Se Dilma Rousseff não reagir à altura, a autoridade presidencial ficará em cacos.
Não pode mais, de jeito nenhum, transigir com as manobras dos militares empenhados em esconder os podres da ditadura de 1964/85, depois que a Folha de S. Paulo, na edição desta 3ª feira (12), expôs publicamente tais manobras.
É simplesmente estarrecedor o relato do repórter Rubens Valente, da sucursal de Brasília! Eis os trechos principais:
"Dias antes da entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação, o Ministério da Defesa recorreu a brechas legais para ampliar o segredo sobre documentos militares, o que pode prorrogar em até 15 anos o prazo para que eles venham a público.
A nova lei, que criou regras detalhadas para que os cidadãos tenham acesso a dados públicos, entrou em vigor no último dia 16.
Pouco antes, porém, o ministério usou um antigo decreto, que a pasta sabia que seria substituído pela nova norma, e elevou o grau de sigilo de inúmeros documentos 'confidenciais'.
Pelas regras que caducaram no dia 16, os documentos 'confidenciais' tinham sigilo de dez anos.
Com a Lei de Acesso, esses papéis teriam que ser reclassificados, já que não há mais documentos 'confidenciais', apenas 'reservados' (cinco anos de sigilo), 'secretos' (15 anos) e 'ultrassecretos' (25 anos, renováveis por igual tempo).
Em vez de torná-los 'reservados' ou liberá-los, o ministério transformou-os todos em 'secretos'. Com isso, eles poderão ficar inacessíveis ao público por mais 15 anos. ...
A Folha apurou com um oficial que atuou na aplicação das medidas que elas atingiram todos os setores que produzem documentos sigilosos.
Segundo o oficial, ao final de 'um mutirão' a maioria dos documentos então considerada 'confidencial' foi tornada 'secreta', e o restante foi liberado".
Saltava aos olhos que os militares vinham brincando de esconde-esconde no Araguaia, tudo fazendo para não serem encontrados os restos mortais dos guerrilheiros por eles executados. Mas, os que tinham o dever de darem um fim à comédia preferiram o caminho fácil da omissão.
Agora, no entanto, não há mais como fazer vistas grossas. Ou Dilma Rouseff é a comandante suprema das Forças Armadas, conforme está na Constituição Federal, ou não passa de títere dos militares.
A Anistia Internacional considerou que, em seu primeiro ano de governo, ela foi uma "decepção" em termos de direitos humanos.
Vai piorar ainda mais se engolir este desafio dos fardados. Aí, em vez de decepção, caberá falarmos em avacalhação e capitulação...
* jornalista e escritor. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com