“Tamarod” egípcio: Ação política com prazo de validade

[*] Tamarod  será a primeira vítima de seu sucesso, disse Mohamed Abdel-Baky. Nada poderia agradar mais aos seus organizadores!

Manifestantes do grupo Tamarod em 30/6/2013

Quando o obstetra Ayman Zein perguntou à mulher que acabava de dar à luz uma criança na  Praça Tahrir, que nome daria a ela, a mulher respondeu: “vai-se chamar Tamarod [ar. “rebelde”]”.

 

A campanha que serviu como gatilho para os protestos contra o presidente Mohamed Mursi nunca previu que seria o primeiro passo que levaria milhões de egípcios comuns às ruas, para exigir a renúncia do presidente. Lançada por um grupo de jovens ativistas, o abaixo-assinado “Tamarod” obteve, segundo o movimento, mais de 22 milhões de assinaturas, em apenas dois meses de campanha na qual exigiram que Mursi renunciasse e que as eleições fossem antecipadas.

Duas semanas antes dos protestos marcados e programados para 30 de junho, Mahmoud Badr, cofundador da campanha, disse ao jornal Al-Ahram Weekly que, tão logo o movimento Tamarod alcançasse seu objetivo, não haveria motivo para manter a campanha.

Tamarod, diz o analista político Abdallah Helmi, não parece interessado em converter-se em partido político:

Os 22 milhões de pessoas que assinaram o abaixo-assinado de Tamarod são cidadãos egípcios comuns, que não querem que a Fraternidade Muçulmana governe o Egito. Esse é o único item de programa com o qual todos concordar. Absolutamente não são membros potenciais de algum partido político – diz Helmi.

Amr Bakli, comentarista, enquanto discute o futuro político da campanha e dos nomes a ela associados, destaca que o sucesso que obtiveram na mobilização popular inevitavelmente terá algum impacto na formatação do mapa do caminho para o período de transição que virá depois da queda do governo de Mursi.

Bakli prevê que o movimento Tamarod desapareça suavemente da cena política, embora preveja novos confrontos, no caso de a Fraternidade Muçulmana tentar obter, dos militares, para os “irmãos”, qualquer tipo de privilégio.

Líderes da campanha entendem que ninguém deve coisa alguma à Fraternidade Muçulmana e que ceder nesse campo apenas facilitará o processo que os Irmãos conhecem bem, de manobrar para obter favores para eles mesmos – diz Bakli.

O movimento Tamarod já rejeitou a última oferta feita por Mursi, que propôs um diálogo nacional; responderam que o povo egípcio já deixara bem claro que deseja o fim do governo Mursi.

Não é hora de ceder coisa alguma. A única coisa é fazer é encerrar de forma pacífica o governo da Fraternidade Muçulmana e garantir que nossa revolução possa recomeçar, diz o porta-voz do movimento, Hassan Shahin.

O movimento Tamarod – não controla os milhões de egípcios que se manifestam nas ruas. A única coisa que podemos fazer é ouvir o que dizem e repetir o que dizem. A campanha não pode ceder em nenhuma de suas exigências, porque ceder nisso é andar contra as expectativas dos egípcios, diz Shahin

Agora, para Badr, o papel mais importante do movimento-campanha é manter a pressão sobre a Fraternidade Muçulmana, para que cedam, saiam do governo e abram caminho para um novo processo democrático. O movimento Tamarod procura agora ajudar a oposição a unir-se com eles, nas negociações que tenham de fazer com os militares, em futuro próximo. Para isso, o movimento, no domingo, ajudou a lançar a “Frente 30 de junho”, que reúne o movimento Tamarod e todos os grupos de oposição, inclusive a Frente de Salvação Nacional.

Na 3ª-feira, a Frente anunciou que escolhera Mohamed El-Baradei como seu representante e negociador oficial.

El-Baradei coordenará esforços com instituições do Estado, para ajudar a construir um mapa do caminho para o governo de transição concebido pelos grupos de oposição ao longo dos últimos dias – disse a Frente, em declaração.

A Frente também decidiu ontem (3ª feira) que o líder da oposição será seu principal negociador, no contato com os militares, durante a transição.

O exército mostrou boas intenções, e está protegendo o desejo do povo. Nosso papel é dar ao exército o mapa do caminho que construímos há três semanas, em cooperação com as forças de oposição, para que seja implantado – disse o porta-voz da Frente.

O mapa do caminho proposto pelo movimento Tamarod dia 26/6 inclui a indicação de um primeiro-ministro independente, que represente a Revolução de 25 de Janeiro; o desmonte do Conselho da Shura; a suspensão da atual Constituição e a elaboração de nova Constituição. Segundo esse mapa do caminho, o primeiro-ministro convocará um Conselho de Defesa Nacional, encarregado de prover e defender a segurança.

Praça Tahrir no Cairo (noite de 1/7/2013)

Enquanto alguns analistas manifestaram temores de que o sucesso do movimento Tamarod possa abrir caminho para que outros grupos de oposição tentem sequestrar a segunda fase da revolução egípcia, Badr não parece temeroso. O movimento Tamarod, diz ele, é constituído de pessoas comuns, egípcios absolutamente comuns, não de políticos.

