Já dizia Charles Chaplin “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”.
Ele lançou vários atores globais, como Marcelo Lahan e Silvio Restiffi.
LUIZ GUSTAVO ALVES
“Um homem em movimento, um pai apaixonado”
“Sou um homem sozinho e vivo sozinho com minhas lembranças. A vida será sempre a arte de caminhar e estar sozinho”. São as palavras do ator, autor e diretor Luiz Gustavo Alves ao falar sobre sua vida e sobre seu último espetáculo 'Sozinho'.
Há cinco anos, o dramaturgo deparou com um artigo que discorria sobre a solidão. O texto alertava sobre a depressão e suas causas, informando que era a quinta causa morte e afetando inclusive as crianças. Assim, o autor resolveu produzir um espetáculo para alertar as pessoas e acalentar muitos corações que desse mal sofrem e muitas vezes sem saber. A peça “Sozinho” chama a atenção para a depressão em vários níveis e lembra que a pessoa deprimida precisa ser compreendida.
O texto discorre sobre o nascimento, o abandono, a perda da mãe, a chegada da velhice, a falta de perspectiva e aquilo que bate mais forte e fundo dentro da maioria dos seres humanos, a solidão que muitos nutrem inclusive sem saber e sofrem durante uma vida inteira. O espetáculo mostra que ainda há uma esperança, uma luz no fim do túnel para reverter esse processo de tristeza e solidão e que há uma forma de ir em frente, mesmo que só e que podemos ser felizes. Ser felizes com o que temos e jamais infelizes com o que não temos, que é o que geralmente acontece.
Luiz Gustavo veio do interior do estado de São Paulo, de uma família humilde, e já na época da escola tinha uma veia artística que despontava. Sua consagração foi no teatro em São Paulo. Trabalhou com várias personalidades importantes do meio artístico, entre eles, Norma Blum, Nicete Bruno, Lucélia Santos, Ângelo Antônio, Letícia Sabatella, Paulo Goulart e muitos outros. Hoje é um homem realizado, no entanto luta e tem sonhos. É um homem que apesar de viver só, preserva os laços de família, religioso e busca a paz interior e para o mundo.
Luiz Gustavo Alves com Nicete Bruno e Paulo Goulart. Foto: Marcelo Rissato
LUIZ GUSTAVO ALVES
Entrevista: Marcelo Rissato
Marcelo Rissato: Fale um pouco sobre você. Quem é o Luiz Gustavo?
Luiz Gustavo: Sou um homem em movimento. Um homem que realiza, concretiza. Sou um “humanista” acima de qualquer coisa.
Marcelo: Onde você nasceu e qual a sua descendência?
Luiz Gustavo: Nasci na roça, numa fazenda em Palmares Paulista, (sete quilômetros de Catanduva), terra de Sílvio de Abreu e Rita Guedes.
Marcelo: Como se deu sua vinda pra São Paulo?
Luiz Gustavo: Meu pai era administrador de uma fazenda "Santa Ernestina", que visitei em julho do ano passado (40 anos depois). Com a revolução das máquinas, comprava-se um trator e dispensava 50 famílias da sua "zona de conforto". Devido a esse fato uma irmã que já estava aqui em São Paulo, convenceu meu pai e toda a família a virem para “Sampa”. Eu tinha sete anos e era o caçula de nove irmãos.
Marcelo: Que bairro de São Paulo você mora?
Luiz Gustavo: Moro no Jardim da Glória, que fica entre a Vila Mariana, Aclimação e a Liberdade.
Marcelo: Como iniciou sua carreira artística?
Luiz Gustavo: Comecei na escola. Bendita seja a escola, a educação. Foi na quinta série do ensino fundamental que uma professora chamada Nanami Sato de língua portuguesa percebeu o menino tímido, introspectivo, calado, que se transformava ao ler um poema e ao encenar uma peça sem nunca ter ido ao teatro. Naquela época, nem sabia o que era teatro. Era um garoto diferente. A professora apresentou-me no final do terceiro ano do ensino médio para Leão Lobo que na época tinha uma empresa de teatro, a Meta Produções Artísticas, de quem era amiga. Leão estava fazendo jornalismo. Entrei e fui o primeiro secretario do hoje famoso, querido e amigo Leão Lobo. Com ele fiz algumas peças infantis."A Pantera Cor-de-Rosa", de Jurandyr Pereira, e “Uma Aventura no Super-Mercado” de Ronaldo Ciambroni.
Luiz Gustavo com a atriz Norma Blum - Foto de Marcelo Rissato
Marcelo: Qual obra você considera seu maior trabalho?
