‘Cantando o Brasil celeiro do mundo – água no feijão, que chegou mais um’ será o enredo 2013 da Vila

O enredo para o carnaval carioca 2013 da escola de samba Unidos de Vila Isabel será “A Vila canta o Brasil celeiro do mundo – água no feijão, que chegou mais um” de coautoria do compositor e cantor Martinho da Vila, do historiador Alex Varela e da carnavalesca Rosa Magalhães, que é quem o desenvolve. Longa, a sinopse no início incorre em ufanismo quando diz que o trabalho no campo é fruto de muito suor, dedicação e amor, afirmando: “Foi o que permitiu que o Brasil se tornasse um destaque (sic) na agricultura mundial, caminhando a passos largos para a condição de principal (sic) país agrícola do Planeta”. Sambistas, poetas, compositores e cantores da MPB são lembrados. Por exemplo, o sambista e compositor-cantor Jorginho do Império é citado na parte do enredo “Água no feijão que chegou mais um” que vem ser o título de um samba de sua autoria e canto. O poeta Câmara Cascudo é lembrado: “Somos filhos de ‘raças’ cantadeiras e dançarinas”. Já o compositor e poeta Noel Rosa é citado pela obra musical do gênero sertanejo: “Minha viola/Tá chorando com razão/Por causa duma marvada/Que roubou meu coração”. Nesta linha de lembrar o gênero sertanejo diversos compositores e cantores são citados: “Passo por cima das nuvens/Esbarrando no trovão/Danço no meio da chuva/Bem no meio do clarão” que é de Lourival dos Santos e de Priminho.
A dupla sertaneja Lourenço e Lourival tem lembrados os seguintes versos de uma de suas obras musicais: “No recanto onde moro, é uma linda passarela/O carijó canta cedo, bem pertinho da janela/Eu levanto quando bate o sininho da capela/E lá vou pro meu roçado, tendo Deus de sentinela/Tem dia que meu almoço, é um pão com mortadela/Mas lá do meu ranchinho, a mulher e os filhinhos/Tem franguinho na panela”. A dupla sertaneja João Carneiro e Capataz também são lembrados: “Que vidinha simples, que vidinha boa/A boia é sagrado frango e quiabo/Acompanhado de ovo caipira, arroz e feijão/Depois do almoço sem muito esforço/Encosto meu corpo no barracão”.
A dupla sertaneja Joel Marques e Maracaí é lembrada: “Enquanto uns fazem guerra/Trazendo fome e tristeza/Minha luta é com a terra/Pra não faltar pão na mesa”. O poeta Antônio Paulino é citado nestes versos de moda de viola: “Na Fazenda Figueira/O Dego e o seu irmão/Entraro na mata virge/À procura de madera/Pra fazê uma viola/E já fizero a primeira”. Estes versos pertencem à dupla de moda de viola Tião Carreiro e Jesus Belmiro: “Esta viola vermelha/Cor de bandeira de guerra/Cor de sangue de caboclo/Cor de poeira da terra”. Já estes são de Peão Carreiro e Zé Paulo: “O som da viola bateu/No meu peito doeu meu irmão/Assim eu me fiz cantador/Sem nenhum professor”.
O violeiro Carreirinho também é lembrado: “Ai, a viola me conhece/Que eu não posso cantá só/Se eu sozinho canto bem/Em junto canto mio”. Estes versos são do trio Lourival dos Santos, Tião Carreiro e Piraci: “O rio Piracicaba vai jogar água pra fora/Quando a água chegar/Dos olhos de alguém que chora/Pertinho da minha casa/Já formou um lagoa/Com lágrimas dos meus olhos/Por causa de uma pessoa”. A dupla Raul Torres e João Pacífico são lembrados por estes versos: “Eu fiz promessa/ Pra que Deus mandasse chuva/O povo recorre a promessas quando a chuva não vem/Neste caso a promessa foi paga com três pingos/Um, foi o pingo da chuva/Dois caiu do meu oiá”.
A dupla Alvarenga e Ranchinho são lembrados por estes versos: “Canta, canta Bem-te-vi/Pra mim ouvir/Canta, canta sabiá/Pra me consolar”. O violeiro Mário Zan também é lembrado: “Quero ouvir a siriema/Cantar por ti, Iracema/No nosso jardim em flor”. Da dupla de violeiros Anacleto Rosas Júnior e Arlindo Pinto são lembrados estes versos: “Comprei um casco chapeado/Uma baldrana macia/Um colchonilho dos brancos/Pra minha besta rosia/Um peitoral de argolinha/E uma estrela que bria/Fui dá um passeio em Tupã/Só pra vê o que acontecia”. A última das mais famosas e bem-sucedidas das duplas caipiras ou sertanejas lembrada no texto da sinopse do enredo da Vila Isabel é Tunico e Tinoco.
São deles estes versos musicais: “Baile na roça, meu bem, se dança assim/Pego na cintura dela e ela tarraca em mim/E o sanfoneiro toca, toca alegria/Vamo, vamo minha gente até o clarear do dia/Dança, dança com a morena, dança, dança, com a loirinha /Começa o baile na tuia e termina na cozinha/Viva o baile da roça, viva a noite de são João/E o povo brasileiro conservando a tradição”. No enredo 2013 a Vila diz que homenageia o agricultor, celebrando-o e o eternizando enquanto personagem de real valor. Enfim, a viola se junta aos pandeiros, chocalhos, e surdos de 1ª, unindo a cultura do sambista com a do homem do campo em uma festa em um palco iluminado por confetes e serpentinas.
Por fim, Chico Buarque é lembrado em duas obras musicais. Na 1ª delas: “Mulher, você vai gostar/Tô levando uns amigos pra conversar/Eles vão com uma fome que nem me contem/E vão com uma sede de anteontem/E vamos botar água no feijão”. Já na 2ª obra musical: ”São José de Porcelana foi morar/Na matriz da Imaculada Conceição/A Conceição, incomodada/Vai ouvir nossa oração/Nos livrar da seca, da enxurrada/Da estação ruim/Barromeu pedra sabão vai pro altar/Pertence à estrela mãe de Nazaré/A Nazaré vai de jumento/Pro mosteiro de São João/E o evangelista, pra basílica de São José/Se a vida mesmo assim não melhorar/Santo que quiser voltar para casa/Só se for a pé”.

*jornalista – é torcedor da Portela, sendo um dos fundadores do Grêmio Recreativo de Artes Negras e Escola de Samba Quilombo em 1976 e da Sociedade Musical Apóstolo do Samba em 1979.


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