Mais ciclistas, mais acidentes é o título da repulsiva matéria de capa da edição de 11/07/2012 do Diário Oficial do Estado de São Paulo (acesse aqui).
Faz terrorismo barato contra a forma mais saudável de transporte que existe, além de ser a única não poluente viável, já que a utilização de carroças, coches ou riquixás nas vias urbanas é inimaginável nos dias atuais.
A Holanda prova que é possível, sim, humanizar-se o trânsito fazendo a opção preferencial pelas bicicletas, cuja quantidade lá supera o número de habitantes e é duas vezes maior que a de carros. Há quase 30 mil km de ciclovias e uma cultura já bem sedimentada de respeito ao ciclista, de forma que a bicicleta se tornou a forma mais tranquila e segura de locomoção no país. O planeta agradece.
Já o Governo paulista quer mais é enfumaçar as ruas, tornando-as privativas dos veículos poluentes. Então, trombeteia, logo no 1º parágrafo:
"A cada dia, no Estado de São Paulo, nove ciclistas são internados em hospitais públicos, vítimas de acidentes de trânsito. E pelo menos um deles morre. A Secretaria de Estado da Saúde informa que, no ano passado, 3,4 mil pessoas foram internadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) paulista, gerando custo de R$ 3,25 milhões à administração estadual".
O DO não entrevistou nenhuma vítima (ciclista), preferindo ouvir apenas um ortopedista do Hospital das Clínicas, para assustar os leitores com frases alarmistas tipo "muitas vezes, os ciclistas são atingidos por automóveis ou por ônibus, o que torna comum a ocorrência de politraumatismo”.
O tal dr. Jorge dos Santos Silva até que faz o diagnóstico correto, ao atribuir os acidentes à pouca estrutura na cidade de São Paulo para utilização da bicicleta como alternativa de transporte. Mas, ao invés de propor a cura do paciente, prefere agravar a doença:
"Para não colocar a vida de quem pedala em risco, recomendo não usar a bike no trânsito de São Paulo. É uma opção segura de lazer em cidades menores, parques públicos e em ciclovias instaladas na capital, aos domingos".
E por que não criar-se a estrutura necessária, investindo para tornar a bicicleta uma opção segura de transporte nas grandes cidades paulistas, a exemplo do que ocorre nas holandesas, e não apenas de lazer nas cidades menores ou aos domingos?
Respondo eu: porque não é esta a prioridade do Governo estadual. Percebe-se claramente que sua preocupação real, longe de ser com os ciclistas mortos ou feridos, é a que está destacada logo na abertura da matéria: o "custo de R$ 3,25 milhões à administração estadual" que foi gerado em 2011.
Assim caminha a desumanidade.
* jornalista e escritor. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com