Luiz Gustavo: Todo artista quando questionado sobre sua melhor obra diz que é a última. Não fujo a regra. "SOZINHO", meu primeiro monólogo. Cresci muito com esse espetáculo. Sofri muito ao constatar que é a solidão que leva a depressão e a quinta causa mortis no mundo. Mas o meu carro chefe é "FIGURA PATERNA", montado três vezes e em 1988 lancei dois atores globais “Marcelo Laham e Silvio Restiffi”. Na época ambos com 15 anos.
Marcelo: Sobre o espetáculo “Sozinho”, você acredita que ele tem a ver com sua vida hoje?
Luiz Gustavo: O espetáculo “Sozinho”, tem muito a ver com minha vida hoje sim. Tive pais e eles já se foram. Tive uma família e também se foi. Tive um filho e ele bateu asas e voou precocemente. Até minha amiga e fiel escudeira GAYA (mãe terra), minha pastor alemão (12 anos juntos), morreu recentemente. Tive que mandar sacrificá-la. Outra dor inesquecível. Cometer a eutanásia, devido a um câncer generalizado. Muito medo (tenso). Hoje moro só. Minha casa é cheia de lembranças, mas aprendi muito com a solidão. Não importa onde você estiver "A vida será sempre a arte de caminhar e estar "SOZINHO".
Marcelo: Você acha que a solidão é o grande mal do terceiro milênio?
Luiz Gustavo: Não só acredito como “tenho certeza” que é o grande mal do terceiro milênio. Hoje crianças a partir dos dez anos já tomam remédios tarja preta. Isso me incomoda. A solidão é que leva a depressão e ao suicídio. Cada vez mais informação e mais "SOZINHOS" estamos.
Marcelo: Como surgiu a ideia de escrever essa peça?
Luiz Gustavo: Acho que já respondi essa pergunta. Eu tinha que desabafar ao tomar conhecimento da quinta causa mortis que é a solidão e como artista, como educador eu resolvi por no papel, e encenar. Estava e ainda continuo me sentindo impotente diante dessa situação caótica, mas fiz e estou fazendo minha parte. Estou alertando as plateias que lotam o teatro com novecentas pessoas por dia.
Marcelo: Você já trabalhou como ator, diretor, autor somente no teatro?
Luiz Gustavo: Não somente no teatro. Você esqueceu de mencionar o professor de teatro aplicado a educação (risos – pois ele já havia comentado sobre seu trabalho na área da educação). Trabalhei em dois curtas como protagonista. "A Infância Acabou" de Renato Tapajós, e “A Noite” de Adalberto Gardezani. Também fiz o casting dos dois curtas. Atualmente estou fazendo cinema onde atuo como co-roterista e diretor de ator. Por enquanto não posso adiantar, por questão de contrato, mas se passa em 1942. Uma belíssima homenagem a aviação. Um relacionamento de amizade entre um piloto e uma criança de 7 anos, pouco antes da Segunda Guerra Mundial.
Luiz Gustavo com o ator Leonardo Miggiorin - Foto de Marcelo Rissato
Marcelo: Qual a sua ligação com a televisão?
Luiz Gustavo: Minha ligação com a TV foi pouca. Atuei em pequenos papéis na TV Bandeirantes. Na TV Globo fiz telecurso 2000 como ator e professor.
Marcelo: O que significa o cinema pra você?
Luiz Gustavo: O cinema é “algo mágico”, sem barreiras. Me impressiona. Sou cinéfilo. Não troco o cinema pelo vídeo, pelo DVD. Acho que sou arcaico, no entanto amo a sétima arte.
Marcelo: Qual a sua maior aspiração hoje?
Luiz Gustavo: Minha maior aspiração hoje é conseguir “lutar pela paz mundial”, mas antes preciso encontrá-la dentro de mim.
Marcelo: Que momento de sua vida você considera mais triste e qual o momento mais alegre?
Luiz Gustavo: Vou citar dois tristes: Quando minha mãe passou para o andar de cima. (ainda não me recuperei), e a perda de um amigo em 29 de dezembro por afogamento. Tentei durante 40 minutos tirá-lo do mar e não consegui. Tive que fazer a minha escolha mais difícil. Ou eu soltava ele e tentava ainda viver ou morria com ele no mar. Optei viver, mas me custou muito caro tomar essa decisão. A maior alegria, sem sombra de dúvidas foi o nascimento do meu amor maior, meu filho “Demian”.
Marcelo: O que significa a família pra você?
Luiz Gustavo: “TUDO”.
Marcelo: Hoje, como é sua vida?