Todo mundo no Egito sabe que o sucesso da Revolução 30 de Junho é sucesso do povo egípcio, não do Tamarod ou de qualquer dos outros grupos de oposição – disse.


[*] Perfil do grupo egípcio TAMAROD  

1/7/2013, BBC, Londres
Profile: Egypt's Tamarod protest movement
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Manifestante exibe cartaz do grupo Tamarod em 30/6/2013 

Tamarod” [ar. “rebelde”] é um novo movimento de base, surgido no Egito, e que parece ter servido como catalisador do movimento popular nacional contra o presidente  Mohammed Mursi, um ano depois de ter sido eleito à presidência, na primeira eleição que o Egito conheceu em toda sua história moderna.

Esse grupo que se autodenominou “Rebelde”, diz que recolheu mais de 22 milhões de assinaturas num abaixo assinado que exige o fim do governo do presidente Mursi, para que se realizem novas eleições no Egito.

Depois das massivas demonstrações do domingo, das quais participaram milhões de egípcios nas ruas do Cairo e de outras cidades, o grupo Tamarod deu ao presidente um ultimatum, para que renunciasse até as 17h (15h GMT) da 3ª-feira, ou enfrentaria companha de “total desobediência civil”.

O mesmo ultimatum exigia que “instituições do Estado, inclusive Exército, Polícia e Judiciário, se alinhassem imediatamente ao desejo do povo, manifestado pelas multidões nas ruas”.

Foi o grupo Tamarod que rejeitou a oferta do presidente Mursi, para um diálogo nacional.

Não há como aceitarmos meias medidas – o grupo declarou. – A única via possível é pôr termo pacífico ao poder da Fraternidade Muçulmana e de seu representante, Mohamed Mursi.

Muitos manifestantes acusaram o presidente de pôr os interesses da Fraternidade Muçulmana, poderoso grupo político-islamista ao qual Mursi pertence, à frente dos interesses do país como um todo. Os defensores de Mursi rejeitaram as acusações.

“Surpreendente”

O grupo Tamarod foi fundado no final de abril, por membros do Movimento Egípcio pela Mudança [orig. Egyptian Movement for Change] mais conhecido pelo slogan Kefaya (“Basta!”), que exigia uma reforma política no Egito ainda sob governo do ex-presidente Hosni Mubarak em 2004 e 2005. Embora o movimento Kefaya tenha participado dos protestos de massa que levaram à renúncia de Mubarak, em 2011, não chegou a ter papel muito destacado.

Abaixo assinado do grupo Tamarod (Rebelde)

Tamarod organizou-se para recolher assinaturas num abaixo-assinado em que o grupo denuncia:

·       A segurança nunca foi restaurada desde a revolução de 2011;
·       Os pobres “não têm lugar” na sociedade;
·       O governo teve de “implorar” ao Fundo Monetário Internacional (FMI) por um empréstimo de $4,8bn (£3,15bn) para fazer frente às despesas do Estado;
·       Não há “justiça” para os que foram assassinados por forças de segurança durante o levante e os manifestos contra o governo que aconteceram depois do levante;
·       “Os egípcios estão obrigados a sobreviver sem dignidade” no seu próprio país;
·       A economia “colapsou”, o crescimento é baixo, e a inflação é alta;
·       O Egito “segue atrás, nas mesmas pegadas dos EUA”.

Os ativistas do movimento Tamarod tornaram-se imagem frequente e familiar nas ruas do Egito, bloqueando o trânsito para distribuir panfletos e recolher assinaturas para seu abaixo-assinado. O grupo também recolheu assinaturas em sua página Internet, pelo Facebook e Twitter.
 
Tamarod diz que as assinaturas de seu abaixo-assinado foram verificadas nos registros eleitorais oficiais. E outros grupos de oposição rapidamente jogaram seu peso político a favor da campanha, oferecendo apoio logístico e escritórios.

********

No final de junho, o movimento Tamarod anunciou que reunira 15 milhões de assinaturas, as quais, insistem eles, foram verificadas nos registros eleitorais recentes do Ministério do Interior. Cada signatário assina, com número de identidade e endereço da província onde resida.

O Partido Liberdade e Justiça, da Fraternidade Muçulmana contestou os números do abaixo-assinado e disse que o movimento Tamarod não recolhera mais que 170 mil assinaturas.

No sábado – um dia antes dos protestos de massa que o movimento convocou para marcar o 1º aniversário do governo de Mursi – o movimento anunciou que alcançara 22 milhões de assinaturas, mais de ¼ da população do Egito.

Um dos fundadores do movimento Tamarrod avaliou como “surpreendente” o sucesso do abaixo-assinado. “Não sei quantos membros temos por aí. Posso imaginar que milhões de egípcios são membros” – disse Ahmed al-Masry à Agência Associated Press. – “Num dado momento, o povo desistiu [de Mursi]. Não se ouvia outra voz que não fosse do presidente e sua tribo.”


4/7/2013, Al-Ahram Weekly, Cairo
Campaign with a sell-by date
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
http://redecastorphoto.blogspot.com.br
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