As pinturas de Eder Oliveira se tornaram uma maneira já consagrada de trazer para o universo das artes plásticas a violência. Apropria-se de retratos individuais de criminosos ou suspeitos publicados em jornais de Belém, PA, e, ao pintá-los e colocá-los em espaços culturais, reflete como a imagem midiática do homem amazônico está em boa parte nas páginas policiais.
Dessa maneira, as feições indígenas passam a ser relacionadas diretamente com a criminalidade, gerando um estereótipo. Seu trabalho plástico busca exatamente apontar como é possível dar novas dimensões a essas imagens. Daltônico, ele costuma utilizar cores chapadas e vibrantes para devolver as fotos à sociedade em forma de pintura.
Expostos no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, SP, até 29/9/2019, dentro do Projeto Arte Atual, sob o tema “Jamais me olharás lá de onde te vejo”, recentes obras do artista paraense introduzem elementos à sua poética, com a presença de pinturas de grupos, a inserção de textos nas telas e o uso de matizes de branco.
São recursos que valorizam a pesquisa visual de Éder Oliveira no sentido de como as fotos publicadas em jornais se apoderam das imagens de vulneráveis suspeitos, dando-lhes um posicionamento social marcado pela marginalidade e, é claro, pelo carimbo de preconceito que acompanha qualquer estigma.
Uma imagem icônica da poética que vem sendo desenvolvida pelo artista é a de dois jovens cobrindo o rosto com as suas camisetas sobre um fundo branco. Infelizmente já nos acostumamos a ver essa imagem nos telejornais e em outras mídias, mas, ao ser pintada e colocada em uma parede de uma instituição cultural, ela ganha uma nova dimensão. Torna-se uma alerta para o risco onipresente de banalização da violência, em seus mais diversos aspectos, no país.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.