Em  certa altura de sua vida Willian Blacke disse: Uma verdade que é dita com má  intenção derrota todas as mentiras que possamos inventar, e no Brasil isso tem  se mostrado eficaz em momentos de apaziguamento ou acirramento das tensões. Qualquer  governo que assuma as funções administrativas e tente recompor os desvios  institucionais, sofre de desconfiança de diversos setores. Foi assim com  Getúlio Vargas em 1930 que após subverter a ordem democrática tradicional (com  seus vícios), recebeu críticas externas e internas, sendo a mais importante  delas o levante constitucionalista de 1932. O que é interessante lembrarmos  quando fazemos tais leituras, é que o maniqueísmo em defender certo  posicionamento custa caro para a compreensão da realidade social. 
  Romero Jucá foi o primeiro homem do presidente a cair, devido escutas  apreendidas pela força tarefa da Lava-Jato. Na época em que Dilma Rousseff  ainda era presidente, foram divulgadas escutas em que o ministro conversava com  o então presidente da transpetro (subsidiária da Petrobrás) Sérgio Machado, em  tom nada oficioso sobre a operação: “é preciso estancar essa sangria” (se  referindo às investigações) e “o objetivo deles é acabar com a classe política  e elevar uma casta pura no poder”. Interessante reparar que a frase de efeito  faz uma conjectura com a famosa máxima de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1870-1946)  “Façamos a revolução antes que o povo a faça” que sintetiza o que há de mais  espúrio no pensamento oligárquico brasileiro.
  Ainda  em maio, foi a vez de Fabiano Silveira cair. Breve empossado como Ministro da  Transparência e Controle substituto da finada CGU, foi pego em escutas  fornecidas pelo próprio Sérgio Machado, em que aconselhava o padrinho político  Renan Calheiros, a se reorientar quanto a atuação da Lava-Jato. O terceiro em  sequência foi Henrique Eduardo Alves ex-ministro do turismo e ex-presidente da  Câmara. Através da delação de Sérgio Machado, foi concluído que o mesmo recebeu  mais de R$ 1,5 milhões em doações irregulares de campanha entre 2008 e 2014.
  Fábio  Medina da AGU se constitui exceção à regra dos demais por solicitar a PF  inquéritos da Lava-Jato sem consultar o homem forte do governo Eliseu Padilha,  e é aí que o Watergate brasileiro  ganha forma: ocultar coisas e pessoas para que a opinião pública não se torne  insurreta. Do outro lado no Congresso a arena política ferve com discussões  inflamadas se o impeachment foi  legítimo e respeitou o devido processo legal, ou foi um golpe  jurídico-legislativo. 
  Como o  tempo pode ser um agente duplo se tratando de política, o mesmo se mostrou  conivente com a devassa feita pelos deputados ao Projeto Anticorrupção naquela  cínica noite de novembro de 2016 em que de dez itens, dois foram aprovados em  sua totalidade, e os demais desfigurados pelos deputados, que ainda sim  empreenderam uma rápida reação ao Judiciário e ao Ministério Público.
  Os  movimentos sociais seguiam em luta contra a dissolução do MinC (Ministério da  Cultura), política de redução de investimentos, redução de servidores e  fechamentos de institutos, quando estourou o imbróglio Calero-Geddel que foi um  episódio importante para a crise no governo. Marcelo Calero ex-ministro da  Cultura, denunciou o próprio colega de pasta devido a pressão que esse fez para  que um projeto arquitetônico de seu interesse, fosse aprovado pelo IPHAN (órgão  subordinado à pasta). Marcelo demitiu-se na sequência dos fatos e Geddel foi  prontamente retirado do governo.
  Mas o  pior ainda estava por vir com a delação da Odebrecht comumente chamada pela  mídia de “Delação Fim-do-mundo, pelo número de executivos participantes e  políticos envolvidos”, o que fez o próprio Temer agir como verdadeiro “patrono”  da ‘boa fé” pública, ao incentivar a aceleração nas investigações.
  Chegamos  em 2017 e com a perda do ministro Teori Zavascki do STF, sobra à opinião  pública a sensação de impunidade frente aos incontáveis esquemas de corrupção  existentes. Assim, diferentemente da ficção onde Deep Throat (ou garganta profunda) é preservado, aqui ele é  aniquilado, seja em forma de projeto de lei, opinião, ou pessoa.
Sobre o autor:

30 anos
Rio de Janeiro
Professor da Rede Estadual de Educação,
  Leciona História e Sociologia
  Escreve poesia e é músico autodidata.
Página pessoal: www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=85840

 
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  




























