Seja um bom exemplo para seu filho

Todos nós temos sonhos. Mas algumas vezes não realizamos como gostaríamos ou simplesmente transferimos. É assim também na vida esportiva. Já viu alguma vez o pai que não conseguiu ser jogador de futebol, apostar todas suas fichas para que seu filho tenha “sucesso” e muitas vezes exagerar na dose e na cobrança?

Vemos sempre os pais gritando nos bastidores, torcendo muitas vezes sem controle e até brigando ou com a arbitragem ou com a criança adversaria do seu filho. Fico imaginando: que exemplo estamos dando para nossos filhos? Esses excessos mascarados de incentivos são positivos ou negativos?

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Para ter uma influência positiva sobre aqueles que nos rodeiam, incluindo crianças e outros pais, nós precisamos fazer mais do que apenas aplaudir nossos filhos ensinando o espírito esportivo.

Aqui listei cinco coisas que você pode fazer para dar bom exemplo como pai:

1. Seja pai, não técnico: resista à vontade de criticar
Alguns pacientes que atendo dizem que temem a volta para casa com seus pais depois de um jogo ou partida. Isso porque, ganhando ou perdendo, sabem que o pai irá repassar seu desempenho detalhadamente, apontando todos os seus erros.
Cuidado com a cobrança! O atleta na sua maioria, já conhece cada falha cometida e não precisa de você para lembrá-la do óbvio, e sim do seu amor e carinho. O ressentimento resultante dessas críticas e as falhas de comunicação, levam a criança a desistir de continuar a prática esportiva e não é isso que queremos. O desejo de criticar o desempenho apesar de parecer muito natural para os pais, no entanto, gera conflito.

Muitos dos atletas de maior sucesso que atendo compartilham algo em comum: recebem um abraço, um toque dos pais e sempre o estímulo: divirta-se!  Deixe as críticas para o treinador. Esteja lá por ele, independente do resultado! Às vezes, apenas estar lá mostra a seus filhos o que é ser um bom pai.

2. Seja grato
Se você conseguir elogiar os funcionários por seu trabalho árduo após um jogo (especialmente se a equipe do seu filho perde), você será recompensado com o prazer de ver um sorriso surpreso de retorno. As autoridades esportivas e staff que organizam eventos de esporte quando tem esse feedback positivo, por mais raro que seja, sempre os motiva a fazer o melhor que podem e alguns ainda, dependendo da modalidade, participam de eventos de forma voluntária estimulando-os ainda mais a manter a motivação por estar ali.
Muitas vezes as únicas palavras que um funcionário ouve (e lembre-se, que estas são geralmente faladas pelos próprios jovens), são as duras críticas como: “você roubou” ou ainda: “compre óculo”, ou até mesmo “você está marcando errado o jogo”. Se pelo menos um dos pais agradecer o juiz depois dos jogos, você será um exemplo certamente que se espalhará para outros pais em sua equipe.

3. Fale com os pais do outro time: eles não são inimigos
Naturalmente, os pais da equipe que perdem ficam em silêncio, e as vezes atordoados, fecham os olhos quando seu filho erra ou perde. Imagine se um dos pais do lado vencedor, passar para o lado do time perdedor e começar a apertar as mãos dizendo-lhes que foi um bom jogo ?
Imediatamente voltam os sorrisos nos rostos desses pais, os ombros se erguerem e sua energia volta com esse simples gesto do “inimigo”. Às vezes ficamos tão frustrados devido a rivalidade na cidade, ou um grande jogo contra outra escola, que esquecemos que o outro time é como o dos nossos filhos. De pais que se preocupam tanto quanto nós.

Com essas atitudes, mostramos aos nossos filhos que podemos interagir com os pais da outra equipe valorizando a partida e o esforço.

4. Torça por todas as crianças, mesmo aquelas do outro time
Ser diferente é surpreendente! Tente aplaudir um esforço ou uma boa jogada – não importa quem a faça (mesmo que seja do adversário, como aplaudimos num jogo de tênis, por exemplo). Se você se concentrar obsessivamente em seu próprio filho em um evento esportivo você está dando um sinal claro de que não se preocupa realmente com a equipe ou o evento. Mostre que o coletivo e o esporte é o mais importante!
Pais que gritam e torcem por todas as crianças dão um ótimo exemplo, enviando a mensagem de dar o melhor de si, de se esforçar e aproveitar o jogo, não sobre ganhar e perder. Esse é o verdadeiro espírito esportivo que você pode ensinar, pois a vida é saber lidar com os altos e baixos também.

5. Mantenha-se fisicamente ativo
Não poderia encerrar com outra dica: dê exemplo! Você provavelmente não ficará chocado ao saber que seu filho aprende mais te observando do que qualquer outra pessoa. Se você incentivar fortemente seu filho a participar de um esporte, mas não é fisicamente ativo, você está enviando uma mensagem mista. Como podemos esperar que nossos filhos cresçam para serem ativos e adultos saudáveis ​​se nós mesmos somos viciados em televisão e celular?
As vantagens para os pais permanecerem ativamente envolvidos em esportes e atividades físicas enquanto seus filhos participam de esportes são muitas, e isto promove um direcionamento externo que ajuda os pais a olharem além de seus filhos e a se envolver. Estar emocionalmente presente em seu próprio esporte ajuda a evitar sobrecarregar seu filho com atenção. É difícil ser muito crítico com o seu filho em um esporte se você está constantemente sendo confrontado por quão difícil é avançar e competir na sua categoria e desenvolver habilidades motoras e cognitivas complexas de um esporte após certa idade. Isso acaba dando mais paciência para ajudar seus filhos e obviamente a cuidar da sua saúde!

Os melhores programas esportivos são aqueles que incluem a família inteira. Quer melhor maneira de as crianças aprenderem a se divertir e a praticar esportes do que compartilhar as atividades com seus pais e irmãos? Então papais: Divirta-se nos esportes e bons treinos!


Ana Paula Simões é Professora Instrutora da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Mestre em Medicina, Ortopedia e Traumatologia e Especialista em Medicina e Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. É Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé, da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte; e da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte.

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