sem algumas certezas que carregava no passado.
Vou dividir com o leitor algumas das lições mais importantes desses longos anos de vaivém constante dos preços – muitas vezes histéricos até – dos principais ativos financeiros nos mercados do mundo. A primeira delas é que a crise financeira iniciou-se de verdade em novembro de 2007, embora a mídia lembre sempre da quebra do banco Lehman Brothers, em junho de 2008, como sua origem. Na verdade, nos momentos finais de 2007, as primeiras rachaduras no mercado de hipotecas ficaram claras e levaram a uma crise de pânico entre os investidores mais atentos. A economia norte-americana sentiu esse primeiro golpe e os valores do Produto Interno Bruto (PIB) mensal mostram queda forte entre novembro e fevereiro de 2008.
Mas a economia real nos Estados Unidos recuperou-se ao longo do primeiro trimestre de 2008, de forma que o PIB atingiu seu ponto histórico máximo da década em maio daquele ano, quando chegou a US$ 13,5 trilhões. Logo a seguir, com a quebra do Lehman Brothers, ele iniciou um período longo de queda, até atingir US$ 12,7 trilhões, em dezembro de 2009, uma queda de mais de 6%. Esse foi o pior momento para a maior economia do mundo.
Somente agora, em outubro passado, o PIB nos Estados Unidos voltou ao nível alcançado em maio de 2008. Se considerarmos outubro de 2007 como o ponto final do ciclo de crescimento norte-americano que começou no início do século, a crise custou aos norte-americanos o equivalente a US$ 1,3 trilhão, ou seja, 10% de toda riqueza gerada anualmente. Este valor corresponde à perda de quatro anos de crescimento a uma taxa média de 2,5% ao ano, que prevaleceu entre 2001 e 2007.
Outra lição importante desse período é a que mostra a diferença entre as recessões criadas por rupturas financeiras e as que acontecem, de tempos em tempos, por ajustes cíclicos normais em uma economia de mercado. O período de quatro anos necessários para recuperar o mesmo nível de PIB de antes do início da recessão foi mais de duas vezes superior ao das recessões cíclicas. Também podemos visualizar hoje o grau de sucesso da atuação do Federal Reserve (FED, o banco central norte-americano) nesse período, ao compararmos os quatro anos de agora aos quase dez anos necessários para a saída da Grande Depressão dos anos 30 do século passado. E ainda assim com a ajuda decisiva da Segunda Guerra Mundial.
Muitos analistas perderam sua áurea e credibilidade ao prever que algo semelhante também ocorreria agora, e ao berrar aos quatro cantos a sua certeza de que o FED falharia na sua missão. Também não têm razão os que simplesmente comparam a recessão de agora com as que tiveram origem nos ajustes cíclicos do passado e criticam a ação da autoridade monetária norte-americana (FED) pela demora da recuperação da atividade.
Mas é preciso lembrar que setores importantes da economia norte-americana ainda não apresentam uma funcionalidade normal e que serão necessários talvez mais dois anos para que a economia – como um todo – possa ser considerada totalmente recuperada. Serão então longos seis anos perdidos para a sociedade norte-americana, em função dos excessos e loucuras do setor financeiro.
Outra forma de avaliarmos o sucesso da ação de Ben Bernanke e sua equipe na condução da política monetária norte-americana dos últimos anos é a de olharmos para a forma como o Banco Central Europeu (BCE) vem lidando com os problemas da Europa atualmente. Focados apenas em uma inexistente ameaça inflacionária, paranoia que domina o corpo técnico do Bundesbank, e no fato de não terem nenhum compromisso institucional com o crescimento econômico da região, se recusam a usar os mesmos instrumentos de ação que levaram o FED a ter sucesso em estabilizar a economia. Por essa razão, é correto esperarmos que a duração do período de recessão na Europa será muito maior do que os quatro anos que ocorreram nos Estados Unidos.
Mas, se a economia norte-americana realmente consolidar sua recuperação, as dificuldades nas economias do Velho Continente poderão ser enfrentadas sem que o mundo sofra um novo período de instabilidades.

* Luiz Mendonça de Barros é engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso. Escreve às sextas-feiras, quinzenalmente, para a Folha de S.Paulo.
** Publicado originalmente no site EcoD.

 

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