Mineradores artesanais de diamantes trabalham em jazidas de aluviões perto da localidade de Koidu, em Serra Leoa. Foto: Tommy Trenchard/IPS
Nairóbi/Harare, Quênia/Zimbábue, 19/3/2014 – Com uma economia de US$ 2 trilhões, a descoberta de minerais e petróleo equivalente a milhares de milhões de dólares e uma grande quantidade de oportunidades para o investimento estrangeiro, a África se desfaz lentamente de sua imagem de subdesenvolvimento crônico. “Embora os investimentos estrangeiros diretos mostrem certo declínio em todo o mundo, na África aumentaram 5%”, afirmou à IPS o especialista em assuntos econômicos Ken Ogwang, da Aliança do Setor Privado no Quênia (Kepsa), integrada por cerca de 60 empresas.
Desde 2012 o Quênia vem descobrindo depósitos minerais como a jazida de nióbio (elemento que faz parte das cobiçadas terras raras), avaliada em US$ 64 bilhões. A descoberta, no condado de Kwale, fez dessa área do extremo sul do país um dos cinco principais locais de depósitos de terras raras, e colocou o Quênia em um mercado por muito tempo dominado pela China.
Em 2012, foram descobertas jazidas de 600 milhões de barris de petróleo no condado de Turkana, uma das regiões mais pobres no noroeste queniano. No dia 15 de janeiro, soube-se de outros dois depósitos que elevam as reservas estimadas para um bilhão de barris de petróleo. E o Quênia, potência econômica do leste africano, não é a única nação que fez novas descobertas minerais.
“O auge de descobertas minerais em países como Níger, Serra Leoa e Zâmbia atrairá milhares de milhões de investimentos estrangeiros diretos. O mesmo acontecerá em países como Moçambique, Tanzânia e Uganda devido às descobertas de petróleo”, apontou à IPS Antony Mokaya, da Kenya Land Alliance, uma rede local de organizações não governamentais que promovem a reforma agrária.
No ano passado, tanto Uganda quanto Moçambique descobriram petróleo. Em 2006, foi encontrado o equivalente a cerca de dois bilhões de barris no ocidente de Uganda, e a descoberta de 2013 elevou os depósitos totais desse país a 3,5 bilhões de barris. A primeira descoberta de petróleo em Moçambique, também em 2013, é estimada em 200 milhões de barris.
Ogwang argumentou que esses fatos determinarão que, em breve, os países africanos dominem a lista das 15 economias de mais rápido crescimento no mundo. “Mais países africanos – e entre eles o Quênia é um exemplo de modelo na África oriental – favorecem agora uma economia de mercado altamente competitiva e um sistema mais liberal”, acrescentou.
“Nesse sistema, o mercado é regido pela oferta e pela procura, com poucas restrições para os atores. É um contexto favorável para os investimentos estrangeiros”, destacou Ogwang, se referindo à indústria local de telefonia celular, dominada por empresas internacionais que aproveitam políticas regulatórias menos rígidas. “O crescimento desse setor é fenomenal. Nos primeiros 11 meses de 2013, as transações monetárias realizadas por telefone celular chegaram a US$ 19,5 bilhões, quantia superior ao orçamento do Estado, de US$ 18,4 bilhões”, pontuou.
Segundo esse especialista, os países africanos fortalecem cada vez mais suas associações com o Oriente. Estatísticas do documento Perspectivas Econômicas para a África mostram que a China é o maior destino das exportações africanas, representando um quarto de todas as vendas para o exterior.
O comércio com Brasil, Rússia, Índia e China – que junto com a África do Sul formam o bloco econômico conhecido como Brics – alcança US$ 144 bilhões e agora representa 36% das exportações da África, enquanto em 2012 era de apenas 9%. Em comparação, os intercâmbios da África com a União Europeia e os Estados Unidos juntos totalizam US$ 148 bilhões.
Entretanto, Terry Mutsvanga, diretor da Coalizão Contra a Corrupção do Zimbábue, alertou que, para esses recursos enriquecerem seus povos, a África terá de controlar seus políticos corruptos. Segundo o Banco Mundial, nesse continente vivem algumas das pessoas mais pobres do mundo: um em cada dois africanos vive na pobreza extrema. “Se a África não enfrentar o câncer da corrupção política que infesta o continente e lhe rouba divisas dos recursos minerais por meio de políticos corruptos que recebem subornos dos investidores, o continente continuará com os piores níveis de pobreza do mundo”, advertiu à IPS.
O analista econômico independente Jameson Gatawa, do Zimbábue, disse à IPS que “os negócios obscuros na mineração de diamantes e outros minerais alimentam a pobreza. Os ricos estão ficando mais ricos e os pobres ficando mais pobres”. Sarudzai Mutavara, viúva de 54 anos que vive em meio às jazidas de diamantes de Marange, no oeste do Zimbábue, é uma prova viva. “Aqui a riqueza dos diamantes não ajudou de modo algum a mudar nossas vidas para melhor, mas sim para pior, pois afundamos ainda mais na pobreza”, contou a mulher à IPS.
O Zimbábue é um dos dez principais produtores de diamantes do mundo, mas seis em cada dez famílias do país, com 13 milhões de habitantes, são indigentes, segundo um informe de 2013 da Agência Nacional de Estatísticas.
A República Democrática do Congo é outro país rico em diamantes. Estima-se que sua riqueza mineral gire em torno dos trilhões de dólares. Mas, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 75% de sua população vive abaixo da linha de pobreza. Mais da metade dessas pessoas não tem água potável nem cuidados básicos de saúde. Três em cada dez crianças estão mal alimentadas e até 20% delas morrerão com idades em torno dos cinco anos.
Ogwang acredita que os melhores anos econômicos da África estão por vir. Contudo, falta ver se a fabulosa riqueza existente nesse território beneficiará algum dia milhões de pessoas como Mutavara. Envolverde/IPS
(IPS)