Campo de concentração nazista?
Não, mas é quase igual: Guantánamo.
Foi anunciada no último dia 4 a decisão dos EUA de realizarem na sua base naval (e centro de torturas da CIA) de Guantánamo, Cuba, o julgamento de cinco suspeitos de envolvimento com o atentado contra o WTC em 2001.
Digo suspeitos porque processos montados com base em sevícias valem, juridicamente, tanto quanto os IPM's da ditadura brasileira de 1964/85: nada. Não passam de lixo. A investigação teria de recomeçar do zero.
Os cinco vão ser, obviamente, condenados à morte pelo tribunal militar, depois de lhes negarem, arbitrariamente, o direito a todas as garantias processuais oferecidas a réus nas cortes dos EUA.
Vale repetir, mais uma vez, a comparação com a malfadada Redentora daqui:
- cortes civis às vezes ousavam confrontar o arbítrio dos militares, tanto que estes, por meio do AI-5, proibiram-nas de conceder habeas corpus nos casos qualificados como de segurança nacional;
- já nas auditorias militares, as sentenças eram predefinidas pelos serviços de Inteligência das Forças Armadas, reduzindo os julgamentos a inócuas encenações para justificarem o veredicto pronto.
O recado dos EUA para o mundo: ignorarão
os direitos humanos de quem os desafiar.
Da mesma forma, os cinco receberão a pena máxima porque é esta a mensagem que os EUA querem enviar ao resto do mundo: a de que esmagarão quem quer que os desafie, e se não apanharem os verdadeiros responsáveis (Bin Laden continua livre como um passarinho...), qualquer um serve.
Como serviram Sacco e Vanzetti e o Casal Rosenberg, flagrantemente injustiçados (*), vítimas de repulsivas demonstrações de força que nada tiveram a ver com o nobre ideal da justiça.
Não tenho, nem ninguém tem, como saber se os cinco de agora são mesmo terroristas ou meros bodes expiatórios.
Considero o atentado de 11 de setembro uma abominação, já que atingiu indiscriminadamente civis, o que combatentes do povo não devem fazer em hipótese nenhuma.
Carnificinas hediondas como as que Israel perpetra na faixa de Gaza são-nos vedadas, porque constituem a negação total do nosso solene compromisso de contribuirmos para o advento de um estágio superior de civilização.
Mas, culpados ou não, salta aos olhos que estes acusados serão linchados, e não julgados.
O presidente Barack Obama, que tentou impedir tais farsas inquisitoriais encenadas em Guantánamo, acabou humilhantemente derrotado pela direita mais boçal e troglodita do seu país.
É outro que entrou rugindo e sairá miando.
* Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti nada tinham a ver com o assalto e assassinatos pelos quais foram condenados -- cometidos, na verdade, por criminosos sem nenhum envolvimento político. A polícia sabia disto e acobertou os bandidos, deixando que os dois anarquistas italianos fossem executados para amedrontar o movimento operário.
Ethel Rosenberg não participava das atividades do marido Julius. E este não passou de um laranja, comunista notório que enviou aos soviéticos informações coletadas de forma amadoresca, sem valor real nenhum, sobre a bomba atômica estadunidense.
Quem realmente revelou segredos foi (foram) cientista(s) do projeto nuclear. Julius pode até ter sido o pombo-correio, mas isto é só especulação. Também há quem defenda a tese de que o casal foi deixado exposto pelos verdadeiros espiões, exatamente para desviar as atenções do esquema principal. O certo é que a pena foi exageradíssima e a execução de ambos, um crime inominável.