Na manhã do jogo Brasil e Alemanha, Carlos Alberto Parreira veio para porta do hotel, assentou-se num dos bancos e ficou ali por algum tempo sem dizer uma palavra e sem conversar com ninguém. O que parecia uma atitude relaxada era apenas um protesto silencioso contra as decisões de Felipão, para o jogo à tarde.
O técnico campeão de 1994 e que atuou nas copas de 1970, 1974, 1978 e 2006, alvo constante de críticas de boa parte da imprensa, é um dos poucos que conhecem futebol e se mantém atualizado em caráter permanente. Um estudioso que em 1994 escalou o jogador Zinho, apelidado de “enceradeira”, mas vital na conquista da Copa do Mundo. E manteve, também debaixo de críticas, Ronaldo na reserva, por considera-lo, jovem inexperiente. Vivia um processo de aprendizado que mais tarde iria transformá-lo num dos grandes jogadores do futebol brasileiro e mundial, independente de sua incapacidade de articular frases ou opiniões sensatas. Pelé também é assim, um idiota fora dos campos.
Ricardo Rocha, zagueiro titular de 1994, contundiu, permaneceu com o grupo, disse em seus comentários, lúcidos e pertinentes, que um jogador que atua na Europa confessou sentir falta de treinos táticos. Anchelotti, técnico do Real Madri, em declarações a imprensa europeia afirmou que “o dia que vocês aprenderem tática serão invencíveis”. Referia-se aos brasileiros.
A Copa do Mundo no Brasil é um êxito, surpreende a todo o mundo, cala a boca de uma oposição rasteira e raivosa e, certamente, a derrota terá sido festejada por esses pulhas que sonham transformar o Brasil em colônia dos EUA,
Dilma não escala seleção e nem convoca jogadores. Nossos dirigentes são corruptos, caso do presidente da CBF, cachorrinho de estimação de Paulo Maluf (José Maria Marin) e da esmagadora maioria de presidentes quase perpétuos de federações estaduais e clubes.
Não significa que essa corrupção não permeie o futebol como um todo, em todas as partes do mundo. O caráter apaixonante do esporte é um dos responsáveis por isso. O futebol europeu é máquina de lavar dinheiro de milionários russos.
Nem por isso são incompetentes, como corrupto Ricardo Teixeira tinha competência ímpar para ganhar.
Luís Felipe Scolari montou uma seleção família, emotiva, mas sem tática. Deixou de aproveitar qualidades peculiares de vários jogadores (Davi Luís e Oscar, por exemplo) e escalou Bernard para o jogo com a Alemanha, queimando uma das grandes promessas do nosso futebol.
Foi Parreira quem primeiro intuiu a importância da posse de bola, do passe rápido, foi Guardiola quem aprimorou e agora, o técnico alemão e Anchelotti quem transformaram todo esse processo num futebol veloz, ágil e contundente.
Perdemos de sete a um por esses fatores e pelo fato da Copa do Mundo no Brasil colocar na cabeça de jogadores que teríamos que ser campeão a qualquer preço. A oposição podre logo saiu com a história que Dilma havia comprado a Copa. A presidente, independente de críticas ao seu governo, teve e está tendo um procedimento exemplar. A grandeza que seus adversários não têm.
O jogo revelou isso. Tomamos um gol e uma pane permitiu aos alemães mais quatro gols num espaço que vai de seis a dez minutos, liquidando a fatura já antes dos 30 minutos do primeiro tempo.
Não sabiam o que fazer dentro de campo, fato revelado em quase todos os jogos do Brasil nesta Copa. Dois empates sofridos, uma decisão por pênaltis e vitórias magras e produto da qualidade do jogador brasileiro, dentre eles Neymar.
Culpar Fred. Por que? Na Copa das Confederações o jogador brilhou, foi um dos responsáveis por gols memoráveis e na Copa do Mundo não havia, ou não apareceu uma única jogada que observasse suas características. As que lhe permitem gols às pencas no Fluminense, clube em que joga.
Não é só uma questão de mudança de técnico. Mas de mudanças gerais. Dirigentes, calendários, como também, lógico, de atualização dos técnicos.
Somos, ao lado dos argentinos, os mais virtuosos no futebol, mas somos amadores na hora de mostrar essas virtudes.
Que ganhe a “pátria grande” como disse Cristina Kirchner. E que sorria Maradona, que a despeito de toda a sua irreverência, ao contrário de Pelé e Ronaldo, não diz besteiras a cada vez que abre a boca. Ao contrário.
O resultado de sete a um espelhou tudo isso e mais algumas coisas.
- Laerte Braga
- Editorial