Tudo, porque Macaé contou com um movimento sindical ferroviário efervescente e influenciado pelos Partidos Comunistas (PCs). Conforme ensinaram os filósofos Marx (1818-1883) e Engels (1820-1895) assim como os revolucionários russos Lênin (1870-1924) e Trotsky (1879-1940) “A História é a história da luta de classes” e “A luta dos negros contra a opressão no continente africano e diáspora, é específica, estratégica e indissociável da luta de classes”. Ainda sobre isso, o maior exemplo brasileiro de união dos oprimidos (brancos, indígenas e negros) sob a liderança do negro Zumbi foi o Quilombo ou a República Livre e Popular dos Palmares cuja heroica resistência durou até 1695.
Assim, permanece ecoando pelos ares o brado retumbante do sindicalista e líder socialista sul-africano Stephen-Steve Bantu Biko (1946-1977) “Racismo e capitalismo são os dois lados de uma mesma moeda”. Porém, isso não é ouvido pelos movimentos negros em Macaé. Por exemplo, o Movimento Negro Tribo dos Malês desenvolve o projeto “Amigos Para Sempre”, campanha de doação de agasalho feita sob o slogan “Ai, que frio”. Sua presidente é Marilene Ibrahin, prestadora de serviço na prefeitura ligada ao pré-candidato a vereador Alan da Serra. “Tire seu coração do gelo e agasalhe a ideia de retirar do armário agasalhos para ser doados a alguém que esteja precisando”; disse ela.
Travestida de caridade cristã tal eleitoreira campanha é divulgada na imprensa local pela presidente Ibrahin. Segundo ela, o projeto “Amigos Para Sempre” funciona na Praça Veríssimo de Melo, no centro da cidade, de 12 às 17 horas, até o dia 15 de junho. Ibrahin disse que maiores informações podem ser obtidas através de alguns telefones fornecidos, sem que ela esclarecesse tratar-se ou não de indevida e ilegal campanha eleitoral antecipada. O fato é que a presidente e o Movimento Negro Tribo dos Malês ignoram que a ex-escrava e heroína negra Luiza Mahin foi a guru do maior levante de muçulmanos negros africanos escravizados do Estado da Bahia no Século 19, a Revolta dos Malês.
Da mesma forma, o Movimento Negro Tribo dos Malês e sua presidente também ignoram que o poeta negro e abolicionista Luis Gama era filho da heroína negra Luíza Mahin. Sobre sua mãe e heroína, o poeta Luis Gama em seus versos dizia: “Sou filho natural de uma negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luíza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã”. Então, vale dizer, esse movimento negro e sua presidente não dignificam as histórias dos muçulmanos negros escravizados da revoltosa tribo Malês, da heroína negra Luíza Mahin, do filho dela o poeta Luis Gama – enfim, não faz jus sequer a denominar-se Movimento Negro Tribo dos Malês.
Isso, porque a presidente de tal “movimento negro” usa tal denominação para prestar serviços eleitoreiros a um pré-candidato a vereador através de um cargo na prefeitura de uma rica cidade dominada há 35 anos por uma burguesa oligarquia branca e racista. Para se ter ideia disso, ao longo desse tempo, na apartada e discriminatória étnico-racialmente falando estrutura da prefeitura, os negros são relegados à espécie de senzala denominada CORAFRO, a dita coordenadoria de políticas para a promoção de igualdade ‘racial’. Como exceção da regra, o “emprego” da presidente de tal “movimento negro” na Secretaria de Governo é explicado pela ligação dela com o citado pré-candidato a vereador.
*jornalista – é militante e membro da coordenação nacional do Movimento Negro Socialista (MNS).