Luiz Gustavo: Hoje? Muito corrida. Escrevo, dirijo e dou aulas de teatro. Estou dirigindo um filme, lavo, passo, cozinho, vou a feira, academia, faço Arco e Flecha. Sou um líder “Budista”. Cuido de uma comunidade. E vai ficar ainda mais corrida com o novo espetáculo que vem ai.
Marcelo: Que espetáculo é esse? Você pode falar um pouco sobre ele? É o único projeto que você está envolvido no momento?
Luiz Gustavo: Vem ai "OLIVER". São três os projetos em que estou envolvido até o pescoço. Nesse momento estou totalmente ligado na trilogia OLIVER (O Homem que o Mundo Criou). Finalizei a parte II "O Anjo Rebelde", tendo como co-autor o jornalista e escritor Marcelo Rissato e a parte III, final. Estou envolvido também com Personalidades Produções Artísticas Ltda (sócio), onde vamos homenagear doze mulheres consagradas no mundo artístico, que fizeram e continuam fazendo a diferença no país e em nossas vidas. Será pintado um quadro de cada uma delas e entregue numa noite de gala. Dentre elas, Norma Blum, Nicete Bruno e outras... (surpresa). Estou dando aulas no clube Castelo em Interlagos. Curso de teatro para adolescentes e terceira idade, tendo como parceira no curso Norma Blum e Paulinho Goulart Filho.
Marcelo: Luiz, na última semana do mês de junho você esteve em Ubatuba. Qual o motivo de sua ida até essa cidade?
Luiz Gustavo: Eu estive em Ubatuba de quarta a sexta feira (de 27 a 29 de junho) a convite do cineasta Thiago Barreto para assistir o lançamento do seu primeiro longa-metragem, “Ensaio sobre o amor” no Cine Porto. Após houve um coquetel no Anchieta Bar. Fiquei hospedado no Ubatuba Palace Hotel que me tratou com dignidade. Conheci em Ubatuba o senhor João Toledo (relações públicas) do Jornal Agito, que me apresentou o secretário de turismo senhor Maurício e juntos fomos conhecer o maravilhoso teatro que a cidade ganhará em breve. Conheci também um espaço que leva o nome do Clodovil. Agradeço ao Thiago Barreto pelo convite, pelo carinho e estaremos juntos no seu próximo filme, “Aeroponto – o filme”. Não posso esquecer a cordialidade dispensada a mim e a minha equipe, o cineasta Hemerson Celtic e o jornalista Marcelo Rissato, que me acompanharam e fizeram a cobertura do evento. Enfim, obrigado a todo o elenco do filme que estava presente pelo carinho dispensado.
Marcelo: O que você espera para o futuro?
Luiz Gustavo: O futuro é hoje. Então quero “paz”.
Marcelo: O que te deixa mais realizado?
Luiz Gustavo: Teatro + teatro e + teatro. Atuando, escrevendo, dirigindo ou dando aulas.
Marcelo: Você acha o sucesso importante?
Luiz Gustavo: Sim e não. Gosto de andar pelas ruas no anonimato. Gosto de ir a praia, ao cinema, jantar fora, estar com os amigos de forma tranquila. Talvez aos 18 anos eu pensasse diferente.
Marcelo: Defina o Luiz Gustavo em uma frase.
Luiz Gustavo: Um homem em movimento, um pai “apaixonado”.
Marcelo: Luiz, agradeço pela atenção e carinho com o qual se dispôs. Desejo-lhe grande sucesso nessa nova empreitada e que continue colaborando para que o teatro brilhe cada vez mais. Quero que saiba que seu trabalho é fundamental para a cultura brasileira e sem você nosso teatro não teria o mesmo brilho.
Jogo rápido
Uma palavra: Uma palavra? (risos) – Amor
Um sonho: Ir a Pádua em busca de uma família que não conheço
Família: Estrutura
O que mais quero: Saúde
O que não quero: Ingratidão
O que mais gosto em mim: Ter o olhar acolhedor para o meu próximo
Não gosto de: Fofocas, intrigas, mau caratismo
Alegria: Alegria? (dúvidas – mas em seguida a resposta) Meu filho Demian.
Tristeza: Perder em vida as pessoas que foram tão importantes
Um ator: Paulo Autran
Uma atriz: Fernanda Montenegro
Um filme: Em algum lugar do passado
Uma música: “Je sui Malade” com Laura fabian e “La vie en Rose” com Edith Piaf
Uma peça de teatro: “Mary Stuart”, vi com as minhas amigas Xuxa Lopes e Renata Sorrah, com a direção de Gabriel Vilela.