A CRISE E A EDUCAÇÃO

Tenho pensado muito sobre o momento que estamos vivendo. Preocupa-me a crise, este movimento macro que vai desde o nível planetário até o nível local, incluindo aí a pessoa individual que somos cada um de nós.

Acredito que esteja em marcha um processo histórico identificado com a desordem, significando que uma ordem está terminando para dar lugar a uma nova ordem, a um novo momento na vida da humanidade, na vida coletiva e pessoal.

O momento de crise requer de nós novas posturas diante do mundo e de sua complexidade. Ele nos faz perceber que precisamos de uma nova atitude, promotora de desejos e vontades, capaz de nos obrigar a reunir as condições necessárias para enfrentar os seus desafios, sabendo construir respostas a partir da dor, do sofrimento e da desorientação.

Na crise é preciso que tenhamos consciência da nossa capacidade de mudanças, do nosso potencial de transformação, tendo certeza de que fomos criados para o sucesso e para a felicidade, frutos de uma convivência fundada na solidariedade.

Ainda que acreditemos em nosso potencial de mudanças somos forçados a perguntar qual é a questão de fundo que promove esses problemas que experimentamos na atualidade. Tenho certeza que a resposta está no reducionismo que foi implantado, sobretudo a partir de modernidade, na concepção do ser humano.

É possível detectar que a pessoa humana tem sido considerada, tratada e educada numa perspectiva de valor muito menor do que ela realmente é. A questão do realismo materialista, aquela que entende a realidade como algo constituído de objetos independentes dos sujeitos que a produzem e conhecem, limitou o homem a uma compreensão cientificista, racionalista e mecanicista do mundo e de si mesmo, fazendo-o esquecer de algumas dimensões fundamentais de sua condição humana. É preciso que tenhamos a convicção que somos um misto de dimensões: somos racionais e irracionais, somos lúdicos e seres do trabalho, somos seres materiais e espirituais, somos corpo e emoção.
Quando a educação formula projetos que desconsideram a complexidade constitutiva da pessoa humana, levando em consideração tão somente algumas dimensões, ela educa apenas uma parte do ser humano não permitindo que ele possa experimentar a realidade na sua inteireza, comprometendo o seu relacionamento consigo mesmo, com as outras pessoas, com a natureza e com o mundo, dando asas ao individualismo, ao egoísmo, à ganância e ao desejo de acumular sempre e cada vez mais. Aí está um dos principais fundamentos da crise atual.

Sendo assim, ainda que não acreditando nos poderes mágicos da educação, firmo posição defendendo que a mesma, em sendo renovada e tendo uma concepção complexa da pessoa humana, é uma excelente ferramenta para a formação de novos homens e novas mulheres, agentes eficazes para a superação da crise e para a instalação de uma nova ordem sob a égide do cuidado, da gentileza, do diálogo, da tolerância, da partilha, do serviço, da emoção, do espírito e do respeito à dignidade da pessoa humana.

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