Marx, quem diria, aplaudido na Barra da Tijuca

No seu filme, Peck reforça Marx: ''A História de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes''

marx

Vem na hora justa o filme de Raoul Peck, O Jovem Karl Marx (Le jeune Karl Marx), produzido pela França, Alemanha e Bélgica, se mantendo em cartaz inesperado, há algumas semanas nas telas do Rio de Janeiro e São Paulo, e disponível na internet (legendado em português) para quem quer cinema em casa.

O momento é este. Em diversas frentes é (re)discutida a atualidade das teorias econômicas do mais importante pensador do final do século dezenove que consagrou a ideia de que "a História da humanidade é a história da luta de classes." Detalhe este, histórico, que bate com insistência à porta do Brasil pós- golpe escancarando-a.

O objetivo principal do filme, segundo Peck, um diretor haitiano de 64 anos, foi comemorar os 170 anos, em 2017/2018, do lançamento em alemão do Manifesto Comunista de Marx através do recorte dos seus tempos de juventude. O exílio, em Paris, aos 26 anos; os primeiros anos do casamento com Jenny – filha do barão de Von Westphalen, sua companheira histórica, inspiradora e muitas vezes colaboradora; e, sobretudo, o encontro com o rico e burguês Friedrich Engels que viria ser o seu amigo dileto e coautor do documento fundador da filosofia da classe trabalhadora.

"Eu sou aquilo que sou hoje devido a essa estrutura que adquiri quando era ainda jovem, estudando o trabalho do jovem Marx, na universidade, em Berlim, nos anos 70 e 80. São suas ideias que nos permitem compreender a sociedade em que vivemos hoje," lembrou o diretor, quando lançou seu filme, ano passado, no Festival Internacional de Cinema de Berlim, a Berlinale.

E sobre o seu ativismo no cinema: "A democracia não é votar e ficar no sofá assistindo aos reality shows. Isso não é democracia. A democracia é feita de cidadãos ativos, que se questionam tudo."

Ex-ministro da Cultura do Haiti décadas depois de ter se expatriado com a família durante longos no Congo, e autor de outros festejados filmes, entre eles, Lumumba (de 2000), Abril Sangrento, de 2005 - sobre o genocídio de 1994 em Ruanda -, e Eu não sou seu negro, de 2016, indicado para o Oscar de 2017, Peck estudou engenharia na Alemanha e atualmente é o diretor da Femis, de Paris, uma das três escolas públicas francesas de estudos cinematográficos.

Para alguns críticos brasileiros, Le jeune Karl Marx é um filme "conservador" embora reconheçam nele qualidades básicas cinematográficas. É "hollywoodiano" demais para outros, com o gosto à direita, tentando desqualificá-lo. Não era esperado que não fosse polêmico.

Trata-se de uma produção propositadamente comercial, honesta, sem piruetas formalísticas. Um dos seus produtores é o cineasta Robert Guédiguian, autor de filmes notáveis sobre a classe proletária de Marselha. Didático, como desejaram os autores do roteiro; o próprio Peck e Pascal Bonitzer, ex-crítico do Cahiers de Cinéma e um dos mais competentes roteiristas do cinema francês.

Apesar das divertidas tentativas de desqualificá-lo, a meta do diretor foi alcançada ao contar a trajetória inicial e a busca dos fundamentos científicos de suas teorias econômicas entre os encontros com o grupo da Liga Comunista da Europa, com as ideias do socialismo utópico de Pierre Proudhon e dos anarquistas de Mikhail Bakunin.

"Eu espero que muitas pessoas, em particular os jovens, se possam rever nesta procura," diz Peck, "e que possam encontrar, não uma receita, mas uma resposta para combater aquilo que se passa hoje. Porque estamos exatamente no mesmo tipo de capitalismo onde o dinheiro e a riqueza ficam cada vez mais nas mãos de poucos ao passo que uma imensa maioria ficará cada vez mais pobre."

E continua: "Isto é a História se repetindo. O que o Marx nos forneceu foi um instrumento científico para compreender e analisar cada momento desta sociedade. Um momento que começou com a revolução Industrial e que continua até hoje."

Passado entre Paris, Londres e Bruxelas, o filme conta com o excelente ator alemão August Diehl no papel principal, com Stefan Konarske, que faz Engels, com Vicky Krieps como Jenny von Westphalen e Hannah Steele como Mary Burns, a companheira e grande amor de Engels.

O jovem Karl Marx é aplaudido no final, em algumas sessões de cinemas da Barra da Tijuca e regado ao som de Bob Dylan cantando Like a Rolling Stone. "Por que as pedras que rolam? É a mesma História" diz Peck. "Está tudo ligado. Eu mostro imagens da crise de 1929, mostro o Vietnã, Mandela, Che Guevara, o Muro de Berlim…"

No seu filme, Peck reforça Marx: "A História de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes."

Mas o filho da rica família prussiana também inscreveu que "tudo pode mudar; nada é estável."

publicidade
publicidade
Crochelandia

Blogs dos Colunistas

-
Ana
Kaye
Rio de Janeiro
-
Andrei
Bastos
Rio de Janeiro - RJ
-
Carolina
Faria
São Paulo - SP
-
Celso
Lungaretti
São Paulo - SP
-
Cristiane
Visentin

Nova Iorque - USA
-
Daniele
Rodrigues

Macaé - RJ
-
Denise
Dalmacchio
Vila Velha - ES
-
Doroty
Dimolitsas
Sena Madureira - AC
-
Eduardo
Ritter

Porto Alegre - RS
.
Elisio
Peixoto

São Caetano do Sul - SP
.
Francisco
Castro

Barueri - SP
.
Jaqueline
Serávia

Rio das Ostras - RJ
.
Jorge
Hori
São Paulo - SP
.
Jorge
Hessen
Brasília - DF
.
José
Milbs
Macaé - RJ
.
Lourdes
Limeira

João Pessoa - PB
.
Luiz Zatar
Tabajara

Niterói - RJ
.
Marcelo
Sguassabia

Campinas - SP
.
Marta
Peres

Minas Gerais
.
Miriam
Zelikowski

São Paulo - SP
.
Monica
Braga

Macaé - RJ
roney
Roney
Moraes

Cachoeiro - ES
roney
Sandra
Almeida

Cacoal - RO
roney
Soninha
Porto

Cruz Alta - RS