Os seguidores do filósofo foram os pitagóricos que organizaram comunidades filosófico-religiosas e constituiram o pitagorismo através da chamada escola itálica ou escola pitagórica. O pitagorismo teve duas tendências. A primeira é a místico-moralista ligada ao orfismo (culto relativo à imortalidade referente ao deuses gregos Dionísio e Orfeu ambos muito citados em enredos carnavalescos) e ao chamanismo. Já a segunda é filosófico-matemática. Isso deveria levar à dedução lógica de que o enredo "Sou Negro, Sou raça, sou Vida... Sou Abolição" não tem a nada a ver com o racialismo (ideologia e ou crença fundamentalistas da existência de ‘raças' na espécie humana) que é do século 21.
Ledo engano. No decorrer da sinopse fica clara a concepção racialista segundo a qual ao ser escravizados e arrancados do Continente Africano, os negros tornaram-se espécies de "pobres coitados" explorados e oprimidos pelos "perversos" invasores mukalas (brancos) europeus, mas, não comercializados pelas próprias elites nativas de negros africanos. Daí porque da existência no mundo inteiro de paternalistas políticas racialistas como no caso do Brasil onde a Lei 12.288/2010 (Estatuto da Igualdade ‘Racial') e as denominadas cotas universitárias ‘raciais' para negros e indígenas são festejadas por movimentos sociais racialistas como os de defesa da causa indígena e movimentos negros.
As políticas racialistas surgiram em 2001 com o nome de Plano Durban porque erigiu da 3ª Conferência Mundial "contra" o Racismo, Discriminação (Étnico) Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, realizada em Duban na África do Sul, evento bancado a peso de ouro pela Organização das Nações Unidas (ONU). Para se idéia sobre a suntuosidade de tal evento mundial realizado em cinco dias, das numerosas delegações internacionais representativas de movimentos sociais, a brasileira contou com maioria de movimentos negros bancados pelo governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Vamos então à sinopse do enredo "Sou Negro, sou Raça, sou Vida... Sou Abolição".
"Nasci em solo escaldante de um sol brilhante... Nasci do ventre de uma mãe que do seu solo vinha a força da minha vida... Nasci nesse solo, cresci e dele arrancado, sem que eu permitisse que arrancassem minhas raízes... Da escuridão de uma caixa não sabia pra onde ía...
Dias se passavam e as dores cresciam... Sentia que cada dia estava mais distante de meu solo amado, da minha raiz fervente e da minha vida livre... Então que chega meu destino... Preso como um animal me fortifiquei com meus deuses e ancestrais... Da minha esperança vinham minhas forças... E um novo mundo foi-me apresentado..." A seguir a continuação.
"Em correntes fui preso, em troncos fui amarrado e a cada dor que em minha pele ardia, sonhava com a vida em minha terra gentil... Em minhas danças e cantos exaltava meus desejos... Como em um transe via o dia em que novamente voaria em um céu infinito... Até o dia em que senti de novo a vida livre... Vi nascer em trilhos o desenvolver de uma outra vida... Pessoas indo e vindo, com suas vidas luxuosas... Reis, rainhas, príncipes e princesas desfilavam nesses ferros...
Com um doce, assim como o mel que me adoçava em meus dias de amargor, passei a contemplar a existência de meus vizinhos... Vi crescer seu comércio... Vi crescer a vida...". A seguir a parte final.
"Viva Santo Antônio, São João e São Pedro em seus arraiás, dancei, em suas igarias matei minha fome... E em suas noites comemorei...
Embalado em ritmo de batucadas, passei dias e noites em versos e prosas... Pelas ruas desfilei no asfalto e como uma ilusão, cantei, dancei e me encantei...
Meu nome nasceu dessa história... Sou Negro, sou Raça... Sou Vida... Sou Abolição!" Esta sinopse é assinada pelo carnavalesco da Acadêmicos da Abolição cujo presidente é Marcos Vinícius, o diretor de carnaval é Jorge Ripper, o diretor de harmonia é Fábio Lima, o diretor musical é Luiz Carlos, o coreógarfo da comissão de frente é Vítor Hugo, mestre sala e porta bandeira são Everton e Thainara Matias, a presidente da velha guarda é Elisabeth, a presidente da ala das baianas é Jane Carla, o intérprete oficial é Anderson Bala e a bateria Feras do Ritmo tem como mestres Jorginho e Fabiano e como rainha Luciana Caramelo.
______________
*jornalista - no RJ foi um dos fundadores do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) em 1975, Grêmio Recreativo de Artes Negras e Escola de Samba Quilombo (1976), Sociedade Apóstolo do Samba (1978), em Macaé foi diretor campeão de relações públicas da escola de samba Princesinha do Atlãntico (1981) é militante e membro da coordenação nacional do Movimento Negro Socialista (MNS).