Macaé ainda engatinhava nos anos 30. Sua vida tinha o sabor maravilhosamente suave que toda cidadezinha de interior tem em sua essência. Sol, pesca, gente se cumprimentando nas ruas empoeiradas, crianças soltando suas pipas e jogando boléias pelas esquinas, troca de olhares furtivos entre adolescentes, praias com águas cristalinas, boiadas indo e vindo em suas ruas, um ou outro carro que é olhando com curiosidade por preguiçosos moradores e, numa pequena oficina na rua direita, é fundado O REBATE. Homens corajosos para uma época de chumbo.
Haviam expulsados do poder o nosso macaense Washisgton Luiz Pereira de Souza. Macaé estava sendo uma cidade vigiada pelos que assumiram a República. O ex-presidente W.Luiz ousou dizer que: GOVERNAR E ABRIR ESTRADAS. Isto incomodava e, ainda mais sendo considerado o PAULISTA DE MACAÉ. Mineiros e gaúchos não tinham engolido a presença deste menino, nascido nas poeiras das fazendas de Macaé e ido para SP para ser presidente.
Foi mais ou menos assim que um grupo de macaense fundou, em 16 de abril de 1932 o jornal O REBATE. Todos ainda sentiam a ausência do O SECULO do velho Cezar Mello.
Composto a mão este jornal não se dobrava ao poder econômico da elite dos anos 30 e sofreu atentado. Jagunços pagos, como sempre na calada da noite, invadiram com paus, pedras, espingardas e bornais cheios de reais, quebrando tudo. Durante alguns anos o jornal teve que ser impresso em outros lugares. Veio à ditadura Vargas, vieram outros governos e com eles outros dirigiram o jornal.
Nos anos 60, precisamente em 1967, assume o jornal um grupo jovem que leva ao jornal uma linguagem moderna, progressista de vanguarda e revolucionária. Assumi esta função. Com alguns destes jovens da época, fiz com que o jornal assumisse uma postura cultural e de informação séria. Estávamos sob a tutela do regime militar e sabíamos que nossa missão era extramente perigosa. Todos nós tínhamos um objetivo comum. Fazer o contraponto e ir fundo na busca de uma imprensa livre.
Os articulistas Padre Nabais, Cláudio Upiano, Euzébio Mello, escolhidos a dedo por mim, traziam noticias e fatos provocativos. Sofremos forte censura. Detenção, ameaça de paramilitares, olhares brutos. Nabais é transferido de Macaé. Debalde o procuramos. Jamais soubemos deste bravo padre. Cláudio resolve ir fazer filosofia na UERJ. Eu e Euzébio somos enquadrados no AI-5 e respondemos IPM no Exército e na Marinha. Ele deixa a faculdade que cursava no Rio e eu, veladamente sou convidado a não renovar matricula no meu curso de Direito.
No Rio de Janeiro o Jornal "Tribuna da Imprensa" sofre a mesma censura que "O Rebate". Helio é obrigado ao confinamento em alguma guarnição militar. Pirassununga ou Macaé eram as cidades. Imediatamente O REBATE oferece emprego ao Hélio. A nossa coragem e alvo de grande comentário nas páginas da Tribuna.
Os anos 70 começam e novos rumos são dados à imprensa nacional. Um sensor militar assume a vigília de nossas oficinas da Rua Marechal Deodoro, 150. Armando Barreto, Lecino Mello, Luiz Ernesto, Luiz Pinheiro, Osmar Sardemberg, Sergio Quinteiro, Tarcisio Figueiredo, e outros articulistas são obrigados s ter suas matérias lidas e censurados letra por letra.
Em 1976, somos forçados a paralisar, sem capitular, nossas edições. Antes porém, orientados pelo bravo advogado Álvaro Paixão Jr. e pelo Desembargador Ronald de Souza, registramos nos livros competentes o titulo do jornal para evitar a pirataria que sempre ronda a vida social de Macaé.
Hoje o REBATE volta on-line. Esperamos a mesma coragem. Embora velinho, aos 74 anos não aprendeu a acocorar-se ao poder nem ser objeto de compra por políticos. Se as costas estão curvadas pelo tempo esta não esta em subserviência nem medo. Estamos ai, agora mundialmente.