A morte de um jovem negro desarmado em Ferguson, Missouri, e a brutal resposta da polícia local aos protestos fez com que a mídia merecidamente passasse a examinar as práticas dos policiais nos Estados Unidos. Várias entrevistas revelam histórias de perseguição policial constante, mostrando que o tratamento desproporcional dispensado às minorias é generalizado. Trata-se, infelizmente, de uma ocorrência muito comum. Contudo, às vezes casos particulares podem mostrar a injustiça geral ao destacar o absurdo de uma situação.
No dia 22 de agosto, em torno das 5h da tarde, um homem negro que andava em LaCienega Boulevard em Beverly Hills, Califórnia, foi cercado pela polícia, algemado, revistado e preso com uma fiança estipulada em 6 dígitos. Ao contrário dos retratações dos procedimentos policiais na cultura pop (a não ser no seriado da FX The Shield), ele não teve lidos os seus direitos nem pode entrar em contato com um advogado por várias horas. Foi preso por suspeita de assalto à banco na área, cujo suspeito era descrito como “homem negro, alto e careca”.
Para os policias, tinha pouca importância que uma descrição tão vaga pudesse servir tanto para Shaquille O’Neal quanto para o motorista da van dos correios da região. Era um homem alto, negro e careca, muito parecido… até que, ao observarem a câmera de segurança do banco, viram que se tratava do homem errado e o liberaram.
O que fez com que essa história ganhasse notoriedade foi o fato de que esse homem errado era Charles Belk, produtor, diretor e dono de sua própria empresa de marketing. Ao vê-lo discutir sua vida e seu encontro com esses policiais, lembrei da campanha “If They Gunned Me Down” (“Se tivessem atirado em mim”, em português) no Twitter após a morte de Michael Brown e o que ela dizia a respeito da política da respeitabilidade. Se alguém que aparentemente marca todos os pontos múltiplas vezes no teste da sociedade americana que avalia se a pessoa é um Cidadão Respeitável pode ser tratado dessa forma, imagine o que aconteceria se ele não tivesse tais recursos à sua disposição — imagine que fosse um ator com dificuldades financeiras ou um garçom.
O tratamento dispensado às minorias. particularmente nos EUA, não importa se forem um Charles Belk ou João Ninguém, é parte do sistema que vê os não-brancos como uma massa amorfa e indiferenciada. Nas cidades em todo o país, as minorias são desproporcionalmente mais paradas e revistadas em busca de drogas e armas, são tratadas de forma mais dura pela polícia e tendem a “se encaixar na (ridiculamente vaga) descrição”. Dado o histórico de perfilamento racial, brutalidade policial e corrupção, aqueles que carregam o distintivo da polícia de uma ordem injusta são eles próprios suspeitos. As acusações são milhares de assassinatos e milhões de agressões, assaltos à mão armada, sequestro e terrorismo.
Brian Nicholson é ativista e escritor associado do Centro por uma Sociedade Sem Estado (c4ss.org)