OLHAR

De vez em quando é preciso olhar para nós próprios. Eu costumo fazer isso, no entanto, vezes demais. Quase que isto não se entende. Há muito que compreendi que o ponto certo das coisas é o equilíbrio, "o balance" que evidentemente não quer dizer balanço. E na verdade o problema ou parte dele, parece residir aqui. De fato, no meu processo introspectivo que é quase diário, costumo fazer balanços repetidos com intervalos reduzidos. Um erro que já me parece um vício autopunitivo com ares incontornáveis.
Os balanços têm uma periodicidade para acontecer, veja-se que as empresas fazem balanços anuais, embora também possam realizar uns trimestrais. O que eu quero dizer é que há momentos estipulados para passar a pente fino do que está pra trás, com os olhos postos pra frente. Os balanços servem para medir as atuações em termos de valor, pretende-se compreender o quadro atual que nunca é perfeito. Tomam-se medidas para abrandar danos e corrigir. Os balanços são datados para serem suprimidos quando os problemas estão resolvidos, trata-se de avançar. O próximo balanço já deverá ter informações diferentes. Assim, sobe-se um degrau, anda-se para a frente. Na normalidade das coisas nenhuma empresa considera hoje por exemplo, um balanço de 1980.
É certo que as pessoas não são empresas, mas os princípios básicos de conduta são da vida e por isso podem se aplicar a tudo. Por isso a comparação que estou fazendo, comparo para dizer que é desaconselhável fazer balanços todos os dias. Não há informação nova para tratar, não houve tempo para andar. Quem olha para dentro de si vezes demais tende a fazer balanços intempestivos, ou seja, em última análise, a viver emocionalmente no passado. Ganhei este hábito que não tinha de ser demasiado introspectiva, logo muito viciosamente "balanceada". De vez em quando é doloroso e quando não é, cansa-me, e depois confunde-me e a seguir angustia-me. Concluo assim que tenho de me livrar deste hábito que criei um dia.
Um dia a introspecção decidiu tudo e me salvou a vida. Tinha vinte e tantos anos num momento de dor sem saber o que pensar para me orientar e tomar decisões. Precisei me conhecer e a dor veio por não saber exatamente que rumo seria absolutamente necessário tomar. Passam-se coisas que não deveriam passar com jovens mulheres de 20 e tantos anos. Não sei se é azar ou tendência para o abismo, talvez seja uma coisa natural da idade................. a arrogância típica dos tempos ingénuos, mas sempre otimistas de sorriso posto sem forçar.
O ponto está que cada pessoa tem fragilidades que podem ser fatais. Há sempre um lugar concreto onde nos podem meter a mão e apertar. E se metem, é como um desmoronamento acontecendo e a boa notícia é que é possível sobreviver. Ao contrário dos edifícios que uma vez no chão, se esfumam para sempre, lembro o WTC (World Trade Center), ele é um bom exemplo. De qualquer forma, a sensação aqui é mais de esmagamento, por isso a imagem não foi a ideal, podia ter mencionado um rolo compressor e seus efeitos.
Com vinte e tantos anos, percorri caminhos que nem hoje estaria em condições de percorrer. No entanto, é uma pena que os desafios inerentes não tenham sido colocados agora. Hoje não sorriria cheia de otimismo e satisfação. E numa de Cântico Negro diria com espírito vingativo assumido: "não, não vou por aí". De qualquer modo fiz aqui o meu primeiro trabalho de introspecção. Lembro-me de alguns momentos do processo em que tentava desesperadamente chegar a mim. A confusão emocional estava instalada e eu só queria encontrar o fio da meada - encontrei - então foi preciso desembaraçar. Depois havia nós apertados e tive que desfazê-los. No fim verifiquei que fiz um bom trabalho, ao término de 1 ano de angústia, já não era a mesma. Mas estes resultados não abrangiam todos os aspectos do meu ser e por isso não se aplicavam a todas as áreas da vida. Não fiquei completa, apenas muito segura em partes e certa sobre as questões trabalhadas. O tempo foi passando, e de novo a vida ia naturalmente apresentando questões novas, independente da dimensão real que tinham, assumiam uma proporção emocional desadequada e passei a viver muito confusa.
E ainda hoje posso me sentir assim, daí que não paro de olhar para mim mesma vezes de mais, nos termos que enunciei. É o medo que fica, o estado de alerta que não nos larga. E lá vem o recurso à introspecção - sempre - e o balanço que é feito no processo. Questão: "Será que o fato de estar longe, passando pouco tempo conversando com as pessoas está gerando uma onda de distanciamento, de esquecimento contra mim?" Pra que paro eu pensando nisto? Não me basta ser quem sou, sabendo eu de mim? Parece que não! Aparentemente devo estar preparada para tudo, designadamente para catástrofes. O que o meu organismo reativo não consegue aceitar é que as catástrofes sucedem sem razões razoáveis e raramente podem ser previstas, sendo ainda certo que, nos casos em que podem, não há nada a fazer. Acresce ainda que as estatísticas funcionam em desfavor das catástrofes. Sendo assim, tenho de alterar a minha maneira catastrófica de encarar a normalidade das coisas da vida e parar um "cadinho" de pensar pra dentro porque tenho os sinais de alerta muito sensibilizados. Tenho que encontrar "o balance" para a introspecção e se digo isto é porque percebo, e se percebo é porque já sou capaz. Parece até que comprei uns óculos novos - EU - Não, não sou tão egocêntrica assim, definitivamente não!
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