O jornalista Rogério Gentile, em sua coluna desta 5ª feira (9) na Folha de S. Paulo, Mentirinhas de campanha (acesse íntegra aqui), constata:
"A eleição municipal [paulistana] mal começou, (...) mas, mesmo assim, os candidatos já estão completamente desenvoltos, despejando cheques e promessas na praça.
Em um mês de campanha, os quatro principais candidatos à Prefeitura de São Paulo (Serra, Russomanno, Chalita e Haddad) já desembolsaram, oficialmente, quase R$ 15 milhões e fizeram mais de cem promessas.
Serra, por exemplo, prometeu construir mais 217 km de vias para bicicletas (hoje existem 183 km) e um corredor de ônibus na Radial Leste, além de erguer o museu do automóvel, o museu da moda e o museu da canção brasileira.
Haddad não fez por menos.
Disse que vai entregar mil novos leitos hospitalares (hoje atualmente 3.308 na rede municipal), criar o bilhete único mensal e regularizar a situação dos camelôs, além de aumentar a carga horária escolar para sete horas por dia.
É difícil saber o que é efetivamente viável, considerando os custos e a complexidade dos problemas da cidade de São Paulo, e o que não passa da tradicional 'mentirinha de campanha'. Orientado por marqueteiros e pesquisas de opinião, o candidato promete tudo e mais um pouco. Depois de eleito, só então vai olhar o que é possível fazer de verdade".
Elementar, meu caro Gentile.
Mas, os macacos da grande imprensa esquecem de olhar o próprio rabo: se "os quatro principais candidatos" praticam o mais repulsivo clientelismo, por que a mídia não abre eu já nem diria um espaço, mas uma fresta, para os que tratam o eleitor como um verdadeiro cidadão e não como um pobre coitado mendigante de benesses e favores da corte?
Se a política brasileira virou um deserto de ideais e um lodaçal ético, grande parte da culpa cabe à indústria cultural, que tudo faz para dificultar a caminhada de quem se propõe a despertar a consciência dos cidadãos, ao invés de a embotar cada vez mais.
Sim, esses quatro são fiéis expressões do que há de pior na cena política brasileira: do autoritarismo de Serra (que abdicou do seu passado como quem troca de sapatos) ao oportunismo de Chalita e Russomanno (que trocam de partidos e de padrinhos também como quem troca de sapatos), passando pela insignificância de Haddad (inepto até para administrar o Enem e sem fibra para confrontar os homófobos no caso do kit gay).
Mas, há um Carlos Giannazi nesta mesma eleição, com um inatacável passado de lutas e as propostas mais consistentes no presente. O que faz a mídia? Esconde-o, sob o pretexto de está bem abaixo, no ranking das intenções de voto, daqueles que despejam cheques e promessas na praça.
É um círculo vicioso: minimizam-no noticiário por estar atrás nas pesquisas e, ao negar-lhe visibilidade, impedem que o eleitorado o fique conhecendo e possa compará-lo, p. ex., com esses quatro patéticos representantes da velha política (caras novas de nada adiantam quando as práticas continuam arcaicas em sua essência, a única mudança sendo a atual capacidade dos marqueteiros de fabricarem candidaturas populistas sem carisma...).
Lá vai o Brasil, descendo a ladeira. O retrocesso parece não ter fim.
Só nos resta lutarmos contra ele, marchando contra a corrente, do jeito que der, com a cara, a coragem e a certeza de sermos a alternativa ao inferno pamonha para o qual os poderosos e sua indústria cultural arrastam insensivelmente os brasileiros.