Piotr Poroshenko vence eleição presidencial na Ucrânia |
Noirette comenta, no final dos comentários do último postado sobre a Ucrânia:
Sou menos otimista que b.
Realizar as eleições foi provocação doentia, pervertida.
Foi como se os golpistas dissessem – nós controlamos o “Estado” [seja lá o que for] e fazemos o que bem entendemos. Vocês aí nada têm a ver com a coisa e nós venceremos. Acho que antes da eleição talvez houvesse ainda uma pequena chance de “pacificação” e é possível que o tempo ajudasse. Mas depois da eleição, não, chance nenhuma.
Claro, oficialmente ou ostensivamente, a eleição foi realizada para legitimar os golpistas-de-Kiev com uma farsa de “democracia”, e para criar um novo interlocutor para Putin e para o “ocidente”, que é o que a maioria parece estar vendo no “eleito”.
O problema de Poroshenko não é ele ser judeu, mas ele ser o pior tipo de oligarca bandido. “Magnata do Chocolate” [risos, risos], segundo a imprensa-empresa ocidental. Em resumo, exatamente tudo que o povo da Ucrânia não quer e contra o que lutou e continua a lutar.
Em minha modesta opinião, todas as esperanças de uma Ucrânia “unida” ou “unitária” são hoje praticamente nada, sumiram. Lembrem, Yanukovitch tentou manter o status quo e o status quo veio abaixo. A proposta de “federalização” (Putin e outros), com estado central fraco, plus alta independência para as “Regiões” (em minha opinião, as oblasts são pequenas demais), nada significa, de importante.
Nesse momento, não há governo legítimo, mas um vácuo, que suga para dentro do buraco todos os tipos de atores. Isso continuará e degenerará, apesar do presidente “eleito”, e criará mais linhas obscuras. A dificuldade, como vejo as coisas, nem é tanto a língua, a cultura ou a política (partidos políticos na Ucrânia não passam de arranjos entre os próprios oligarcas), mas a ideia da “finlandização”, ou o que os franceses chamam de “estado tampão” [no sentido de uma camada para absorver choques].
Como pode ser restaurado aquele status quo ante, depois de tanta interferência? Quantos dos diferentes partidos realmente desejam que seja restaurado? Os golpistas-de-Kiev acham-se em posição de criar esse estado de coisas e recusar qualquer proposta que não seja de “uma Ucrânia unida”. Francamente, isso tem de ter sido deliberado. E Poroshenko foi parte da trama e teve apoio ocidental. (Sobretudo – mas não porque alguém dê alguma bola para o que os ucranianos desejem – meu palpite é que eles não estão gostando dessa ideia de Poroshenko.)
(1) Lembro um detalhe histórico ilustrativo. Yats, Yulia e Yushenko pediram para ser integrados à OTAN, em janeiro de 2008. O pedido foi apoiado por Bush, Obama e McCain. Subsequentemente, por causa de oposição interna, o Parlamento ucraniano foi bloqueado e não funcionou, de 25 de janeiro até 4 de março de 2008. Na reunião de cúpula da OTAN em abril, o pedido foi negado: britânicos e franceses votaram contra.
Minha opinião: tudo muito bom, tudo muito bem, mas é preciso considerar a realidade, a realidade econômica, que o Instituto Brookings tentou explicar.
A Ucrânia já foi espremida feito limão e os recentes empréstimos do FMI e do Banco Mundial não durarão para sempre. Nem EUA nem União Europeia querem pagar a conta dos 40 milhões de ucranianos. Não haverá portanto, no final, outra saída para Kiev – e não importa quem esteja mandando lá – que não implique acertar as coisas com a Rússia e aceitar as condições dos russos.
A Ucrânia precisa do gás e do petróleo russos e precisa da cooperação de defesa com a Rússia. Ainda não encontrei argumento que desminta isso e dê bases a conclusão diferente.
Os neoconservadores, é claro, tentarão obter outro resultado e apoiarão qualquer lunático ou lunática que apareça. Mas essa gente, como nós todos sabemos e já vimos tantas vezes, não tem qualquer senso de realidade em campo (mesmo que, tantas vezes, acabem eleitos).
[26/5/2014, [*] Moon of Alabama
“Ukraine: What Might Be The Outcome?”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu*]
“Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como “Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967).
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