No Alabama dos anos 50, neon indica "entrada para pessoas negras" (Gordon Parks)
Fotógrafo e cineasta Gordon Parks (1912-2006) documentou separação entre pessoas negras e brancas no Alabama em 1956; fotos são parte da exposição “Gordon Parks - Segregation Story” no High Art Museum de Atlanta
Cinquenta e oito anos antes do assassinato do jovem negro Michael Brown por um policial branco em Ferguson, nos Estados Unidos, desencadear uma série de protestos no país contra o racismo estrutural na sociedade norte-americana, o fotógrafo e cineasta Gordon Parks realizou a fotorreportagem “The restraints: open and hidden”, publicada na revista norte-americana Life. As 26 imagens registravam o cotidiano de três famílias negras no Alabama, estado no sul dos EUA que foi palco de importantes episódios da luta das pessoas negras por direitos civis nos anos 50.
As leis Jim Crow de segregação racial permaneceram em vigor em alguns estados dos EUA entre 1877 e 1965. Em 1955, na cidade de Montgomery, no Alabama, Rosa Parks, uma mulher negra, se recusou a ceder seu lugar em um ônibus a um homem branco, como ditava a lei. Em 1956, ano em que Parks fotografou as famílias Thornton, Causey e Tanner na cidade de Mobile, Alabama, a estudante Autherine Juanita Lucy foi a primeira pessoa negra a ser admitida na universidade do estado.
As fotos de Parks apresentam uma atmosfera serena e mostram como a segregação racial prevista em lei – e exposta em uma das fotos na divisão no atendimento a “brancos” e “negros” na sorveteria onde uma mulher branca atende um homem e três crianças negras – não significava separação absoluta entre pessoas brancas e negras – como mostra a foto de uma babá negra com a bebê e a patroa brancas, por exemplo. As imagens, entretanto, carregam uma tensão que fica exposta na presença de armas e nos semblantes sérios das pessoas retratadas – o único sorriso da série aparece no rosto de uma criança branca.
Parks, mais conhecido por ter dirigido o filme “Shaft” (1971), foi também o primeiro cineasta negro de renome em Hollywood. Autodidata, aprendeu a fotografar com uma câmera que comprou em uma loja de penhores aos 25 anos de idade. Como escreveu em uma de suas autobiografias (“Weapons of Choice”, 1966), a fotografia foi uma das armas que escolheu para promover mudança social.
As fotos são parte da exposição “Gordon Parks – Segregation Story”, no High Museum of Art de Atlanta, nos EUA, em cartaz até o dia 07 de junho de 2015. A reprodução na Samuel é cortesia da The Gordon Parks Foundation.