É de  Norman O. Brown a tese de que o capitalismo, em sua fase terminal, tornou-se  agente da destruição da humanidade. 
 A teorização dele em Vida contra morte (1959) é tão complexa que os resumos se tornam inevitavelmente reducionistas e  empobrecedores. É melhor mesmo enfrentarmos a obra, uma das poucas que trazem  reais subsídios à compreensão do nosso tempo... mesmo meio século depois!
 O certo é que, indo além do óbvio ululante de que  o capitalismo já esgotou sua função histórica e está prenhe de revolução, O.  Brown dissecou com ferramentas freudianas, exaustivamente, as características  que o vampiro assume em sua sobrevida artificial, concluindo que ele cataliza  as energias destrutivas dos homens, voltando-as contra eles. 
 Fantasioso? Se pensarmos na destruição e no caos  que estão à nossa espera nas próximas décadas, decorrentes das agressões  insensatas ao meio ambiente, perceberemos que ele foi, isto sim, profético.
 Vide, p. ex., esta notícia da Agência  Brasil, assinada pela repórter Renata Giraldi, que aproveitou despachos  da BBC e de outras agências internacionais:
 "O mundo está 'perigosamente' despreparado para  lidar com futuros desastres naturais, advertiu a agência de desenvolvimento  internacional da Grã-Bretanha. A agência britânica informou que o despreparo é  causado pela ausência de contribuição dos países ricos ao fundo de emergência  mundial.
 O fundo de emergência é uma iniciativa da  Organização das Nações Unidas, criada como resposta a tsunamis, com o objetivo  de auxiliar regiões afetadas por desastres naturais.
 De acordo com informações de funcionários da ONU,  o fundo emergencial sofre com um déficit equivalente a R$ 130,5 milhões para  2012.
 A escassez do fundo, segundo especialistas, tem  relação direta com a série de tragédias naturais que ocorreram ao longo de 2011,  como o tsunami seguido por terremoto no Japão; a sequência de tremores de terra  na Nova Zelândia, enchentes no Paquistão e nas Filipinas e fome no Chifre da  África.
 Ontem (26) peritos japoneses e estrangeiros  concluíram que medidas de precaução adequadas poderiam ter evitado os acidentes  radioativos, na Usina de Fukushima Daiichi, no Nordeste do Japão, em 11 de  março deste ano... 
 ...Segundo eles, houve falhas no que se refere às  influências de terremotos e tsunamis na estrutura física da usina".
Resumo da opereta: o lucro é a prioridade máxima,  dane-se a nossa sobrevivência! 
 A mesma lógica perversa se  constata numa infinidade de outras ocorrências. O capitalismo nos obriga a  flertar com a morte. 
 O pensador nascido no México, filho de um casal  estadunidense, apostava na  ressurreição dos corpos, na  liberação do erotismo para derrotarmos a repressão e a morte --um pouco na  linha de Wilhelm Reich, só que com argumentação bem mais sofisticada.
 Contudo, deve ser também considerada a tese de  Herbert Marcuse sobre a  dessublimação repressiva sob  o capitalismo, ou seja, uma dessublimação meia-boca, que não extingue a  repressão.
 É como pode ser considerada a atual banalização  do sexo como descarga física, sem real envolvimento amoroso. 
 Ou seja, o sexo casual, coisificado, em que os  parceiros usam um ao outro para obterem seu prazer egoísta, sem doação, sem  verdadeiramente se complementarem. 
 Este acaba reforçando a repressão, ao deslocá-la  para o outro oposto: em lugar do amor com sexo travado de outrora, o sexo  animalizado de hoje, dissociado do amor.
 Já encontrei moças que, nuas e oferecidas,  recusavam-se a ser beijadas na boca, como antes era atitude comum das  prostitutas. Só faltava repetirem a frase que Hollywood costuma atribuir aos  gangstêres: "Não é pessoal, são só negócios"...
 Neste sentido, acredito em O. Brown: a plenitude  amorosa --em que o amor físico e espiritual são uma e a mesma coisa, com a  identidade dos parceiros se dissolvendo num conjunto maior, quando um mais um  soma bem mais do que dois-- continua incompatível com o capitalismo. 
 Transgride-o e o transcende, empurrando os  domesticados seres humanos para uma convivência amorosa/harmoniosa com o(a)  outro(a) --e, por extensão do mesmo clima, com todos os  demais  e com a natureza.
 Impelindo-os, enfim, à aventura da libertação.
* jornalista e escritor. http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com.

 
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  






























