É óbvio que num País como o nosso, onde a Constituição vigente foi votada pressupondo o parlamentarismo, o presidente da República, qualquer que seja ele, ou ela, depende mais do Congresso que, por exemplo, aqueles eleitos sob a vigência da Constituição de 1946. Alianças são necessárias e o confuso quadro partidário brasileiro, onde determinados partidos são propriedades privadas de seus líderes, leva um governante e concessões que nem sempre refletem sua vontade. Mas existe um limite.
A esse fenômeno se acresce o fato da divisão histórica das forças de esquerda, a falta de uma agenda comum e até a falta de representatividade. O alto nível de alienação da classe trabalhadora, produto da mídia capitalista, nos cinge a movimentos criminalizados como o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra – o único com expressão e organização capazes de mobilizar setores da população.
O grande vilão da organização popular nos dias atuais é a mídia. E no Brasil atua sem freios, ou qualquer tipo de limite, atingindo a níveis de venalidade absurdos. Vende o consumo desvairado, desfigura o ser humano (vem aí o Big Brother Brasil, prostíbulo exibido pela maior rede de tevê do País, a GLOBO), ou se escora em farsas das quais a revista VEJA é o maior exemplo dentre todos.
O anúncio de Joaquim Levy e Kátia Abreu para os ministérios da Fazenda e da Agricultura, no entanto, foram “marcha a ré”, expressão do jornalista Jânio de Freitas. Um banqueiro e uma latifundiária, grileira de terras e dona de capangas.
Num momento que o Brasil se alinha com os países do BRICS e que a própria Alemanha se inclina a vir integrar o grupo, há um contrassenso nas duas escolhas de Dilma e uma fuga do que foi dito na campanha. Joaquim Levy coloca em risco todas as conquistas sociais dos últimos anos e é ameaça de um quadro grave de recessão, desemprego e ajuste da economia segundo a ótica do mercado globalizado, na contramão do BRICS e da integração com países da América Latina.
É lógico também que um segundo mandato é diferente do primeiro.. Esta longe de ser uma continuidade, pelo menos nas opções feitas por Dilma Roussef até agora. A sensação que se tem é que presidente está se deixando engessar e cedendo a pressões à direita, na tentativa de compor um governo fustigado pelo escândalo das propinas na PETROBRAS, ou nas manobras de um ministro corrupto e tucano no STF, Gilmar Mendes, como das denúncias da mídia, mesmo com o PSDB estando envolvido até a medula em corrupção da grossa. E Aécio levando malas de dinheiro para bancos estrangeiros enquanto se refresca da derrota em Aspen.
De repente os rumos do governo Dilma Roussef ficam nebulosos tanto para seus eleitores, quanto para o Brasil como um todo e até diante da comunidade internacional e dos países do BRICS e do MERCOSUL.
Dá a sensação que a presidente se desgarra de suas origens e mergulha num lago cuja profundidade nem ela sabe qual, ou a presença de tubarões seja ameaça visível e forte. Parece estar indo atrás de um pote de ouro no fundo desse lago, mas não enxerga que é ouro dos tolos.
A sensação é de “marcha a ré”. E se não for o caminho escolhido por Dilma é o mais espinhoso possível. Liga a seta para a esquerda e vira à direita.
- Laerte Braga
- Editorial