Não foram poucos os que se entusiasmaram com o slogan de que “a pintura estava morta”, frase que o próprio tempo se encarregou de soterrar. O mais curioso é que muitos artistas, ao contrário de se debater publicamente contra esse tipo de ideia, simplesmente se voltaram para os ateliês para produzir mais e melhor.
Surgiram assim criações feitas sem o intuito de resistência, mas apenas – o que não é pouco – como uma necessidade visceral de manifestação de vida. Valorizam a arte naquilo que ela tem de melhor, ou seja, a capacidade de estabelecer um diálogo com o mundo.
Num momento muito especial, em que ocorre uma tolerância em relação a qualquer tipo de manifestação e se vive uma falta de paradigmas para estabelecer o que pode ser considerado bom ou ruim, a tendência é o isolamento. Cada grupo realiza as suas composições, bate palmas para si mesmo e perde a noção do todo.
A postura é muito mais de desconstrução do que de construção. Com a ausência de critérios rígidos de avaliação – já que eles foram abolidos ou estão em crise na pós-modernidade, encerrada, para alguns com a derrubada das Torres Gêmeas – cada ato se torna uma ação pretensamente única e isolada.
As obras pictóricas contemporâneas, nesse contexto, propõem cada vez mais sugestões, criando novas problemáticas e indagações e possibilitando menos respostas prontas – o que parece bastante saudável e está afinado com o chamado vanguardismo do pós-moderno, que lida de nova maneira com o conceito de buscar o estabelecimento de possíveis novas verdades ou métodos.
A tendência é ressaltar que não existe garantia de que se possa chegar a respostas universais e imutáveis. As obras atuam então numa encruzilhada. De um lado, a procura por algum tipo de verdade existencial e artística; do outro, o desafio de lidar com a existência cotidiana.
O pensamento crítico sobre o sentido da verdade, em seu sentido filosófico, e sobre a realidade, enquanto consciência política, social e econômica, gera uma arte marcada por uma intensa força vital no sentido de buscar uma aceitação crítica das instituições, mas sem perder a liberdade ccriativa.
Ser livre significa ter o poder de acreditar em muitas coisas. Esteja a pintura morta ou não, a arte de qualidade permanece. Encontrá-la é o desafio proposto. Cada criação é a manifestação de um olhar sobre o mundo absolutamente pessoal que se dá entre o sonho de um artista e a sua capacidade de lhe dar uma concretude visual.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.