Neste sábado (16), o Partido Socialismo e Liberdade vai realizar a convenção em que será homologada a candidatura do professor Carlos Giannazi a prefeito de São Paulo e a chapa de candidatos a vereadores, da qual faço parte.
Como todas as decisões foram tomadas nas prévias, o que terá lugar no auditório Franco Montoro da Assembléia Legislativa, a partir das 14 horas, vai ser uma reunião festiva, para a qual todos estão convidados.
Quem me conhece, decerto perguntará: por que me lanço na política oficial, nesta altura da vida? Afinal, estarei completando 62 anos na véspera do 1º turno e, ao contrário das mulheres ansiosas por casar e do José Serra ao tornar-se septuagenário, não escondo idade...
Um motivo é a afinidade com as propostas do PSOL e do Giannazi, a quem conheço desde que em 2006 o procurei, como o deputado estadual mais influente na área da educação, para tentar viabilizar um antigo sonho: o de conseguir que uma escola de SP recebesse o nome do meu amigo de infância, colega de escola e companheiro de militância Eremias Delizoicov, assassinado pela ditadura militar em 1969, aos 18 anos.
Seu corpo ficou tão desfigurado pelas dezenas de disparos que os executores, no primeiro momento, anunciaram a morte do ex-sargento José Araújo Nóbrega.
A equipe do Giannazi bem que tentou, mas a comunidade aceitar algo assim ainda é difícil no Brasil de hoje. Daí, p. ex., ele não ter conseguido que fossem aprovadas na Assembléia suas propostas de dar a vias públicas os nomes de Carlos Lamarca e Carlos Marighella; e, para que uma escola fosse batizada com o de Cazuza, usou o artifício de apresentar como homenageado Agenor de Miranda Araújo Neto, driblando a vigilância dos deputados hostis, que só o conheciam pelo nome artístico.
Nos anos seguintes, várias vezes nos encontramos nas mesmas trincheiras, o Giannazi e eu. Fez com que um artigo meu fosse incluído nas atas da Assembléia, interpelou o governador Geraldo Alckmin a respeito dos elogios à ditadura na página virtual da Rota (bandeira por mim levantada) e, inspirado noutro dos meus textos, conseguiu que fosse instituído em SP o Dia Estadual de Memória dos Mortos e Desaparecidos Políticos.
Tanto quanto eu, o Giannazi é adepto e partícipe das novas formas de luta que cada vez mais se avolumam na era da internet, alimentando a esperança de que voltemos a ver o capitalismo contestado em escala internacional, com as ondas revolucionárias novamente varrendo o mundo.
Por tudo isto, considerei com muito carinho o convite do PSOL para disputar a vereança.
O MACARTISMO QUE NÃO OUSA DIZER SEU NOME
Pesou também o ostracismo a que a indústria cultural tenta me relegar, não só fechando suas tribunas para mim enquanto jornalista profissional, como escondendo minha condição de personagem histórico, sonegando-me o direito de resposta e de apresentar o outro lado em relação a assuntos que me dizem diretamente respeito, omitindo minha participação em lutas importantes, etc. O macartismo, com sua caça às bruxas e suas listas negras, não acabou com McCarthy e Nixon; existe até hoje no Brasil, de forma mais discreta.
A visibilidade que hoje tenho na internet é suficiente em algumas lutas que travo, noutras não. Para dar a contribuição que almejo, no sentido de forjarmos uma esquerda anticapitalista capaz de se tornar uma alternativa de poder no Brasil, preciso ampliar --e muito-- o alcance da minha atuação. Tentarei, portanto, fazer o sistema me engolir.
Vi, ainda, a oportunidade de resgatar velhos e bons valores, como a noção de campo da esquerda. Por força da legislação eleitoral, pertenço a um partido; por coerência com meus ideais, vou defender sempre as bandeiras e posturas anticapitalistas, ao lado de todos os que as defendem e tudo fazendo para estimular a união de forças em torno do objetivo maior de transformarmos a sociedade.
Diferentemente de botequineiros disputando a freguesia do bairro, o que nos importa, como revolucionários, não são os nichos e nacos de poder na sociedade atual, mas sim o uso que, juntos, possamos dar a eles para impulsionarmos as grandes mudanças que são a nossa própria razão de existência política.
Quanto a ser exemplo de honestidade e competência, como alternativa à putrefação exposta diariamente no noticiário, isto não é mérito para um homem de esquerda, mas tão somente, obrigação.
Por último: não tenho recursos financeiros, comitê, apoiadores organizados, experiência em campanhas, nada. Tudo está por ser feito --ou não. Este projeto dependerá inteiramente da adesão e do voluntariado dos companheiros. Espero que ele represente algo para vocês, como significa para mim.
O certo é que, do jeito que der e com quantos contar, vou lutar até o fim, como sempre.
* jornalista, escritor e ex-preso político. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com