O site do torturador Brilhante Ustra publicou (vide aqui) nome, foto e dados pessoais do manifestante que cuspiu num dos oficiais da reserva participantes da criminosa apologia do totalitarismo e do terrorismo de estado que teve lugar dia 29 no Clube Militar do Rio de Janeiro, bem como de outros quatro cidadãos que se posicionaram contra aquela abominação.
O objetivo alegado foi "disponibilizar material para que o Clube Militar, assim como o agredido possam acionar a justiça".
Mas, há sempre possibilidade de eles se tornarem alvos das práticas habituais do antigo DOI-Codi: sequestros, torturas, assassinatos.
Os defensores dos direitos humanos devem tomar imediatas providências para a proteção da vida e da integridade física dos cinco.
Se qualquer um deles sofrer uma agressão covarde como as que são marca registrada da ditadura militar, já sabemos quem deve ser responsabilizado como indiscutível instigador e provável mandante.
Finalmente, eis algumas perguntas que não querem calar:
- O que mais agride as leis do País, a cusparada que um jovem de 22 anos, justificadamente indignado, aplicou no coronel aviador Juarez Gomes da Silva, presidente do Ternuma-RJ, ou a própria atuação do Ternuma-RJ na justificação/exaltação do arbítrio, minimização de atrocidades e manutenção de campanhas de ódio permanentes (incluindo as de difamações, calúnias e injúrias contra os heróis e mártires da resistência à tirania)?
- Que consideração merece tal personagem, um destrambelhado que já apareceu na IstoÉ se propondo a desenvolver uma campanha publicitária para denunciar autoridades federais (inclusive a então ministra Dilma Rousseff) como "terroristas" e declarando que o então ministro da Justiça Tarso Genro não passaria de um "canalha" (vide aqui)?
- Quem levantou os nomes e dados pessoais dos quatro outros manifestantes, afora o do sociólogo Gustavo Santana, que apareceu no noticiário como vítima de agressão bestial da PM (teve o braço quebrado)?
O Brilhante Ustra parece ter montado um DOI-Codi privado em plena democracia.
É o caso de averiguarmos se ele não está usurpando funções da polícia ao realizar investigações, e da imprensa ao divulgar os resultados.
Não sei se é legal. Mas moral, com certeza, não é.
Trata-se do preço que estamos pagando por não havermos instalado em 1985 um tribunal como o de Nuremberg. Redemocratização pela metade dá nisso.
CHAME O LADRÃO, CHAME O LADRÃO!
O sociólogo Gustavo Santana, manifestante que teve o braço fraturado por um policial militar, concedeu ótima entrevista à companheira Ana Helena Tavares (leia a íntegra aqui).
Como na canção célebre de Chico Buarque, parece que o jeito é chamar o ladrão, pois a polícia barbariza os homens de bem e atua como guarda pretoriana dos pregadores de quarteladas, ditaduras, torturas, genocídios, execuções a sangue frio, estupros, ocultação de cadáveres, etc.
Várias vezes já propus às forças democráticas brasileiras e aos cidadãos com espírito de justiça que levantem a bandeira da proibição de se fazer apologia do golpe de 1964, com o indiciamento e instauração de processos contra os infratores.
Negar o Holocausto é crime nos países civilizados, levando à prisão até historiadores. Está mais do que na hora de o Brasil assumir idêntica postura em relação aos que até hoje envenenam a mente das novas gerações com exortações em tudo e por tudo equiparáveis às dos nazistas.
* jornalista, escritor e ex-preso político. http://naufrago-da-utopia.blogpot.com