Edward Snowden, o agente da CIA, de 29 anos, que denunciou a vigilância permanente de todo o sistema de comunicação dos EUA, deu materialidade ao que já se desconfiava. Ou se temia que fosse possível um dia: o estado policial dotado de grandes olhos capazes de bisbilhotar todas as dimensões da vida em sociedade. "O que a comunidade de inteligência está fazendo é olhar os números de telefone e a duração das chamadas. Eles não estão olhando nos nomes das pessoas, e não estão olhando o conteúdo, mas, estudando os assim chamados "metadados"; (assim) eles podem identificar algumas tendências.
É impossível ter 100% de privacidade e 100% de segurança", tranquilizou o democrata Barack Obama.O que a denúncia sugere, porém, é um pouco mais que isso. Já vivemos em uma sociedade panóptica - metáfora emprestada do pai do utilitarismo inglês, Jeremy Bentham, cuja síntese filosófica está condensada em um projeto carcerário perfeito. Nele, as celas são distribuídas em torno de uma torre central, o panóptico, facilitando a vigilância ininterrupta sem que os presos possam enxergar a sentinela no interior do obelisco. A ubiqüidade do carcereiro invisível daria ao francês Michel Foucault (1926-1984), a inspiração para entender a exasperação do controle social no século XX.
O panóptico não assegura apenas a disciplina do sistema. Ele o faz ao menor custo e com a máxima a eficiência: sua lógica consiste em aprisionar a subjetividade dos indivíduos tornando-os assim carcereiros de suas próprias vontades, pela força do medo.